Olhos esbugalhados e córneas arranhadas, paredes marcadas por unhas e os incessantes gritos de humanos que tiveram seus cérebros alterados para todo sempre, este é o mundo da Guerra Fria, um período onde os próprios U.S.A parecem ter tirado uma pagina do guia nazista de experimentos e iremos vivenciar esses terrores em The Outlast Trials.
Servindo de prólogo para a franquia Outlast, desta vez vemos como as experiências da corporação Murkoff levantaram voo. Com um capital gordo investido e um exército de sádicos preparados para torturarem física e psicologicamente um grande número de pessoas, The Outlast Trials é um show de horrores, pronto para atacar seus jogadores.
The Outlast Trials é uma experiência bem diferente dos outros três títulos, com mais variedade de gameplay, mas, ainda assim acredito que há muito a ser implementado e melhorado. Os níveis repetitivos, a escalação de dificuldade e a mão que de certa forma força os jogadores a estarem sempre buscando outros para jogar junto são fatores que serão discutidos mais a frente.
Vitamina C com gosto de ferro
The Outlast Trials começa mostrando o início do primeiro experimento da Murkoff, que anos depois seria responsável pelo projeto WALLRIDER do primeiro jogo. Vemos nosso personagem junto de outros sendo sequestrado pela empresa, sendo levados a um laboratório recheado de cadáveres, vendo nossos direitos sendo retirados de nós através de uma falsa assinatura e assim damos adeus a liberdade.
Um par de óculos de visão noturna são instalados diretamente no crânio do personagem e uma bateria é acoplada ao nosso peito. Com isso o jogador é designado a uma cela e deve servir como um porquinho da índia. Sobrevivendo a tarefas árduas onde tanto seu corpo, quanto sua mente serão atacados de forma incessante por criaturas reais ou não.
Armadilhas, agressões e gases que alteram nosso psicológico são apenas alguns dos exemplos. Lutando para sobreviver ao ataque de homens e mulheres que tiveram suas mentes deterioradas além da salvação, resta ao jogador provar ser o melhor “agente” sobrevivendo aos três diferentes cenários, para assim ter acesso ao Projeto X, o verdadeiro objetivo desta fase de estudos.
Com experimentos de controle mental e até mesmo modificação corporal, The Outlast Trials mostra que durante tempos de guerra e até mesmo hoje em dia, para se ter controle, governos e corporações não medem esforços. Esteja preparado e tenha um estômago forte, pois será necessário para aguentar as torturas e sádicos espalhados pelos testes.
Se afogando na loucura da maré de sangue
The Outlast Trials não tem medo de se deitar com o pavor de escrever personagens sádicos, cruéis e completamente monstruosos. O jogo traz o jogador com seu personagem totalmente customizável em etnia, cabelos, sexo, voz, roupas e equipamentos, conhecidos como Reagentes, estes são os heróis sem nome do projeto.
Esperando para matar e torturar os reagentes, estão os conhecidos como Ex-Pops. Estes são membros reagentes que se mostraram mentalmente incapacitados, mas com um histórico criminoso ou sádico, o que garantiu que as experiências trouxessem a flor seus podres mais íntimos.
Os inimigos são divididos em Peões, Especialistas e Ativos Primários. peões como é de se esperar, são os caçadores mais básicos que espreitam pelas instalações dos testes caçando o jogador. Especialistas possuem certos atributos especiais que os tornam letais, como Caçadores Noturnos que possuem visão noturna, Lançadores com Molotovs e os Pushers, com seus gases que trazem alucinações de uma entidade ao jogador.
Os Ativos Primários são os antagonistas de cada capítulo do jogo, cada um mais sádico, perverso e desbalanceado que o anterior. Até o momento o jogo conta com dois destes, o policial racista sádico Leland Coyle e a traficante infantil e dividida psicologicamente Mamãe Gansa e Papai Ganso, uma marionete que representa a outra parte da Psyche de Mamãe Gansa, equipada com uma enorme broca.
Inspirações diretas do Sanatório
The Outlast Trials me chamou bastante a atenção pela maneira como conduziu introduzir os inimigos. O jogador é representado por alguém sequestrado pela Murkoff e tem seus direitos tirados de si sem poder sequer se posicionar sobre o fato e precisam fazer o máximo dentro de quatro vidas para sobreviver aos programas de treino do MKUltra.
Grande parte dos inimigos parecem ser vítimas de tortura e veteranos abandonados pós guerra do Vietnã, guerra esta onde os E.U.A como outros vários países administrou doses cavalares de drogas em seus soldados. Deixando os mesmo com psicológicos fragmentados e corpos quebrados, prontos para serem remontados como seus novos donos na Murkoff desejassem.
