Com o passar do tempo, o mundo dos animes começou a ser um grande influenciador do universo pop, contando com inesquecíveis personagens e uma fan-base mundo afora, espalhando conhecimento sobre o estilo de arte, cultura e novas vertentes. Atualmente no meio otaku, a antropomorfização de objetos e gender swap está com força total – Eart-chan e Bowsette que o digam -, no entanto a série Hyperdimension Neptunia já vem inserindo o gênero há tempos nos games e agora traz sua mais nova e inusitada aventura em Super Neptunia RPG.
A série famosa por personagens vestidas em cores vibrantes e com personalidades dóceis, vem novamente trazer as quatro protagonistas, antigas rivais e agora amigas, em uma nova e inusitada aventura. Desta vez, ao contrário de um mundo 3D, os jogadores irão explorar o universo de Gamindustri em um ambiente 2D, contando com belos cenários e as queridas personagens que agora se encontram mais uma vez com amnésia, precisando de nossa ajuda para relembrar seus papéis como Deusas deste universo.
Guerra de consoles com um fim amigável
Super Neptunia RPG é a primeira entrada da série no 2D, trazendo Neptunia, Noire, Vert e Blanc no que parece ser uma aventura diferente de Hyperdimension Neptunia ReBirth, onde as mesmas também perderam a memória. A diferença se dá no fato de ReBirth se tratar de um remake e reinventar a história deste universo, enquanto Super Neptunia RPG mostra que as personagens sabem seus nomes, porém desconhecem suas habilidades e poderes, mas são guiadas pela misteriosa Chrome, uma guerreira que parece saber muitos sobre elas.
Para aqueles que desconhecem a série, o jogo se passa no universo fictício de Gamindustri, uma terra onde tudo orbita ao redor de games. Neptunia é a manifestação física do fictício Sega Neptune, conhecida como Purple Heart e reina sobre as terras de Planeptune. Noire por sua vez representa o Playstation e comanda a região de Lastation, Vert porta a bandeira da Microsoft, ao ser a versão humanizada do Xbox e domina a região conhecida como Leanbox, e Blanc representa os consoles da Nintendo e monitora os domínios de Lowee. Se está achando confuso agora, imagine para quem vem acompanhando a série desde 2010, tendo que decorar o nome das Sisters, personagens de apoio às Deusas que representam o PsVita, Sega GameGear e Nintendo DS.
Super Neptunia RPG começa com Neptune em sua forma Purple Heart lutando contra sua própria sombra, com a ajuda das outras deusas. Após derrotar a sombra, a mesma retorna e suas companheiras desaparecem, no entanto isso não passa de um pesadelo. Um membro do grupo Bombyx Mori- uma organização liderada pela jovem Filyn, que deseja dar um fim ao mundo dos jogos 3D – encontra Neptune dormindo em uma casa supostamente abandonada. Ao cobrar os impostos e perguntar onde se encontra o console e cartuchos de jogos de Neptune, a mesma diz não fazer ideia de onde estão ou de onde ela mesma está, afirmando se lembrar apenas de seu nome e de que é a protagonista do jogo.
Com isto, o jovem membro inicia Neptune na organização Bombyx Mori e a incube de fazer o recolhimento dos impostos da área baixa da cidade. Uma vez lá, Neptune conhece Chrome após um embate com outros membros do grupo Bombyx Mori e os deixa para trás se unindo à jovem Chrome. A mesma diz saber tudo sobre Neptune, sobre como ela é uma Deusa e como deve se unir a suas outras três companheiras a fim de impedir Filyn. Assim, Neptune dá seus primeiros passos em Super Neptunia RPG.
Amnésia, nos encontramos de novo
A premissa é simples, porém funcional para o universo de Super Neptunia RPG. Através disso o jogador pode acabar conhecendo e se familiarizando pela primeira vez com as personagens, caso desconheça a série, e para os fãs de longa data é uma nova experiência em todos os sentidos. O jogo conta com tudo o que se pode esperar de um RPG básico, sistema de equipamento, batalhas através de encontro com criaturas como Dragon Quest, porém deixa a desejar na falta de uma árvore de habilidades ou coisa do tipo. A movimentação pelo mundo de Super Neptunia RPG se dá no estilo de plataforma, ou seja, pelas cidades e campos do jogo o jogador irá se movimentar pelo cenário 2D como se estivesse jogando um jogo de plataforma.
