Durante sua campanha no Kickstarter, Tower 57 foi vendido primeiramente como uma releitura dos clássicos de ação do Amiga, e à primeira vista o pixel art combinado com a música pseudo-chiptune só reforça essa ideia. É uma pena ver um jogo tão interessante reduzido a um conceito tão barato. Por mais que as aspirações retrô funcionem mais a favor do que contra, Tower 57 se tornou uma experiência quase obrigatória pelo que ele ousa fazer diferente, não pelas suas influências.
Um exemplo é o sistema de vida. Há seis personagens, cada um com equipamentos e estilo de jogo únicos. Você monta o seu time com três deles e a sacada é que cada um representa uma vida sua. Ao morrer com um você renasce com o próximo da fila, e de novo até dar “game over” – entre aspas porque você não volta lá do começo, como acontece com os jogos realmente retrôs, só reaparece no último save point. Além de permitir que você molde o jogo ao seu estilo esse sistema também pede um pensamento estratégico do jogador, em especial quando ele morreu algumas vezes e já conhece os nuances da fase atual.
Outro exemplo, não tão fundamental mas ainda mais subversivo: na sociedade futurista que serve de cenário ao jogo a biotecnologia chegou ao ponto onde membros biônicos podem ser comprados em máquinas automáticas, como aquelas de refrigerante. Mecanicamente isso se traduz em upgrades, sendo possível aumentar dano, vida e outros atributos do seu personagem. Mas o mais bacana é que você pode perder membros do corpo durante o combate. Quando isso acontece você tem que se arrastar praticamente indefeso até a máquina mais próxima para se recuperar. Ao invés de simplesmente perder uma vida (ou, no caso, um personagem) e ter que repetir a mesma seção tudo de novo você é colocado em uma situação dificílima que gera momentos extremamente tensos, o que é uma sacada incrível.
Ninguém é perfeito
O gameplay não vem sem a sua cota de problemas, sendo o maior deles o espaçamento estranho entre checkpoints. Esse é um ponto onde as influências mais machucam do que ajudam. Apesar de nunca ter que voltar do começo, você ainda precisa refazer grandes porções das fases ao perder todas as vidas, e esse problema só piora com o decorrer do jogo. Mais cedo do que tarde isso se torna extremamente maçante, para dizer o mínimo.
Às vezes, o combate também parece vazio. Na maior parte do tempo Tower 57 troca o frenesi dos bullet hell por um ritmo mais deliberado, com gameplay emergente e seções que recompensam uma atitude mais stealth do que Rambo. O problema é que o combate, mesmo contra chefões enormes, nunca realmente empolga. Parece que falta algo, como se essa implementação do combate pedisse um jogo mais ágil, que exija mais reflexo do jogador. Você ganha habilidades que só para o final do jogo são realmente exploradas; é quase como se as mecânicas de movimento do Mirror’s Edge fossem parte de um jogo como Gone Home.
Uma história que merece ser contada
Porém há uma ótima razão para se relevar qualquer infelicidade no gameplay: a história e a atmosfera do jogo são encantadoras. Para padrões do gênero, Tower 57 passa bastante tempo trabalhando esses aspectos, e eu senti que ele poderia ter levado muito mais – é questão de dar espaço para o que o jogo tem de melhor realmente brilhar. Mas isso é mais sinal do quão boa foi a minha impressão do que qualquer outra coisa.
Não sou fã de spoilers e não quero estragar a experiência de ninguém, então vou fornecer a menor quantidade de informação possível na esperança de fisgar algum fã do gênero. Em um futuro distópico a humanidade vive confinada a torres-metrópoles onde o capitalismo se tornou sinônimo de sociedade, e a missão do time de espionagem que você controla é chegar ao topo desse prédio. Apesar da proposta distópica a história se desenrola com um tom leve e criativo, que faz piadas com cada ideia divertidamente absurda sem deixar de ser complexa e profunda ao mesmo tempo, com reflexões sobre a sociedade atual e plot twists dignos de Metal Gear Solid.
Eu vejo basicamente qualquer pessoa se encantando com esse universo, e é notável como o visual quase-16 bits steampunk combina de uma forma natural com as ideias da história. A junção do antigo com o novo, do familiar com o alien é um tema decorrente em Tower 57. Eu só não vejo todo mundo tão atraído ao combate, ao que você faz quando não está lendo terminais ou falando com NPCs (apesar do gameplay ter sim seus encantos). Mas se nem toda obra consegue ser perfeita, a segunda melhor coisa é uma tão boa que faz você mal perceber suas falhas. No final das contas, eu fico realmente feliz que jogos como Tower 57 existam.
Prós:
🔺 História e universos fantásticos
🔺 Pixel art belíssimo
🔺 Ideias criativas no gameplay
Contras:
🔻 Combate não empolga na maior parte do tempo
Ficha Técnica:
Lançamento: 16/11/17
Desenvolvedora: Pixwerk
Distribuidora: 11 bit studios
Plataformas: PC