Os exemplos maiores são os grandes brutos, que dizem o quão afeminados os homens pós guerra são, os pushers com suas substâncias tóxicas invadindo constantemente suas narinas e cérebros e os Ativos Primários. A Mamãe Gansa (Phyllis Futterman) e Leland Coyle são provas do quão depravado o ser humano pode ser.
Phyllis Futterman por anos trabalhou como ajudante de dentista ao lado de seu pai e ver o mesmo morrer a colocou em choque, fazendo com que a mesma vendesse drogas a crianças através de seu show infantil. Já Leland via pecado em todos e se via como uma espécie de herói, tendo matado três de suas esposas e famílias, além de ter sido membro de um dos capítulos da K.K.K.
Instruções para sobreviver
Para sobreviver, o jogador deve estar preparado parar correr o máximo do tempo, já que não há como combater diretamente os inimigos. Usando sua inteligência inicialmente, o jogador deve sobreviver aos primeiros testes, seja sozinho ou com outros três colegas. Usando curativos e antídotos espalhados pelo mapa, baterias pequenas e grandes de armadilhas ou espalhadas pelo cenário.
As baterias servem para carregar tanto o óculos de visão noturna, quanto os Rigs, estes itens servem para ajudar durante o jogo e são desbloqueados após o primeiro teste. Os Rigs são uma granada de atordoamento, um raio x acoplado ao óculos, uma bomba de fumaça e uma névoa de cura.
Pode-se equipar apenas um deles por vez, o que mais usei foi o de Raio X, permitindo ver os perseguidores através de paredes. Usando fichas de desenvolvimento adquiridas após cada teste vencido, podemos fortalecer a capacidade dos equipamentos, como no caso do Raio X, podendo transmitir a localização de inimigos, itens e colecionáveis importantes pelo mapa.
Os itens de cura são remédios para receber vida, uma agulha de adrenalina para ressuscitar colegas imediatamente e um antidoto. Este é o mais complexo, já que serve para recuperar sanidade e evitar que o jogador morra com as alucinações da criatura chamada Skinner Man, um ser cadavérico que surge para nos atormentar e matar de pavor e estresse, sendo um constructo psicológico do antagonista Hendrick Joliet.
Problemas no Inferno
The Outlast Trial é uma experiência bem sólida de horror e tem uma narrativa bem embasada nos terríveis experimentos realizados pela C.I.A, mas o jogo ainda possui seus problemas como a alta dificuldade e pouco valor de replay. Mesmo jogando sozinho, a dificuldade continua configurada para como se estivessem em quatro jogadores.
The Outlast Trials traz três programas, um em uma cadeia, parque de diversões e orfanato, além do projeto X. O jogador precisa passar os três níveis de cada programa, fora duas versões mais difíceis do primeiro estágio de cada programa. Fazendo isso o mesmo consegue mais dinheiro e fichas de desenvolvimento.
Além dos Rigs, as fichas podem desbloquear habilidades do personagem como escorregador enquanto corre, se jogar contra portas, recuperar vida ao ficar parado. Após vencer os estágios repetidos todos, o jogador abre o Projeto X. Um programa de dez estágios seguidos onde o jogo vai para cima do jogador com tudo.
Após terminar e sobreviver ao Projeto X, o jogador “renasce”, vencendo o nível inicial do jogo com mais obstáculos e resetando seu progresso, dando ao jogador um sistema de prestígio, onde quanto mais renascer, maior o prestígio. O que diminui em parte o valor de replay em minha opinião, uma vez que há pouco conteúdo pelo preço cobrado ou o que é prometido.
Sonho, ou realidade?
O constante reaproveitamento de inimigos e gameplay em The Outlast Trials, além da constante dependência de jogar em grupo para facilitar a sobrevivência tornaram a experiência que em sua essência é promissora, em algo cansativo e repetitivo. Afinal para uma história de prólogo o jogo consegue criar uma atmosfera e ambientação incríveis para fazer o jogador se sentir como uma cobaia.
Podendo comprar roupas e itens para decorar sua cela o jogador pode mostrar sua individualidade, mas as roupas são trapos e até os quartos mais decorados refletem a depressão e pavor que ocupa a mente de seus habitantes.
Outro grande problema que tive em The Outlast Trials são as quedas de frame vertiginosas em certos momentos. Não é preciso nem mesmo ter outros personagens na tela, em certos momentos o FPS simplesmente despenca de maneira vertiginosa, mesmo que momentos antes estivesse cravado e sem problema algum.
No atual estado ainda há muito a ser melhorado, mas The Outlast trials é uma ideia promissora e muito interessante quando aplicada ao universo da franquia. Espero que no seu lançamento, tenhamos mais inimigos, testes e estágios para sobreviver e não apenas repetições.