A série Monkey Island tem um significado para mim que poucas outra tem. Tenho memórias tão boas e nostálgicas dos três primeiros jogos da franquia, que acho difícil que algum outro game chegue, algum dia, a me causar o mesmo impacto que eles me causaram. É por isso que a notícia de um novo jogo na série foi uma boa coisa para mim. Essa notícia ficou ainda melhor ao saber que a encarregada de dar vida ao quinto jogo seria a Telltale Games, empresa que vem fazendo um excelente trabalho com Sam & Max, Strong Bad’s Cool Game For Atractive People, entre outros. É verdade que o peso que Ilha dos Macacos traz consigo é maior do que o dos outros games com os quais a empresa trabalhou, mas não acredito que exista alguma outra mais capaz atualmente de trazer Guybrush Threepwood de volta. E, de fato, ela não desapontou.
Tales of Monkey Island, assim como os outros jogos lançados pela Telltale, será dividido em episódios, que serão lançados mensalmente. O primeiro, Launch of the Screaming Narwhal, chegou com um grande impacto. O site da companhia ficou fora do ar por várias horas, tamanha era a demanda pelo jogo. O capítulo começa com Guybrush Threepwood, o poderoso pirata, indo salvar sua amada, Elaine, das mãos do pirata fantasma LeChuck. Não vou entrar em detalhes da trama para não estragar a aqueles interessados. O que importa é que, rapidamente, Guybrush se encontra preso na ilha de Flotsam, na qual estranhos ventos sopram contra a ilha constantemente, todas as horas do dia, todos os dias do ano. Devido a isso, qualquer um que acabe desembarcando em suas praias fica eternamente preso, impossibilitado de navegar para longe.
Aqueles já acostumados com o estilo Point and Click irão reconhecer a mecânica do jogo rapidamente. Basicamente, tudo que você deve fazer é clicar em objetos para que Guybrush os analise ou os use, dependendo de cada situação. Combinando seus itens, ou usando-os em outros elementos do cenário, você resolve alguns dos enigmas, o que faz a trama caminhar em frente. A única coisa estranha em relação aos controles é que, ao invés de simplesmente usar um clique para se locomover, foi decidido que é necessário segurar o botão do mouse e o arrastar na direção em que se deseja caminhar. O problema é que o comando nem sempre é compreendido e apontar para a direção correta é um pouco sem jeito e duro. Mas, com exceção disso, não há do que reclamar.
No entanto os controles de point and clicks eram, geralmente, os mesmos para todos os jogos. E certamente não eram eles que faziam Monkey Island ser especial. Felizmente, o elemento que faz Ilha dos Macacos ser Ilha dos Macacos está presente em Launch of the Screaming Narwhal. Os diálogos são muito bem escritos e continuam engraçados como sempre foram. Dominic Armato, a voz de Guybrush, continua a fazer um trabalho excelente, com sua rica atuação e timing de piadas perfeito. O mesmo pode ser dito dos outros atores que fazem parte do elenco, mas há uma ressalva. Com a exceção do protagonista e de LeChuck, as animaçõe dos outros personagens não são muito bem feitas. Isso faz com que, às vezes, haja uma grande entonação em suas falas, mas seus rostos não conseguem acompanhar a emoção do que está sendo dito. Além disso, o modelo de alguns dos personagens são repetidos, com mudanças apenas de cor de pele e acessórios sendo usados, o que é um pouco decepcionante. Não estou pedindo gráficos de última geração em um título vendido exclusivamente via download e com um preço tão módico; no entanto, os cenários são tão coloridos e ricos em detalhes que esses modelos repetidos realmente chamam a atenção. A música merece uma nota à parte: Abrindo o jogo com o tema clássico da série e depois partindo para novas melodias, ela cria o clima perfeito de um jogo da Ilha dos Macacos.
Ainda assim, devo mencionar que este primeiro capítulo não apresenta grande dificuldade. Eu o terminei em pouco menos de três horas, e não houve um único enigma no qual tenha ficado travado. Porém, vale lembrar que se trata apenas do primeiro episódio, então há grandes chances de que ele tenha servido como uma introdução ao esquema geral do jogo, e que a dificuldade de seus puzzles aumente gradualmente.
No fim das contas, a Telltale acertou no aspecto mais importante de todos: o clima. Não vou dizer que ele aqui seja tão profundo quanto em seus antecessores. Mas, com certeza, a empresa não criou um mero jogo que contenha nomes de personagens conhecidos. Ela criou, verdadeiramente, um novo jogo da Ilha dos Macacos, e foi essa mesmo a sensação que tive ao jogá-lo. Mesmo que a série não tenha nada de nostálgico para você, o game ainda oferece uma experiência sólida, que não deve ser perdida.