Tohou: New World, novo trabalho da Ankake Spa, me levou para um mundo que eu não sabia existir. Ao adentrar o Touhou Project percebi que este lançamento nos leva para o universo de jogos indies japoneses e que só chega até nós através do trabalho de distribuição da XSEED Games e Marvelous USA, Inc.
Fruto do trabalho de um único desenvolvedor, conhecido como ZUN e que atua como designer, desenvolvedor, compositor e roteirista, esse danmaku (ou bullet hell para os ocidentais) com elementos de RPG chega com a difícil missão de agradar um público muito nichado e preencher o vácuo de jogos deste gênero.
A eterna lutra contra youkais
Para começar nossa jornada em Touhou: New World, precisamos escolher entre a sacerdotisa Reimu Hakurei e a maga humana Marisa Kirisame. Habitantes do reino mágico de Gensokyo, ambas fazem parte do Santuário Hakurei e mantém o equilíbrio da Barreira Hakurei, que protege o mundo dos humanos (conhecido como Outside World) dos ameaçadores youkais.
No entanto ao conhecermos Sumireko Usami, uma humana com poderes psíquicos e obcecada por toda a magia de Gensokyo, descobrimos que transitar entre esses mundos acaba sendo algo possível e muitos incidentes começam a acontecer, inclusive com nossa protagonista perdendo seus poderes.
Com uma história bem interessante, nós acompanhamos diversos elementos de mitos e folclore japonês, inclusive na ambientação criada para Gensokyo, que parece um Japão Feudal. Mesmo que o final seja bem clichê, a revelação das motivações e quem está por trás do mistério envolvendo Sumireko e Yukari Yakumo, uma youkai das fronteiras, acaba sendo muito bem construído.
Pesquisando mais sobre a série, a construção narrativa ao redor dos Lunarianos e a Lua Falsa, fazendo referência até ao mito de Tsukuyomi, Touhou: New World tem ligações com acontecimentos anteriores e serve como uma excelente porta de entrada para você buscar os mais de 20 jogos e outras 20 obras escritas. Realmente o Touhou Project é algo imenso, mas pouco difundido no Ocidente por se tratar de produções independentes e inclusive com material criado por fãs.
A construção de mundo é brilhante e a imersão criada por todas as localizações que visitamos acaba complementando a jornada das personagens. Para você ter ideia de como esse bullet hell vai além do estilo de gameplay, a construção desse universo acompanha sempre um background como, por exemplo, a criação de Gensokyo, que originalmente era uma região desolada e assombrada do Japão há eras atrás e, após uma longa batalha entre humanos e youkai, acaba sendo selada do nosso mundo com a criação da Barreira Hakurei.
Chuva de projéteis e… Cacarecos?
Assim como a construção de mundo é um dos pontos altos de Touhou: New World, os personagens aparecem aos montes e complementam muito a história que é contada, além de serem os responsáveis por movimentarem e motivarem os acontecimentos. Inclusive com grande influência na caracterização do gênero bullet hell, deixando de lado apenas projéteis para adicionar itens.
Parece confuso, mas faz todo sentido! Sumireko ataca lançando diversos itens mundanos dos humanos como, por exemplo, caixas, lixo, sacos, eletrônicos, etc. Quando vemos o ataque de Reimu temos selos xintoístas, enquanto em Marisa vemos círculos mágicos. Isso sem contar os inimigos que disparam todo tipo de ataque, de pedras e cogumelos até livros e trens.
Ao controlarmos Reimu ou Marisa, nós temos quatro opções de habilidades para ataque atribuídas aos botões L1, R1, quadrado e círculo, dentre eles um ataque sendo o básico e outros mais poderosos, que exigem tempo de recarga entre um uso e outro. Além dos ataques, você também tem a opção de recuperar seu HP, com uma cura recarregável.
A diversão está na dinâmica do gameplay, em que você precisará não apenas atacar, mas também saber como escapar dos ataques inimigos. Alguns projéteis poderão ser defendidos com o seu escudo mágico, inclusive com a opção de realizar uma defesa perfeita para deixar tudo em câmera lenta e atacar freneticamente. No entanto alguns ataques são indefensáveis, exigindo que você salte por cima ou para longe do alcance.
Durante o jogo, você encontrará diversos acessórios e armas para equipar, além de recolher ouro e pedras para fortalecer Reimu e Marisa. A quantidade de loot aleatório é absurda e você pausará diversas vezes para testar qual o melhor equipamento conforme a fase ou tipo de inimigo. Esses elementos de RPG engrandecem ainda mais a proposta desse bullet hell, fugindo do básico e convencional.
Vendo o Mundo por outro ângulo
Touhou: New World possui um mapa para você explorar, visitando localidades com missões principais e secundárias, que vão apresentar sempre um personagem em perigo ou inimigo para fazer a história andar. Ao escolhermos nosso destino, o jogo nos transporta para uma cenário que deverá ser explorado até alcançarmos o chefão, na grande maioria das vezes são fases com visão isométrica e em poucas fases com vista lateral, inclusive adicionando elementos de plataforma.
As batalhas, sejam os encontros com inimigos pelo cenário ou chefes, acontecem em arenas circulares e que delimitam as ações ou alcance dos golpes, não interferindo com os demais elementos pelo cenário. Alguns inimigos, principalmente os maiores, estão em arenas que circundam o seu corpo, colocando o alvo no meio e fazendo você girar em torno dele.
Por mais repetitivo que seja, contando com quase 20 fases para concluir a história e conteúdo pós-jogo, além de ter um aspecto de jogo da geração PS3, Touhou: New World entrega um bullet hell interessante, com excelente história e personagens muito carismáticos.
O visual é simples, mas criativo e com muitas referências culturais, a movimentação durante o combate pode estranhar num primeiro momento pela velocidade e “falta de gravidade”, porém tudo é muito bem executado e caracterizado, com uma trilha sonora que é realmente agradável, ajudando na quebra da mesmice entre as fases.
Os elementos de RPG, que são simples e está lá para justificar o upscaling nos status, a diversidade de habilidades e a busca sempre por um loot melhor mantém a motivação do jogador.
Tudo tem um equilíbrio muito bem pensado, inclusive na dificuldade do jogo, por mais que seja um bullet hell. Acredito que seja uma boa escolha para quem quer conhecer o Touhou Project ou até mesmo entrar para o maravilhoso mundo dos Danmaku!