Jamais imaginei ter a oportunidade de analisar um jogo para mobile e ainda mais um que fosse a versão digital de um jogo de tabuleiro ou board game, chame como quiser. Quem sabe essa não é somente a ponta do iceberg, não é mesmo? Depois de analisarmos Hand of Fate 2, por quê não buscarmos por joguinhos em novos formatos? O que importa é trazer um bom jogo para quem curte fantasia medieval e muito combate, afinal é assim que podemos chamar Talisman: Digital Edition, da Nomad Games. Levando a diversão off-line e de mesa para uma versão digital que facilita a jogatina e proporciona ainda mais diversão, a qualidade visual e a adaptação fiel faz com que esse seja um clássico ao mesmo tempo em que pode ser uma porta de entrada para os curiosos de plantão. Esqueça a complexidade nos controles e gameplay dos consoles para vibrar a cada dado lançado, numa mescla de estratégia e sorte que torna esse jogo em algo ainda mais emocionante.
Se você não está acostumado com jogos de tabuleiro ou sempre teve curiosidade em saber como funcionam os famosos “jogos modernos de mesa”, Talisman é a oportunidade certa para você ter contato com um clássico e que possui muito conteúdo extra.
Banco Imobiliário Medieval
Criado por John Goodenough e Robert Harris, com artes de Massimiliano Bertolini, Ralph Horsley, Jeremy McHugh e Wil Springer, o jogo foi originalmente lançado em 1983 e vem ganhando novas atualizações, versões, expansões e hoje se encontra na quarta edição. Com temática medieval, para simplificar a explicação e entendimento de quem está lendo essa análise, imagine um Banco Imobiliário, mas com combate e personagens que parecem terem saídos da Terra Média. Basicamente você rola os dados, anda até a cada indicada e aplica o efeito descrito nela, normalmente envolvendo algum combate que vai fazer com que alguma alteração aconteça para fortalecer ou enfraquecer seu personagem. O tabuleiro, diferente de avenidas e prédios, é composto por três trilhas que simulam de montanhas e vilarejos a desertos e finalmente o objetivo final: a sala com a coroa de comando.
Tudo isso existe, pois um poderoso mago, morto há muito tempo, utilizou a Coroa de Comando, forjada no Vale do Fogo (olha o “Um Anel” do Tolkien aí!), para governar a terra de Talisman. Após viver por muitos séculos, o mago previu que não teria mais sentido continuar vivendo e resolver esconder sua coroa mágica no local mais perigoso e “seguro”, contando com os mais fortes e temíveis guardiões. Como seu último ato em vida, proclamou que somente um campeão com força, sabedoria e coragem seria capaz de assumir o seu reino e usar todo o poder que a coroa permite.
Não é por menos que esse jogo é muito comparado à uma aventura de RPG, pois todos os 14 personagens disponíveis possuem vida, força, destreza, destino e ouro descritos em suas fichas, podendo aprimorá-los no decorrer do jogo a partir do combate com inimigos e loot de itens mágicos. Além disso você também contará com cartas de alinhamento para contribuir com “classes” quem você controlará e isso pode definir um gameplay mais fácil ou difícil. Para completar a aventura ao melhor estilo D&D com dados e tabuleiro (que saudade de Hero Quest!), mas de maneira mais simples, porém não se engane que a “simplicidade” no decorrer da sua jornada pela conquista da Coroa será fácil ou que não reservará momentos de muita tensão. Ver o seu personagem ser derrotado por alguma criatura ou até mesmo ser transformado em sapo (lembram de Presto, de A Caverna do Dragão?) não é nada difícil.
Versão digital ou de mesa?
O trabalho da Asmodee Digital é famoso por levar os principais jogos de tabuleiro para plataformas mobile e mantendo o que mais preocupa os fãs de jogos de mesa: a experiência que o jogo proporciona e sem pender para um simples “joguinho de celular”. Depois de diversos sucessos, que espero trazer aqui no Gamerview para quem tem interesse nesse assunto, Talisman: Digital Edition é realmente um primor e que consegue transportar a beleza do original para a tela do seu celular. A “paisagem” que acontece toda a aventura foi muito bem cuidada para manter-se fiel ao trabalho dos artistas da mesma forma como as miniaturas possuem cores e são bem detalhadas. Cartas e tokens também foram trabalhados com cuidado para que o jogador reconheça cada elemento em jogo. No entanto, um ponto negativo que chamou minha atenção foi a escolha para os textos, sendo que por ser um jogo que depende de muito conteúdo para ser lido, as caixas de texto não possuem o mesmo cuidado do restante e a customização na tipografia usada também não acompanha o restante do trabalho; esse detalhe do conteúdo em texto, na minha opinião, ainda continua sendo a melhor opção como apresentado na versão física do jogo com todo o conteúdo exposto desde o início, mesmo que isso possa dificultar um pouco a visibilidade do que está escrito ou da arte do tabuleiro e cartas.
