Sem muito alarde, The Spirit of the Samurai chegou ao mercado para fechar o ano com uma aventura majestosa e digna de ser considerada uma obra de arte. O jogo desenvolvido pela Digital Mind Games e publicado pela Kwalee transportará você para uma era feudal repleta de lendas e combates intensos, numa atmosfera cinematográfica belíssima.
Este é um jogo indie que bebe fortemente de lendas japonesas e consegue adaptar sua mitologia através de uma aventura que se desenvolve por meio de muitas influências de clássicos do cinema japonês, como Os Sete Samurais, e o Bunraku, tradicional teatro de bonecos japoneses. Com uma beleza ímpar e um ritmo contemplativo, quase poético, prepare-se para enfrentar uma terra devastada por demônios e se ver imerso no comprometimento da sua jornada como samurai.
Era uma vez…
The Spirit of the Samurai possui uma narrativa pulsante e urgente, em que assumimos o papel de Takeshi, um samurai responsável pela segurança de sua vila e, sem ele saber, predestinado a derrotar o mal. Com a lenda de Shuten-Doji, conhecido como rei dos oni e um dos três monstros mais temidos do folclore japonês, a paz está ameaçada e logo precisamos enfrentar diversas criaturas para proteger as terras, além de salvar os habitantes.
Essa trama se desenvolve durante o jogo e com uma curta duração de apenas cinco horas, contando as diversas tentativas de se manter vivo. No entanto, a história começa com uma jovem criança encontrando kitsune, uma yokai sábia e que conta a história de Takeshi, vivenciada por nós, para retomar no fim do jogo sobre essa lenda dos antepassados e claramente deixar um imenso gancho para uma possível continuação. Na real, depois de jogar um dos melhores jogos do ano, espero muito que a Digital Mind Games continue essa aventura folclórica.
Longe de ser exagero meu, The Spirit of the Samurai é incrível e merece destaque por suas diversas qualidades, começando pelo visual. As referências do cinema e teatro de bonecos estão presentes a todo momento, feito no estilo stop motion e com cenas animadas muito bonitas. A paleta de cores abusa da cor sépia, com tons mais escuros, para criar uma atmosfera mais sombria e soturna para comportar toda a ferocidade dos monstros e a dificuldade em se manter vivo num mundo em constante ameaça. Tudo combina perfeitamente com a sua evolução durante o jogo ao desbravar a escuridão e o desconhecido.
Durante essa jornada vamos aprendendo mais com a movimentação de Takeshi, Anako, os demais NPCs e todos os monstros, que carregam o estilo stop motion e justificam também as escolhas dos desenvolvedores para o combate. Quase como se estivéssemos brincando de bonequinho, vamos definir estilos de golpes com espadas para ataques frontais, para cima, baixo, de pulo e a partir da defesa. Todos eles com espaço para dois golpes adicionais que você conquista ao evoluir o samurai e customizando o sistema de combate, para utilizar através do direcional direito e criando diversos combos.
O mais legal é como os desenvolvedores conseguiram criar profundidade mesmo num sistema simples, pois você tem seus status (Força, Resistência, Destreza e Arco) e cada golpe também vem acompanhado do dano e a velocidade, fazendo com que você analise a maneira como prefere atacar, defender ou se esquivar das investidas inimigas. Por conta do estilo stop motion, os combates são mais cadenciados e exigem mais atenção e cautela para não ser derrotado com apenas uma sequência de golpes dos monstros. Tudo fazendo sentido pelo mundinho criado para um Japão ameaçado por demônios e pronto para ceifar a vida de Takeshi.
O folclore é a alma de tudo
Assim como a história e o sistema de combate, The Spirit of the Samurai conta com um level design simples para um jogo com progressão side-scrolling, mas que foi pensado para ser uma ameaça secundária e constante. Diversas armadilhas estão preparadas para tirar a vida de Takeshi, assim como plataformas são colocadas para fazerem você cair em espinhos ao menor descuido. Tudo isso enquanto você tenta se defender ou esquivar, com rolamento, para evitar os ataques dos monstros e administrando sua barra de estamina ou energia vital no topo da tela.
Confesso que muitas horas parecia ser obra dos desenvolvedores como algo proposital apenas para fazer com que eu morresse e começasse uma porção da fase novamente, exigindo que eu decorasse a sequência exata de movimentos. Até mesmo as hordas de monstros eram mais difíceis que os poucos chefões do jogo, mas acredito que por priorizarem a jornada e não necessariamente um sucesso pontual ao longo da trajetória de Takeshi em busca de Shuten-Doji.
Prova disso foi ver que The Spirit of the Samurai alterna a jogabilidade entre Takeshi, o Kodama (espírito da floresta) e até mesmo Chisai, sua pequena gatinha. Com controles simples para a exploração e movimentação, você experimentará visões diferentes desse mesmo mundo, além de enfrentar as ameaças de maneiras complementares e que engrandecem ainda mais a experiência durante o jogo. Ainda que com desbalanceamento na dificuldade em certos momentos, não necessariamente em combates, o jogo é muito competente e inova ao trazer essas novidades ao quebrar sua previsibilidade.
Tudo é muito bem feito e está integrado à história e sua proposta, fazendo com que The Spirit of the Samurai seja uma experiência incrível e memorável. Ainda que com pequenos probleminhas de performance, fazendo com que o personagem fique preso em cantos do cenário ou o combate não seja fluido caso você esteja na mesma posição do inimigo, como um todo o trabalho da Digital Mind Games impressiona pela qualidade na construção da narrativa, jogabilidade e criatividade ao trabalhar o estilo visual em stop motion.
The Spirit of the Samurai é uma carta de amor à cultura japonesa, muito bem localizada para o PT-BR, oferecendo uma experiência imersiva que é tanto visualmente impressionante quanto culturalmente rica, num jogo que consegue contar uma boa história ao mesmo tempo em que oferece um bom desafio, já se consolidando como um clássico moderno e que merece ser vivenciado.
Prós:
🔺 Criativo ao utilizar o estilo stop motion
🔺 Direção de arte maravilhosa
🔺 Sistema de combate simples e inteligente
🔺 Excelente construção narrativa
🔺 Boa adaptação da cultura japonesa para os games
🔺 Jogo divertido e desafiador
Contras:
🔻 Desbalanceamento entre áreas e inimigos
🔻 Falta de polimento em sessões com plataformas
🔻 Combate truncado conforme posicionamento dos inimigos
🔻 Áreas escuras demais dificultam identificar as armadilhas
Ficha Técnica:
Lançamento: 12/12/24
Desenvolvedora: Digital Mind Games
Distribuidora: Kwalee
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series
Testado no: PC