Lembro que, há muito tempo, me diziam o quanto adaptações de filmes, desenhos e séries para os jogos eram decepcionantes. Eu já senti isso na pele também, com péssimas experiências que nas telinhas eram incríveis, mas que com o controle nas mãos se tornavam completamente ruins ou, no mínimo, entediantes.
A Netflix e a BonusXP tentaram trazer uma nova imagem para elas, porém não com muito sucesso. O título anterior da parceria entre ambas, Stranger Things 3: The Game não conseguiu cativar o público e mal teve espaço para brilhar. O mesmo foi tentado em The Dark Crystal: Age of Resistance Tactics, porém acabaram com resultado igual: um jogo raso que não se sustenta em sua própria premissa.]
The Dark Crystal: mais do mesmo
O que podia dar errado num jogo baseado num show que usa bonecos em pleno Séc. XXI? Primeiramente, gostaria de deixar claro, não existe nada de errado com a série e nem com seu filme antigo, O Cristal Encantado. Mesmo utilizando figuras que não são computação gráfica, a magia se mantém a mesma que foi empregada no longa-metragem de 1983 e traz de volta um universo ainda mais denso e com tramas interessantes.
Ué, mas eu devia estar falando do jogo, certo? Corretíssimo, mas o primeiro fator que deve se atentar ao The Dark Crystal: Age of Resistance Tactics é que a história, personagens e tramas são exatamente iguais à série, sem novidades ou elementos adicionais. Então, se você assistiu ao programa, a história é meio obvia, sem tirar nem colocar nada.
E aí se dá a primeira falha. Todas as cenas são contadas por pequenos quadrinhos, com conversas rápidas e que muitas vezes podiam ser utilizadas para enriquecer ainda mais o universo. Porém o que se vê é o contrário, caso você já conheça o conteúdo. Você é reapresentado a tudo pela milésima vez, tem de acompanhar a jornada igual daqueles personagens de forma muito similar e tudo se transforma em apenas uma repetição.
Taticamente falho
Porém, como disse na introdução, isso já era esperado de uma adaptação. O que chamou a atenção no título não foi a história contada, mas sim a forma como o jogo representaria ela através de combates táticos. Para mim, que sou fã de Fire Emblem, Pokémon Conquest, Hoshigami e similares, era onde a surpresa poderia vir. Mas confesso que a decepção foi tanta quanto ao fato da adaptação não trazer algo bacana no conteúdo da série.
A ideia da BonusXP do gênero tactics parece acertada, mas você sente que algo se perdeu muito no caminho. Além dos inúmeros delays e pequenos travamentos que o game oferece, os combates não funcionam de uma forma boa no quesito mecânica. Personagens no lv.1 que possuem técnicas que mal podem usar, sistema de profissões quais algumas mais atrapalham do que auxiliam, missões simples e repetições excessivas de cenários desapontam.
Além disso, com tantos RPGs existindo no mundo dos games, é impossível que a empresa não tenha se atentado a pequenos detalhes que melhoram a vida do jogador. Por exemplo, eu estou com um personagem na minha party cujo equipamento estou modificando; se eu quiser alterar para trocar as armas de outro, eu tenho de voltar ao menu inicial e de lá selecionar o outro guerreiro para, aí sim, equipá-lo devidamente. Todos os outros jogos do gênero permite que isso seja feito com o apertar de um R2/L2, por exemplo.
Técnicas como “Voar” são completamente subutilizadas. Tal técnica, ao invés de permitir confrontos aéreos entre oponentes, só funciona como uma segunda movimentação no meio do seu turno. Existem várias habilidades iguais entre personagens da mesma party, podendo ter sido mais diversificado.
O título é um jogo simples de se aprender e os novatos compreenderão perfeitamente como funciona apenas na primeira partida. Sem muitas firulas nem regras insanas que todo game tático possui, ele cativará aqueles que não conhecem nada do material e desejam entrar nesse universo.
Com legendas em português, ele possui apenas algumas vozes sendo utilizadas durante o game. A trilha-sonora é repetitiva e, apesar de estarmos em 2020 e o debate sobre gráficos não ser mais aplicável, percebe-se que a movimentação de personagens e de progressão de cenário são bem simplórias, não condizendo com a atual geração de videogames que estamos. Existem jogos de 8bits mais bonitos no mercado.
The Dark Crystal: Age of Resistance Tactics funciona, você pode jogar e até se divertir com a história, além de ser uma porta de entrada mais simples para o gênero. Mas não se segura para quem realmente gosta do material, seja por quem adquirir pensando no RPG tático ou quem é fã da série e quer reviver aquelas aventuras em outra mídia.