De longe a praticidade de ter todo o conteúdo que o universo de Talisman possui na palma da sua mão é realmente um fator decisivo para você iniciar sua jornada e contar com mais de 10 expansões e conteúdos que melhoram imensamente a experiência. O aplicativo possui uma versão mais simples, Talisman: Prologue HD, a versão completa e com opção multiplayer, Talisman: Digital Edition, e ao menos 10 expansões, sendo The Harbinger o último lançamento e o complemento que testamos para complementar essa análise. Antes de falarmos sobre o novo DLC do jogo, gostaria de deixar claro que esse é um jogo que pode ser jogado sozinho ou até mesmo com pessoas locais ou online, afinal o multiplayer dele tem conexão com demais jogadores e conta também com o sistema “Pass and Play”; simulando uma partida original, você fará suas ações e passarão o device para seu amigo que estiver ao seu lado e acompanhando todas as decisões em grupos de até quatro players.
The Harbinger
Quando o Harbinger entrou no reino, ele trouxe consigo uma profecia de destruição iminente e uma série de sete presságios/agouros para você enfrentar: quando o sétimo aparece, o fim está sobre você. O Harbinger possui quatro cartas únicas de agouro, cada uma manifestando uma falha diferente. Nestes novos decks, as constelações se alinham, ameaçando a extinção da magia, os mortos se levantam de seus túmulos e lutam para derrubar os vivos, enfim chega o tempo do julgamento trazendo consigo a guerra, a fome, a morte, as pragas e outras formas de destruição.
No quarto, o mundo se fragmenta em muitas peças e o terreno se transforma de forma imprevisível. Os novos cards de terreno entram no jogo e alteram a paisagem, suplantando campos, desertos com áreas inundáveis e cidades com pântanos. À medida que o apocalipse se aproxima, mais e mais do reino é transformado até o sétimo agouro aparecer e todo o reino de Talisman se tornar uma devastação mortal.
Ninguém sabe se o misterioso Harbinger é a causa do apocalipse ou simplesmente um profeta que anuncia os agouros. O que importa para os jogadores é saber que onde quer que este homem idoso, cego e esfarrapado estiver, catástrofes vão surgir. A inclusão desse novo “inimigo” surge com uma nova e interessante mecânica. Quando o Harbinger entrar em um mesmo local que você estiver, não importando onde seja (incluindo masmorras, florestas ou profundezas), você é obrigado a puxar uma carta do deck dele ao invés do que oferece a aventura normal de cada região e um único dado deve ser rolado. O resultado oferece uma nova gama de possibilidades, forçando-o a preencher seu espaço com inimigos, seguidores traiçoeiros e eventos imprevisíveis. Ou algo pior ainda pode acontecer: o resultado do dado pode fazer com que a catástrofe ativa seja descartada e a próxima carta ativada, deixando o reino mais próximo do fim dos tempos.
O novo conteúdo lançado pela Asmodee consegue acrescentar muito mais opções, desafios e, claro, criaturas; além de o Harbinger, você terá a opção de enfrentar os Cavaleiros do Apocalipse. São diversos cards de aventura, feitiços e cartas de terreno, bem como 32 cards de agouros que vão desencadear catástrofes, que aplicam efeitos contínuos ou até mesmo por ativação, além de dois finais alternativos para sua aventura, como resultado dos novos perigos, e três novos personagens para balancear o jogo. Esse acréscimo faz com que a urgência dos acontecimentos e a sua aventura fique cada vez mais complicada e elevando a preocupação e aflição, deixando o jogo ainda mais desafiador e interessante.
Vale um 20 no dado?
Se após tudo isso você tiver alguma dúvida sobre conhecer e jogar versão digital quanto a de mesa, que continua sendo lançada lá nos EUA pela Fantasy Flight e aqui no Brasil chegou pela Devir, eu só posso afirmar que esse é um dos clássicos mais simples de aprender, fácil de jogar e divertido. Talvez um dos pontos negativos seja a duração do jogo, que pode facilmente chegar a mais de duras horas, em contrapartida é um bom jogo de entrada para quem não possui experiência com esse tipo de jogo. Também pode ser um ótimo convite para os mais curiosos e que não tem familiaridade com RPGs, porém não espere grandes feitos de um jogo que possui suas limitações nas mecânicas ou até mesmo sistema de combate, mas que favorece muito o fator replay por conta dos diversos desafios.