The Surge 2, a continuação do game souls-like de 2017 desenvolvido pela alemã Deck 13, sugere que o subgênero criado e popularizado pela From Software está se esgotando. Antes que pensem que se trata de um game ruim, devo esclarecer que não: está longe disso.
No entanto, a sequência também desenvolvida pela Deck 13 e distribuída pela Focus Home Interactive pouco faz para acrescentar ao formato souls-like algo de novo, ou mesmo ao que o primeiro game havia introduzido, com sua ambientação futurista e mecânicas de esquartejamento.
Ruína cyberpunk
A única diferença notável está na tônica dos ambientes, que trocam os laboratórios fechados pela cidade grande e florestas, além de outros cantos. Como era de se esperar, The Surge 2 aborda o impacto dos acontecimentos do primeiro game sobre o resto da sociedade, agora uma ruína cyberpunk.
![Imagem do jogo The Surge 2](https://gamerview.com.br/wp-content/uploads/2019/09/The-Surge-2_01.jpg)
É interessante pensar, no entanto, que este pós-apocalipse cibernético ainda tenha espaço para um pouco de humor e leveza, já que agora vemos muitos mais personagens espalhados pelos cenários e ocasiões inusitadas como uma festa com música eletrônica que ocorre sem parar no topo de um prédio.
O que guia a trama, no entanto, é a conexão entre o protagonista e a garota Athena. Ambos estavam a bordo de um avião que cai misteriosamente nos arredores da cidade de Jericho, que depois torna-se um lugar caótico. Para desenvolver esta conexão, encontramos diversos hologramas pelo mapa.
Estes hologramas também indicam uma pequena diferença entre The Surge 2 e o game anterior: o ritmo, ao menos de início. A cada descoberta, o jogador também desbloqueia novas armas, não dependendo apenas da derrota dos chefes para expandir seu arsenal. Nas primeiras cinco horas, tudo corre de forma suave.
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Não só estas armas indicam uma maior variedade de equipamentos, como outras peças de armadura coletadas de inimigos são surpreendentemente diversas, quase firmando este como um jogo baseado em loot. O problema, no entanto, está na inconsistência que assola este ritmo inicialmente agradável.
Assim que o jogador já descobriu uma boa variedade de áreas iniciais, não dá para evitar o sentimento de que tudo acaba empacando a uma certa altura. Agora, a sensação de progresso horizontal e livre – como aquela em Sekiro: Shadows Die Twice – é substituída por portões na forma de chefes e níveis altos de oponente nas horas seguintes.
Batendo de frente com uma parede
Se antes The Surge 2 passava a remeter um metroidvania sob o formato souls-like, com ferramentas adicionais como o PEM e o gancho de força para acessar diferentes áreas, agora apenas existem becos sem saída, e a única maneira de avançar é enfrentar os chefes, o que de início parece razoável.
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Infelizmente, apesar de muito superior ao combate em Dark Souls e Bloodborne, com sua dinâmica redonda de hack and slash, o game da Deck 13 já não impressiona após o que foi visto em Sekiro, que mesmo sendo mais desafiador que seus precursores, contava com um excelente e robusto sistema de defesa, esquiva e habilidades.
Falo de Sekiro pois, de certa forma, aquele game deixou aparente que, independente da dificuldade do oponente / chefe, a solução pode ser encontrada pela experimentação de diferentes abordagens de combate. Em The Surge 2, sinto que, como os games pré-Sekiro, há poucas alternativas para a vitória.
É praticamente tradição ter de se adequar ao chefe específico, mas assim o game não deixa de soar um pouco antiquado em 2019. Porém isto se torna um empecilho, de fato, pelo design inegavelmente falho de certas batalhas e da interação do jogador – e a câmera – com o cenário.
![Imagem do jogo The Surge 2](https://gamerview.com.br/wp-content/uploads/2019/09/The-Surge-2_05.jpg)
Por mais inesperado que seja, a primeira grande batalha de chefe do game, com um enorme robô com tentáculos, é a que menos se confunde visualmente, já que estabelece um ângulo de câmera distante e resolve bem a questão do lock-on nas partes em movimento da máquina.
