Sempre que expliquei para alguém sobre o que era The Division 2, a pergunta seguinte era a mesma “É de zumbi?”. A continuação do jogo pós-apocalíptico continua a história do primeiro: um ataque bioterrorista espalhou um vírus pelas notas de dólar em plena Black Friday em sabe-se lá quantas cidades. Só que, desta vez, há uma possível cura no meio de Washington, D.C..
Quatro anos depois do primeiro game, a Ubisoft foi pra cima. Ao todo, foram oito estúdios da Ubisoft desenvolvendo o game, sendo eles: Massive, Reflections, Red Storm, Annecy, Sofia, FreeStyle Games e os regionais Shanghai e Romania. Ou seja, não é uma investida qualquer da produtora.
O game é um RPG de tiro em terceira pessoa e leva o protagonista, um agente da Division, em missões para a agência governamental. Ambientado em Washington D.C., capital dos Estados Unidos, o jogador deve enfrentar as facções criminosas que dominam o que sobrou da cidade para encontrar uma maneira de salvar a população do vírus.
Um passeio na capital
Seu personagem é customizável. As opções físicas e cosméticas são variadas e dá para deixar o agente com a sua cara. Inicialmente há poucas opções de estilos de roupas, mas mais podem ser encontradas aleatoriamente no mapa ou compradas (com microtransações ou conquistas) na Ubisoft Club.
O jogo já começa te dando a opção de explorar e encontrar itens parte do mapa do jogo. No caminho para o primeiro objetivo, os inimigos que aparecem já funcionam como um tutorial de combate. Por ser um RPG, tiros na cabeça não causam morte instantânea, mas dão mais dano que em outras partes do corpo – há um sistema completo de dano por parte do corpo, algo que no primeiro não foi implementado.
A exploração do jogo é divertida. Ir atrás do shades é essencial para desbloquear habilidades e itens. No caminho até eles, há uma boa quantidade de loot (tanto para crafting pessoal como para o upgrade das bases), ecos (memórias dos cidadãos), gravações em áudio e inimigos para enfrentar. Ou seja, não há desculpas para não upar e aumentar os colecionáveis adquiridos. Infelizmente, nem todos os embates contra os inimigos da facções geram itens.
Quem vive sobrevive
Os inimigos ficam mais difíceis conforme o gameplay avança. Mesmo com a dificuldade aumentando, o nível deles será sempre o mesmo level do jogador. Os Hyenas, Outcasts, The Sons e os Black Tusks possuem suas características variadas, mas as hordas sempre são formadas por um mesmo padrão de comportamento e estratégia.
As equipes são sempre compostas por personagens que atacam com armas brancas, submetralhadoras, snipers, granadeiros e por ai vai. No entanto, alguns possuem proteções balísticas reforçadas e exigem mais investimento. Os chefões, assim como no jogo anterior, ainda são esponjas de balas, mas apenas eles. No todo, ainda há mais categorias de inimigos do que no primeiro.
Caso não tenha amigos para jogar, não se preocupe. O tempo todo o sistema do jogo mostra quem precisa de ajuda e oferece também várias formas de chamar outros jogadores para suas missões. Uma prova disso é que, por mais que fique em cobertura, os inimigos avançam em sua direção até te cercar e eliminar. Entrar em um clã é uma boa opção para recrutar agentes para as atividades.
Recrutas e veteranos lutam juntos
The Division 2 possui um sistema de equivalência para que seus jogadores de níveis diferentes joguem juntos. Por exemplo, caso seja do nível 7 e joguem com alguém do 20, o game automaticamente upa seus atributos naquela partida específica, como se você fosse do nível 19.
A função funciona bem, é devidamente equilibrada e só opera durante as missões e explorações do mapa em que o host tenha level superior. O XP ganho nessas missões também vai ser maior, mas não é possível acessar zonas de nível maior que o seu durante elas, portanto não há muita loot de nível alto a ser encontrada.
No entanto, o jogo mostra bem que o objetivo não é jogar sozinho. Durante as primeiras missões, dá pra segurar a barra. Nas seguintes, inimigos mais bem armados e mapas mais abertos tornam a aventura solo bem difícil, beirando o impossível. Também não adianta tanto subir de nível e comprar itens de auxílio, como drones e torretas, pois os oponentes também ficam mais fortes.
A história do jogo, que é explicitada durante as missões principais e cutscenes, não é envolvente e não possui personagens muito carismáticos ou com arcos interessantes (de modo que os vilões das missões não são muito mais que NPCs convencionais). O enredo mostra apenas os desafios enfrentados pela organização para combater as facções.
Mas semelhante a outros jogos da Ubisoft, os arquivos de áudio ajudam a construir na cabeça de quem joga a concepção daquele universo, oferecendo uma contextualização detalhada como no jogo original. Sabemos como era a vida de pessoas comuns depois da epidemia, o que levou algumas pessoas a virarem criminosos e por aí vai.
Lugar ao sol
Agora ambientado no verão, os biomas e gráficos de The Division 2 alcançam um alto patamar. Com o sol, tudo brilha, e as sombras são muito bem desenhadas. Quando se desloca de um lugar escuro para um claro e vice-versa, há uma transição na luminosidade semelhante à adaptação dos olhos aos diferentes ambientes – não há mais o efeito de luz neutra em consoles, porém.
Pequenos pedaços de papel podem ser vistos pairando o chão, malas são acumuladas em apartamentos e tantos outros detalhes de um lugar abandonado estão distribuídos por lá, além de construções improvisadas muito bem colocadas nos cenários. É o poder da engine Snowdrop, tão impressionante que agora será usada até mesmo por James Cameron para o próximo game de Avatar.
Toda o mapa e a ambientação de The Division 2 te fazem sentir em um lugar realmente pós-apocalíptico. Nos cenários internos e externos, a preocupação com os detalhes é nítida. A vida selvagem é variada, e sempre que se aproximar dos animais, eles vão correr. Cachorros, veados, esquilos e até guaxinins (este chega a correr para baixo dos carros) são vistos vagando pelo mapa.
As músicas que acompanham as missões são um tiro certo. Poucos ou quase nenhum som, com exceção das instruções dos personagens, acompanham os momentos mais tranquilos. Já quando os inimigos começam a aparecer, uma música frenética e agitada dá ritmo ao embate.
Recarregando
The Division 2 possui três Dark Zones, cujo equilíbrio nelas também foi melhorado. As armas usadas pelos jogadores possuem a mesma potência (mas o tipo de estrago de uma escopeta é diferente da pistola e do rifle), e há missões de exploração em PvE e zonas seguras para se preparar para o PvP. Com isso, todos os jogadores podem enfrentar a Zona Cega, pois eles vão depender mais de suas habilidades pessoais do que do poder de suas armas.
No fim, com sua quantidade de conteúdo e abertura para novos jogadores, o game consegue atingir diversos públicos. Os fãs de jogos de tiro, RPG e exploração. Com uma grande variedade de armas, itens de vestuários, habilidades e vantagens, dificilmente haverá personagens jogáveis com características iguais. Você sempre pode evoluir e customizar o personagem do jeito que for mais conveniente para jogar.
Como um RPG online de tiro em terceira pessoa, The Division 2 executa muito bem suas propostas, oferecendo ação e diversão na medida certa e fazendo com que horas se passem sem que você perceba. As futuras atualizações do jogo, divulgadas pela Ubisoft, serão gratuitas e prometem mais uma boa leva de conteúdo além do endgame (elas podem ser conferidas aqui), prometendo mais horas de combates intensos e coleta de loot pela frente.