Sou um ciclista amador e como tal gosto de dar minhas pedaladas pelas cidades e estradas da minha região, além de acompanhar as várias provas que acontecem mundo afora. Para quem não está acostumado com o esporte, o ciclismo de estrada pode ser bem chato de se assistir – até pra mim é – então como será que Tour de France 2018, que simula a maior e mais dura competição, se sai tentando evitar o tédio e trazendo o Tour de France para as mãos de quem está jogando?
A resposta pode depender muito de quem joga – do grau de conhecimento que a pessoa tem a respeito do ciclismo, suas nuances, estratégias e de quanto de paciência tem para disputar as longas etapas. Quem sabe no final você não consegue destronar Chris Froome, o atual grande vencedor da prova, com quatro títulos nos últimos cinco anos.
Grand Départ
A edição do Tour de France deste ano começou no último sábado, com 176 ciclistas que percorrerão o país em 21 etapas, totalizando mais de 3.300km pedalando por paisagens das mais variadas, desde pequenas cidades, castelos até altas montanhas. No final, o ciclista com o melhor tempo fica com o título e leva a famosa camisa amarela para casa.
E é exatamente por isso que digo que é preciso paciência para jogar este game. Imagina ficar na frente da TV controlando seu ciclista em uma etapa que pode chegar a 200km, identificando o momento certo de atacar ou de se poupar, quando repor energias e orientar seus companheiros de equipe? Pois é, não é nada simples e as opções são inúmeras.
A simulação busca ser a mais fiel possível. A estratégia é muito importante e decisiva para o resultado final e você precisa escolher se vai atacar logo no início para ganhar terreno e depois tentar administrar, além de saber o momento correto de se alimentar e quando tentar deixar para trás seus adversários nas montanhas. Enfim, tudo que os profissionais fazem no dia a dia das provas.
Mas realmente é necessário percorrer todas essas distâncias? Não, não é. Você pode optar por avançar no tempo durante a pedalada ou mesmo simular um estágio inteiro desses, o problema é que nesses casos vai ter que confiar na inteligência artificial, que aqui é bem burrinha e frustrante. Seu ciclista pode acabar muito bem colocado ou parar lá no final, a IA por várias vezes simplesmente ignora o que você planejou e faz o que bem entender, independente de como você organizou sua tática.
Todos por um!
Existe uma famosa frase no mundo dos esportes que diz o seguinte: o ciclismo é o esporte individual mais coletivo que existe. Isso acontece porque sem uma boa equipe o acompanhando é muito difícil para um ciclista sair vitorioso em uma dessas provas, especialmente as com grandes voltas (como são conhecidos o Giro d’Italia a Vuelta a España e o Tour de France). No jogo isso não é diferente e por muitas vezes precisamos do apoio dos companheiros, seja para te proteger no meio do pelotão ou para ficar na sua frente em uma fuga, cortando o vento e deixando com que você poupe energia.
Justamente aqui estão as minhas maiores reclamações a respeito do game e, novamente, dizem respeito a IA. Se você escolher pelo modo principal e correr junto com seu time, será preciso gerenciar tudo que fazem, como falei acima.
Uma das formas é deixar que a IA decida por você, o que é uma péssima idéia, ou então controlar as ações de cada um. No momento em que acessamos o menu de ações, a jogatina é pausada e é possível escolher cada um dos seus companheiros e dar uma ordem, que pode ser atacar na frente do pelotão, proteger o capitão ou mesmo se alimentar. O problema é que algumas vezes eles simplesmente ignoram a ordem ou fazem de forma errada, o que é bastante irritante.
Outro detalhe que me causou estranheza é a impossibilidade de pedalar ao mesmo tempo em que se alimenta para repor nutrientes. Se resolver ingerir aquele gel maroto que está em seu bolso, o ciclista simplesmente para de pedalar, perdendo velocidade e se distanciando de quem está à sua volta – até agora não entendi a razão dessa escolha.
Nem tudo se resume ao Tour
Novamente desenvolvido pelo Cyanide Studio, Tour de France 2018 tem a missão de simular perfeitamente como é o mundo do ciclismo e para isso não traz somente a prova mais famosa, como também os chamados eventos de 1 dia, contando com provas clássicas como a incrível Parix-Roubaix. Outra opção é chutar o pau da barraca e tentar levar toda a glória no modo carreira, criando seu ciclista, percorrendo provas e fazendo que com cresça profissionalmente – sem doping, é claro.
Por ser um título que possui licenças oficiais, estão presentes todas as equipes profissionais que participam do Tour com seus respectivos ciclistas. Se os uniformes estão perfeitamente representados, o mesmo não posso dizer dos ciclistas. Os rostos são completamente genéricos, todos iguais uns aos outros. Não existe desculpa para essa falha, principalmente com vários outros games de esporte que representam fielmente cada jogador.
Visualmente o game não é um primor, na verdade está longe disso, mas não significa que não existe espaço para elogios. As paisagens do interior da França estão bem detalhadas, mesmo sem muito polimento, e é de se admirar que consigam reproduzir o pelotão inteiro sem queda na taxa de quadros.
Tour de France 2018 é na verdade um título de nicho, voltado para os aficionados pelo ciclismo profissional e podendo espantar quem é novo na modalidade. No final do dia, mesmo com todas as opções de simulação e possibilidades de jogabilidade, o pacote falha em entregar algo pelo que realmente valha a pena ficar horas na frente da TV.