Entrei no arco de Crossbell direto pelo fim, começando minha jornada por The Legend of Heroes: Trails to Azure, que chega ao mercado fechando este primeiro trimestre de grandes JRPG.
Após mais de 12 anos do seu lançamento original para PSP, a NIS America finalmente trouxe o quinto título da franquia ao Ocidente e reforçou a qualidade no trabalho da Nihon Falcom na arte de construir boas narrativas.
Encerrada a década de ansiedade e espera
Sou um novato na franquia The Legend of Heroes e seu spin-off Trails. Eu não conhecia esse universo até propor ao Vinicios Duarte, responsável pelo Gamerview, a maluquice de iniciar esta jornada pelo fim de um dos jogos mais aclamados e aguardados para esta geração. Foi assim que vim parar em Trails to Azure.
Para a minha surpresa, já que a história deste jogo se passa poucos meses após o final de Trails from Zero, os desenvolvedores disponibilizaram um glossário com alguns dos acontecimentos do jogo anterior. Infelizmente não tinham informações suficiente, mas acredito que mais por mérito da própria história de Azure e como ela conduz a construção de Zemuria.
Acompanhamos a jornada de Lloyd Bannings, um jovem detetive e líder da Special Support Section, ou SSS como é conhecida e citada, uma facção do departamento de polícia de Crossbell. Ao lado da sargento Noel Seeker e Wazy Hemisphere, com o apoio de Randy, Elie e Tio, cumprimos diversas missões como parte do dia a dia da unidade de investigação policial através de capítulos fechados.
O que achei interessante, além do fato (importantíssimo) de você poder carregar o seu save de Trails from Zero para Azure, mantendo o nível dos seus personagens e desbloqueando cenas e eventos exclusivos, foi perceber que a narrativa não enrola para mostrar mais da história e como o mundinho deste jogo se constrói de maneira mais ágil que os demais JRPG ao propor essa vivência dos diversos casos policiais.
Toda a narrativa é construída tendo grande foco na tensão política entre o Império de Erebonia e a República de Calvard, que buscam anexar Crossbell e seus territórios, trazendo para esta sequência diversos pontos iniciados no jogo anterior e que serão explorados por mais de 50 horas de jogo.
Trailz from Zero iniciou e deixou para Azure concluir questões sobre corrupções no governo, com uma tentativa de golpe logo no prólogo do jogo, o envolvimento das gangues e a estranha relação com Walzy, os poderes de KeA, que também estão ligados ao Prefeito Dieter Crois, a misteriosa organização Ouroboros, as forças mercenárias da Red Constellation e Zephyr, a droga Gnosis e sua produção formulada com Pleroma Grass, e por fim, mas não menos importante, o deus primordial Demiourgos.
Muito movimentada pela esperada West Zemuria Trade Conference, que vai trazer os líderes de Crossbell, Erebonia, Calvard, Liberi e Remiferia para discutirem sobre seus futuros, os acontecimentos ao redor deste fórum é a grande máquina que faz a narrativa rodar muito bem. Adicione o fator de termos a construção de pequenas histórias individuais muito bem costuradas que enriquecem ainda mais a jornada que acompanhamos.
Percebi que eu perdi muitos “por quês” que deram início aos principais acontecimentos, que poderiam ser complementados com breves flashbacks adicionados pelos desenvolvedores ao fazer o jogo perceber que eu não tenho o save do jogo anterior. No entanto Trails to Azure evolui e constrói todos os acontecimentos de maneira impecável, trabalhando com um elenco muito carismático e cativante, criando laços entre os personagens e fazendo com que eu me importasse com eles, de uma maneira muito melhor do que Octopath Traveler II ofereceu ao unir suas oito narrativas.
Atualizações ao clássico
Já comentei que a Nihon Falcom construiu Trails to Azure com base no estilo clássico dos RPG japoneses, com combate em turno e, mesmo não sendo tático, temos a grata opção de movimentar nossos personagens por um grid durante as batalhas para posicionarmos melhor a direção do nosso ataque ou fugir o campo de alcance dos inimigos. Muitas vezes não utilizei esse recurso na maioria das batalhas, mas ajudou em alguns chefões.
Você terá as Arts que vão servir de opções para você atacar, defender, proteger, reforçar e curar. O mais interessante é notar a mecânica dos Quartz adicionadas às Arts, que funcionam como o sistema de Materia de Final Fantasy VII. São pedras preciosas para customizar seus equipamentos e proporcionar melhorias de status ou condições. Como atualização dessa mecânica para esta edição temos as Master Quartz, que podem ser masterizadas pelo uso e oferecem uma magia (Art) diferenciada e poderosa.
Além das magias temos as habilidades especiais, conhecidas como Craft, que são evoluídas com o passar do nível dos personagens. Estas também oferecem um ataque especial, conhecido como S-Craft e o Combo Craft, que mudam a organização dos turnos conforme a linha de ação dos personagens. Outra novidade é a adição do Burst, uma barra que é carregada somente com a party completa e durante certas batalhas, fazendo com que você comece o combate tendo prioridade para todos os personagens, além de receberem cura para todos os status e custo zero para as arts.
Mais um excelente JRPG para 2023
Mantendo o estilo visual de 2011, mesmo tendo uma passagem pelo PSVita anteriormente, The Legend of Heroes: Trails to Azure não impressiona pelo visual e carrega sua “proposta vintage” fazendo com que este seja um cult que chega para a nova geração sendo um título obrigatório para quem gosta de uma boa história.
Muito bem trabalhado pela dublagem em japonês e com uma música que pontua majestosamente sua jornada, mesmo sem legendas em PT-BR, as limitações de animação para os inimigos e os personagens chibi com movimentações estranhas inclusive durante os ataques especiais, acabam sendo esquecidas pelas inserções ilustradas e em animê. Com certeza um JRPG diferenciado pela sua proposta e temática, inclusive por integrar elementos do universo criado com Trails in the Sky e Trails of Cold Steel.