Alguns jogos podem levar dezenas de horas para completar a campanha principal, fora missões paralelas de jogos como The Witcher ou Skyrim que elevam a experiência para mais de 100 horas facilmente. Esse tipo de jogo realmente tem muito conteúdo, então a demora em finalizá-lo depende da progressão como um todo.
Porém quando o tempo para finalizar o jogo depende única e exclusivamente do intelecto do jogador, a coisa muda bastante de figura. É o caso de Twelve Minutes, desenvolvido por Luis Antonio e Annapurna Interactive. O jogo independente de mistério vai fazer seu cérebro “derreter” imaginando a saída de toda aquela situação.
A situação? Bem, você (o protagonista) está preso em um looping temporal ao entrar em seu minúsculo apartamento chegando do trabalho. Você cumprimenta sua esposa, ela diz que tem uma surpresa, você interage conforme as opções vão aparecendo (não quero estragar a surpresa dela) e, logo depois de uns cinco minutos, um policial bate à porta, rende o casal, acusa a mulher por um crime, pede um item específico e o estrangula.
Preciso “abrir um parênteses” aqui. Nenhum dos três personagens de Twelve Minutes têm seus nomes revelados, portanto vou chamá-los pelos nomes dos atores hollywoodianos que emprestam suas vozes. O protagonista é interpretado por James McAvoy (Vidro), sua esposa tem voz de Daisy Ridley (trilogia atual de Star Wars) e Willem Dafoe (o Duende Verde do filme do Homem-Aranha) no papel do policial.
Here we go again
Depois de toda essa situação inicial, McAvoy volta no tempo, surpreso e sem entender nada, para reviver o momento. Aqui é onde começa o jogo de verdade. A partir de agora, você precisará fazer de tudo para que a vida continue depois de 10 minutos. Sim, apesar do nome do jogo sugerir 12 minutos, esses dois minutos são, digamos, um extra em uma situação específica.
As possibilidades de “forçar” situações diferentes são diversas e a cada tentativa, mais diálogos novos vão acontecer, levando para mais situações diferentes. Uma das coisas mais interessantes no jogo é o crescimento do protagonista ao repetir várias vezes as mesmas situações. No começo ele tem muita dúvida e espanto, logo se acostuma com a situação bizarra em que se encontra.
O looping reinicia, como dito antes, depois de 10 minutos, ou se o protagonista sofrer algum dano como apanhar do policial, levar um choque, sair pela porta do apartamento ou se matar. Se em uma das tentativas (podemos chamar de “run”) você perceber que vai falhar, pode forçar o início de uma próxima.
Durante uma run, é possível ter várias interações com objetos, além de conversar com a esposa Ridley. Já a interação com Dafoe é mínima e as poucas chances de conversar com ele requerem alguns passos bem precisos dentro dos 10 minutos.
Um filme interativo com vozes conhecidas
A dublagem é bem convincente. Não tem como esperar menos de atores experientes e talentosos como esse trio. Porém alguns momentos de diálogos me incomodaram. Tem mais a ver com a edição (pós produção) no encaixe das vozes, além de tom de voz que não condiz com a situação, por exemplo uma mudança abrupta na voz de uma linha de diálogo para outra. Nesse caso, seria um problema de direção de atuação mesmo.
A jogabilidade é muito simples. O jogo é um point n’ click, então se você jogar no PC, escolha por jogar com o mouse que é muito mais eficiente que o controle. Clicando nos objetos, McAvoy interage com eles. No canto superior da tela fica o inventário com os itens que vai pegando e ficam com você só durante aquela run. Ao pausar, você vê o relógio e quantos minutos faltam para a situação recomeçar.
Em termos gráficos, tudo é simples e acredito que está dentro da proposta do jogo, que é bastante leve para rodar no PC (plataforma em que joguei). A movimentação dos personagens é bem travada: não chega a estragar a experiência, mas é um tanto esquisito. Você verá McAvoy e Ridley atravessando os corpos um do outro com bastante frequência.
Sua inteligência em xeque
O quesito técnico é o menos importante em Twelve Minutes. O game poderia ser mais simples ainda se a proposta dos quebra-cabeças se mantivessem, além da dublagem e atuação, os dois juntos são o foco do jogo. Resolver toda a situação é um desafio muito inteligente e vai exigir bastante do jogador.
O game tem vários pequenos finais, que são desfechos exclusivos de determinadas run. Situações de conforto, outras de desespero lhe aguardam, dependendo de suas escolhas. Existe um final que vai levá-lo para os dois minutos extras que mencionei antes. Nesse momento acontece a reviravolta da história, que vai dar um nó no seu cérebro.
Lembra que mencionei sobre o tempo do jogo no início dessa review? Então, Twelve Minutes é um jogo que pode durar menos de duas horas, mas pode passar fácil das 10 horas e depende, de novo, única e exclusivamente da capacidade intelectual do jogador. Eu? Bem, quase bati seis horas de jogatina. Porém, de acordo com a lista de conquistas, teria bastante coisa ainda para fazer caso quisesse ampliar mais as possibilidades.
Se você quer fugir das propostas convencionais da grande maioria dos jogos da indústria, jogue Twelve Minutes. O game está disponível para PC através da Steam e Windows Store, Xbox One e Xbox Series X|S, além de estar no Game Pass para computador e consoles. Hideo Kojima, que dispensa apresentações, parece estar curtindo bastante o jogo.