Quando ouvi falar de Tormented Souls pela primeira vez, meu olho já brilhou. Ele carrega a ideia de renascer os tempos áureos de Resident Evil e Silent Hill, com o mesmo estilo de survival horror e com uma aventura macabra demais para ser ignorada. É notável as inúmeras inspirações que compuseram aquela época, trazendo uma experiência que chega a ser nostálgica e problemática ao mesmo tempo.
Caroline Walker vive seus dias tranquilos em sua casa até receber uma correspondência com a foto de duas crianças gêmeas. A partir daí, sua mente começa a ficar conturbada e a leva diretamente para um hospital abandonado no meio do nada. Ou, melhor dizendo, supostamente abandonado. Forças sombrias se escondem por lá e cabe a ela desvendar o mistério de quem são as meninas e como sobreviver aos perigos que estão na escuridão.
Quando você toma o controle dela, é impossível não se lembrar dos antigos games da Capcom e da Konami. Isso incluindo o falecido Dino Crisis também. Com a movimentação travada, munição e itens de cura escassos e uma infinidade de puzzles para completar antes de prosseguir, cabe ao jogador encontrar uma forma de fazer tudo isso dar certo enquanto é atacado pelos monstros que aparecem em seu caminho.
Os sustos de Tormented Souls
Meus caros leitores, é justamente neste trecho de Tormented Souls que a coisa fica complicada. Para o lado bom, lógico. Queria desejar os parabéns à equipe da Dual Effect, porque a ambientação realmente dá medo e te faz questionar cada caminho tomado. De coisas simples, como uma boneca que se mexe sozinha sem representar perigo até seres mutantes em cadeiras de rodas, você estará 100% alerta enquanto explora o lugar e isso me pegou demais.
Citando apenas um dos elementos, sem entregar spoilers, eu tinha acabado de sair de uma dimensão espelhada que me deu a ferramenta que precisava para completar minha missão. Enfrentei alguns mutantes, saí com pouco HP e estava precisando de itens para me recuperar. Quando abri uma das portas, ela se fechou e eu parei por um instante, o choque: um grito feminino com todo o desespero ecoou por todo o corredor onde eu estava. Juro para vocês que fiquei no mínimo uns dois minutos parado pensando se tentava descobrir o que era ou se deixava quieto.
Em muitas vezes você vai apenas dar uma pausa, largar o controle um pouco, olhar para a tela e pensar “e agora?”. Neste ponto, isso é excelente e eles conquistaram justamente a atenção pelo cenário sombrio e por me oferecer essa experiência única. Resident Evil Village, por exemplo, me deu outros tipos de temores. Em Tormented Souls eu sabia que a ação não iria me salvar. Porém, sim a capacidade de sobreviver ao meio da pressão.
Com minha performance à parte, em algumas tarefas eu me saí de forma excelente. Em outras, capenguei bastante para ultrapassar os limites daquilo que foi oferecido. Não me sentia desafiado assim a um bom tempo e acredito que o trabalho dos desenvolvedores foi extremamente apurado e me fez sentir novamente como uma criança na frente do meu PlayStation antigo.
Se lembram daquele tempo onde você avançava pelos corredores na maior cautela possível, entrava nas salas já com a arma apontada para qualquer direção e o mínimo barulho diferente saindo da tela te fazia questionar se tomou a decisão correta? É exatamente esta a sensação que eu tive conforme jogava e recomendo demais se você tem a intenção justamente de reviver estes sentimentos. Os saudosistas vão amar.
Uma ideia que saiu um pouco errada
Com o perdão da palavra, o que me deixou um pouco atormentado com Tormented Souls foi algumas escolhas da produção que são muito banais. Digo banal porque não me parece ter uma razão sólida para aquilo, mais se assemelha a algo que alguém decidiu que seria daquele jeito e nenhum outro membro foi contra. O primeiro é a escuridão. Logo no início você ganha um isqueiro que pode iluminar alguns lugares, muito bacana e ajuda muito. Porém, se você não estiver com ele equipado, pode esquecer o avanço do jogo. Até dão uma justificativa para isso, mas sabe quando você vê algo e aquilo mais parece uma decisão equivocada?
Não é por conta da sua falta de visibilidade ou qualquer outra razão palpável. O game simplesmente te mata se você ficar muito tempo nas sombras e você que lute para entender alguma coisa. Seria extremamente mais simples me deixar lá sem ver nada igual um idiota tentando voltar para algum local iluminado do que me cortar da experiência, principalmente por terem tão poucos itens de salvamento. Se você cai em algum canto por acidente assim e não liga ela a tempo, pode ser o adeus fácil de 1 a 2h de progresso ali.
Eu não reclamo de nenhuma das vezes que morri por burrice, seja por ter gastado toda minha munição em algum mutante e tivessem mais naquela área ou por estar com pouca vida tentando correr de alguns inimigos que cospem ácido à distância. Acontece, super comum. Mas poxa, perder a vida só por estar no escuro me desconcertou totalmente daquilo que achei justo dentro da proposta.
Isso porque nem vou falar muito sobre a obsessão em mostrar o corpo de Caroline em toda a oportunidade que surge de Tormented Souls. Em menos de 5 minutos do início a mulher já está completamente nua com tudo na frente da tela. Há uma razão para aquilo, obviamente…mas sabe quando você percebe que se esforçam demais para mostrar as coisas que nem precisavam naquele momento? Então, é bem assim. O design dela já favorece a objetificação, porém o foco que dão em certas cenas mostram que talvez seja uma das intenções e isso me faz estranhar um pouco o que está lá.
Vamos combinar, por mostrar corpos sensuais tivemos por muito tempo Claire Redfield, Jill Valentine, Heather Mason e várias outras que alimentaram a mente do público no gênero Survival Horror. Porém, nenhuma precisava escancarar as particularidades das moças de forma tão aberta. Compreendo a coragem de querer chamar a atenção pelo impacto, mas acredito que existam outras formas de se fazer isso.
Na parte onde toca a experiência como era antigamente, Tormented Souls é uma réplica muito bem feita do que vivemos na geração PS1. É o principal elemento e ainda que fãs mais novos tentem se aventurar ali pela primeira vez, a nostalgia que chamará mais ao público. Se você cansou de jogar os Resident Evil e Silent Hill, o prato está mais do que cheio e até mesmo as referências macabras que carrega vão te assombrar bastante.
E ainda que ele incomode por algumas direções questionáveis, no geral é um ponto muito importante de como podemos conviver com o gameplay do passado nas gerações atuais. Ainda que muitos gêneros tenham envelhecido muito mal, esse mostra que ainda carrega força no cenário indie e acredito que verei mais disso no futuro. Basta a Dual Effect e a PQube estalarem os dedos para sequências nos assustarem mais.