Quem aqui lembra de Lemmings? Aqueles que nasceram depois dos anos 2000 provavelmente não devem fazer ideia do que se trata, mas foi esse simpático joguinho que inspirou toda uma geração de jogos de puzzle – incluindo Mario vs. Donkey Kong, um exemplo razoavelmente mais famoso que também está na geladeira há algum tempo.
A ideia gira em torno de manipular uma trajetória para que vários personagens possam atravessar o cenário em segurança, sempre com dificuldade crescente e mecânicas próprias do jogo. Tin Hearts segue a mesma premissa, só que protagonizado por soldadinhos de chumbo em um mundo mágico de brinquedos. O novo jogo dos criadores de Fable não é lá a coisa mais original do mundo, mas não deixa de ser cativante nos pequenos detalhes.
Marcha soldado
Na prática, Tin Hearts funciona exatamente da mesma forma que suas inspirações, mas por incrível que pareça, ele tem história! Aqui acompanharemos a trajetória do inventor Albert J. Butterworth, que de alguma forma está envolvido em toda aquela maluquice envolvendo os soldadinhos e os brinquedos vivos. O foco aqui não é a narrativa e, para alguns, o que está tentando ser contado ali pode até ser incompreensível. Tudo é muito subjetivo, mas ao menos encontraram um jeito de contar sem ficar interrompendo o jogo, o que para mim já foi bom o suficiente.
Assumindo uma visão em primeira pessoa (lembrando mais um jogo em VR do que qualquer outra coisa), temos a liberdade de enxergar todo o cenário pelo qual os soldadinhos devem atravessar. No começo tudo é muito fácil, envolvendo apenas colocar algumas peças e blocos no caminho para manipular seu percurso até o ponto desejado. Com o passar das fases, as coisas ficam levemente mais complexas com a adição de novas mecânicas, mas no geral achei o jogo bem fácil – principalmente para quem já jogou Mario vs. Donkey Kong antes, porque esse sim sabe mostrar como o estilo pode ser bem desafiador.
As melhores mecânicas ficam a cargo da manipulação do tempo. No começo não conseguimos fazer quase nada e todos esses recursos legais vão sendo desbloqueados gradativamente, então essa foi uma forma inteligente de manter a campanha interessante até o final (sabendo que ficaria repetitiva rapidamente). Com o tempo, você consegue acelerar o ritmo da fase, voltar atrás para evitar erros e até mesmo congelar um momento específico para planejar a rota dos soldadinhos. Esse último é bastante apelão e acaba sendo responsável por facilitar muito o jogo, já que dessa forma fica praticamente impossível errar.
Ainda assim, a possibilidade de manipular o tempo combinada com outros brinquedos e objetos que podem ser usados para auxiliar os soldadinhos – como um canhão para arremessá-los ou um balão para fazê-los voar – acaba deixando os puzzles mais divertidos. Quem tiver um PlayStation VR (também disponível para Oculus Quest 2 no PC) poderá tirar ainda mais proveito desta aventura, pois é nítido que o jogo foi projetado para ser jogado em realidade virtual. No modo tradicional ainda funciona, mas acaba não gerando toda a imersão esperada.
Mágico e acessível
Tin Hearts já foi lançado anteriormente no Switch e, se comparado com o port das demais plataformas, podemos afirmar que esses exploram o verdadeiro potencial gráfico do jogo. Antes de mais nada, é válido citar que a versão de Switch impressiona, pecando apenas no framerate, que apresenta algumas instabilidades. Já no PS5, o visual está mais polido e a performance em sua melhor forma, então somando tudo isso à possibilidade de jogar em VR, os novos ports acabam sendo versões mais completas.
Um dos maiores destaques do jogo fica a cargo da trilha musical, que é belíssima! Todas as faixas são tocadas em piano e trazem uma atmosfera muito relaxante ao jogo, que por diversas vezes até nos estimula a pensar melhor. Achei perfeito como as músicas casaram com a proposta, que por si só já é bastante amigável por envolver brinquedos. A história ainda aborda (de forma muito discreta) temas como amor e conciliação, então todo esse pacote torna essa jornada levemente emocional.
Já se tratando da jogabilidade, acho que tudo funciona muito bem, apesar das “limitações” do estilo de realidade virtual. Você controla uma mão invisível que vai alterando os elementos do cenário e, quanto a isso, dois detalhes me incomodaram: o primeiro é a dificuldade de selecionar objetos, que por vezes se misturam com itens próximos e dificulta uma coisa que deveria ser super simples; o segundo é o movimento abrupto que a câmera faz quando você está mexendo em algum objeto, o que pode causar uma certa confusão de vez em quando.
No geral, Tin Hearts é um jogo redondinho, divertido e com uma dificuldade acessível para todos (o que nem sempre é positivo, pois pode afastar quem for mais hardcore). É um título perfeito para relaxar e aproveitar uma jogatina sem muito estresse ou tensão, somente para se desligar um pouquinho do mundo exterior. O que ele não tem de originalidade, tem de beleza e fofura!