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“Spiritus Dei ferebatur super aquas, et inspiravit in facien hominis spiraculus vitae. Sit Michael dux meus, et Sabtabiel servus meus in luce et per lucem. Fait verbum halitus meus; et imperabo spiritus aeris hujus, et refrenabo equos solis voluntate cordis meis, et cogitatione mentis mede et mutu oculi dextri”.

Continua a dizer Ray Bibbia, um padre católico agindo como freelancer, digamos, em mais um exorcismo na cidade de Roma. A decadência da Santa Igreja Católica é cada vez mais evidente. As pessoas estão perdidas, as possessões são cada vez mais comuns e os padres agora se envolvem com demônios.

A MorbidWare, desenvolvedora de The Textorcist: The Story of Ray Bibbia e Headup, a publisher, trazem ao mundo um passo além em dois gêneros alternativos do nosso querido mundo dos joguinhos. The Textorcist (sério, o nome é muito grande, não sei nem se faz sentido tudo isso ser um título) une o bullet hell com o typing game. Ou seja, boa sorte tentando desviar de uma infinidade de projéteis enquanto exorciza um demônio… EM LATIM!

Vade Retro, Satana!

Ray Bibbia é um padre católico, ou ex-católico, já que por motivos escusos ele foi excomungado da Igreja e liberado de suas obrigações como sacerdote. O que não quer dizer que ele não tenha boletos para pagar. Assim sendo, nosso querido Ray iniciou seus trabalhos como exorcista freelancer.

Isso nos mostra algumas coisas, por exemplo, que a Igreja não define simplesmente pela sua palavra quem pode e quem não pode fazer exorcismos (então fiquem a vontade aí pessoal) e que Ray Bibbia é realmente poderoso utilizando suas hollets, as holy bullets (balas sagradas) que atingem tanto humanos em situação convencional quanto em estado de possessão.

Imagem de The Textorcist
Armas calmas e tranquilas. Próprias para um homem de Deus.

E é com suas hollets que você parte para cima dos vilões, todos eles de caráter muito questionável e atitudes ainda piores. De velhos conhecidos a novos inimigos, donos de boates e freiras corrompidas, chegando até a Vossa Santidade, o Papa. Ou o pior dos vilões: o vocalista de uma banda de black metal vegano. Absolutamente inaceitável.

O visual é muito agradável e supre muito bem a sensação de que é um jogo feito no meio da década de 1990. O estilo pixel art é bem feito, com detalhes, sombreamento e animações de grande qualidade. Cada um dos inimigos e figurantes nas cenas receberam uma grande dose de cuidado, tendo uma personalidade única, especificidades e trejeitos próprios.

Imagem de The Textorcist
Esse cenário te lembra algo?

Complementando tudo isso, a história de Ray é muito engraçada, cativante e cheia de detalhes e referências muito bem cuidadas, mostrando um bom grau além de dedicação dos desenvolvedores. É a certeza de que não focaram só na jogabilidade, relegando a narrativa em um segundo plano. Não em The Textorcist: The Story of Ray Bibbia, queridinha. Não no turno do Ray!

Sem deixar de lado a parte sonora que, por mimetizar um jogo mais antigo, não possui dublagens, porém as músicas e efeitos sonoros são de uma qualidade estupenda. A ponto de querer demorar mais para vencer as batalhas só para ouvir mais do que está tocando no fundo (como se fosse uma opção demorar ou não, só me preocupava em ficar vivo).

Esto non ecziste!

Agora, chegando no que é o grande tchan do jogo, a mistura do Brasil com o Egi… Não. A mistura de bullet-hell com typing, gênero que ficou mais famoso com The Typing of the Dead, jogo de digitação abismal. Vou deixar para vocês decidirem se o abismal é um adjetivo positivo ou negativo.

Habitualmente estar jogando um bullet hell já é o suficiente para invocar qualquer demônio para dentro de si em um trato faustiano, vendendo sua alma simplesmente para poder superar uma maldita bala que sempre aparece justo naquele lugar que não deveria e dá uma vontade desgraçada de arrancar até o último fio de cabelo restante no corpo que, nessa altura do campeonato, já está em uma parte bem mais escondida do que outros membros corpóreos.

Imagem de The Textorcist
Absolutamente qualquer interação precisa ser datilografada.

Por que isso acontece? Porque é uma quantidade absurda de balas que vem na sua direção, então o foco é se manter vivo durante o processo de descarga de tiros dos inimigos. Essa é a definição de bullet hell. Se fosse só isso acontecendo, The Textorcist: The Story of Ray Bibbia já seria consideravelmente difícil, como todo bom jogo do gênero.

Aí entra a nova parte da brincadeira – sempre dizem que a melhor maneira de se defender é atacar. Ray Bibbia usa suas hollets para se defender atacando. E você entra com a parte de ir recitando os versos bíblicos para remover os demônios de onde eles nunca deveriam ter entrado. E não é só apenas isso.

Imagem de The Textorcist
A movimentação entre os locais é muito inventiva.

Se fosse só desviar dos tiros inimigos enquanto digitamos os trechos falados por Ray, já seria complicado para dedéu. Mas The Textorcist: The Story of Ray Bibbia não para por aí, o famoso “e não é só apenas isso, tem algo a mais!”. Logo após as primeiras batalhas, o jogo entra no que pega de verdade, porque os textos a serem digitados ficam todos em latim. É. É isso aí.

Como vocês podem perceber pela minha ênfase, é uma combinação realmente muito interessante e um diferencial tremendo, porém não acredito que o balanceamento de jogabilidade e dificuldade tenha sido feito da melhor maneira possível. Em alguns momentos, preferi ficar parado só digitando o que tinha decorado ou jogando com uma mão e digitando mal e porcamente com a outra. Nenhuma das opções me satisfez plenamente e tende a deixar um gosto ruim na boca muito significativo.

Imagem de The Textorcist
Só acho que os desenvolvedores tem algo contra veganos… Não que estejam errados…

Por fim, The Textorcist: The Story of Ray Bibbia é um jogo bom, bem feito, ambicioso e bem estruturado. O único ponto de atenção relevante é o balanceamento da jogabilidade – o problema é que atrapalha consideravelmente, tirando a sensação de melhora que o jogador deveria ter cumprindo as missões. Assim sendo, muito bem recomendado.

“Exorciso igitur te, creatura aeris, per Pentagrammaton et in nomine Tetragrammaton, in quibus sunt voluntas firma et fides recta. Amen. Selah. Fiat”.

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