É nas batalhas seguintes, como aquela do Capitão Cervantes e a criatura que surge logo em seguida, o Escavador, que os sistemas revelam suas falhas. Em ambas, a trava da câmera costuma perder o oponente de vista, e mesmo que em certas ocasiões isso seja proposital, o ângulo padrão apertado já não ajuda.
Perspectiva importa
O problema, portanto, não é o tamanho dos oponentes, e sim suas velocidades respectivas e os ambientes nos quais se encontram. Visto que o sistema de lock-on em alta velocidade já foi aperfeiçoado por Sekiro e funcionava muito bem no primeiro The Surge, aqui é decepcionante constatar seu mau-funcionamento, que ainda inclui curtos instantes de pouca responsividade dos controles.
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Outro problema, que nos leva de volta ao fato de que chefes possuem soluções específicas, está na separação de classes de combate. Golias são os mais pesados e lentos, Sentinelas são o soldado padrão, Operador leva jeito com drones e máquinas, e assim em diante. Já os Implantes, que são habilidades complementares, ajudam a incrementar seu personagem.
Não há restrição para usar equipamentos de cada classe, mas esta distinção sempre força o jogador a avaliar os números dos equipamentos para cada chefe e não incentiva o encontro – e o funcionamento – de uma abordagem própria independente deles. Certos chefes só podem ser derrubados com uma estratégia, então selecione os implantes mais úteis e boa sorte.
Ao menos o loop de cortar membros dos oponentes para coletar peças específicas de armadura e novas armas continua plenamente satisfatório, embora não ganhe aqui uma nova utilidade. É dito que “não se conserta o que não está quebrado”, mas era possível acrescentar novas peças, não? A falta de um mapa, marcadores e viagem rápida, por exemplo, é um tanto inesperada.
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Mais flexível que o game em si são suas configurações técnicas, que tem altos e baixos. A melhor parte está na opção de selecionar entre um modo de qualidade (4k a 30fps) e outro de performance (1080p a 60 fps), priorizando resolução e sacrificando taxa de quadros e vice-versa. Efeitos de pós-processamento podem ser removidos também.
A pior parte disso, no entanto, está em ter que fechar o game e abri-lo de volta para efetuar quaisquer alterações, o que deve levar três minutos em média. Ou seja, decida-se quanto ao modo de sua preferência e tente não mudá-lo muitas vezes. Ainda assim, há outras falhas visíveis em ambas as opções.
Visual sucateado
Sem mais enrolação, The Surge 2 não é um game bonito. Dando alguns passos atrás do título anterior, este apresenta problemas variados como screen-tearing, serrilhados, pop-in de texturas e até mesmo algumas engasgadas pontuais. Nisso, o game aparenta ter se originado da geração passada, e se segura apenas por sua direção de arte inspirada.
![Imagem do jogo The Surge 2](https://gamerview.com.br/wp-content/uploads/2019/09/The-Surge-2_08.jpg)
Em compensação, o departamento sonoro é competente, trazendo de volta aquela mesma sonoplastia satisfatória de metal chocando-se contra metal, lâmina chocando-se contra pele e carne, e tudo mais que ajude a tornar a brutal violência do game convincente. Sua trilha sonora, embora discreta, ainda evoca a atmosfera certa de cyberpunk.
Em suma, se a fórmula do The Surge original te agrada, fazendo passar horas mutilando oponentes para conseguir aquelas desejadas partes de armadura ou encontrando corta-caminhos para o centro médico mais próximo, não há erro neste aqui, que apenas representa mais do mesmo em uma nova ambientação.
Porém não deixo de acreditar que este game, que é sem dúvidas um título suficientemente funcional, poderia ter me surpreendido como os melhores souls-like são capazes. The Surge 2 pode ser um bom ponto de partida àqueles que não conferiram o primeiro ou outro game do gênero, mas não levará os viajantes de longa data a um curto circuito.