O que parece não ser a área da empresa, tendo em vista que o sistema é totalmente difícil de se executar, permitindo o jogador andar, atacar criaturas e alavancas, pular e utilizar um dash. No entanto, a movimentação de Neptune é um tanto quanto travada em relação aos pulos. Em alguns momentos, os comandos de pulo e dash simplesmente não funcionam e causam quedas ou encontros com criaturas que o jogador possa estar tentando evitar. Alguns podem dizer que isso foi feito com intuito de replicar a movimentação travada de jogos antigos, mas posso afirmar que se este foi o caso, infelizmente falharam.
Como dito anteriormente, a pior parte da movimentação travada é cair em uma batalha indesejada, afinal de contas, até o momento, o sistema de combate se mostra confuso e muitas vezes até bugado. Durante o combate, o jogador possui um contador de pontos de ação – este que pode acumular até 12 pontos – e uma barra de ataque especial ao lado, que aumenta quando atacamos os inimigos. O controle das personagens não se dá por menu ou por um combate mais dinâmico como em Final Fantasy XI, e o jogador determina quem irá apertar o botão referente a personagem em um círculo de combate. Ou seja, caso aperte X, irá utilizar Neptune, caso aperte Y, pode usar Noire e assim por diante.
Ainda durante o combate, o jogador pode utilizar botões como R1 e L1 para alternar o líder da party, mudando o elemento principal do grupo e o modo de jogo. Caso esteja utilizando Neptune, o grupo usará a configuração Strike e será voltada para ataques físicos; com Noire, o grupo utiliza o sistema Magic e o jogador terá magias relacionadas ao elemento das personagens; Blanc traz o modo Heal e permite que as CPUs ataquem enquanto se curam; e Vert traz o sistema de Support, onde a defesa é incrementada.
Não é algo tão difícil de se dominar, porém o fato de gastar pontos de ação para mudar a líder da party pode causar alguns transtornos. Outro ponto irritante é que diversos personagens possuem ataques que simplesmente negam a ação do jogador, então se prepare para algumas longas batalhas. Felizmente, caso o jogador utilize o botão referente ao R2 no Playstation, pode acelerar as batalhas, ou seja, nada de batalhas de duas horas de duração mais, mas se mantenha atento para quando utilizar esse sistema, pois tanto quanto você pode matar um inimigo rápido, o contrário pode muito bem ocorrer.
O mundo de Super Neptunia RPG é bonito, com cenários e personagens que evocam uma estética de RPG e animes fantasiosos antigos. As áreas são um tanto quanto clichê, utilizando cenários comuns de RPGs como vulcões, geleiras e outros locais comuns tanto aos jogos de mesa quanto nos eletrônicos. É algo um tanto quanto frustrante, afinal de contas os outros jogos da série também são RPGs, e acredito que uma amálgama entre os dois mundos, tanto o clássico de RPG usado em Super Neptunia RPG quanto o mais moderno e tecnológico mundo da série Hyper e Megadimension, seria mais interessante logo de cara.
O design das personagens continua clássico, contando com o visual básico das quatro protagonistas e suas formas de Deusas padrão. As outras personagens parecem se basear no estilo visual de personagens da série Tales of e Fire Emblem, ou seja, roupas medievais estilo anime e armaduras pouco úteis. Ester, por exemplo, não utiliza armadura, porém possui um grande robô que a leva para todo lugar com seus jet-packs e também serve como arma, já que conta com longos braços extensíveis. Para um mundo fantasioso funciona, porém ainda assim são criações básicas de personagens.
No entanto o que realmente me incomoda é o fato de que alguns modelos de personagens são constantemente re-utilizados. Como as garotas da guilda, que são vistas em diversas áreas diferentes em menos de uma hora de gameplay, porém mesmo que possuam nomes diferentes, elas ainda servem como inimigas na falta de escolha dos produtores.
Também não há muito o que se esperar da trilha sonora, infelizmente. O jogo conta com uma opening muito bonita, porém a música ingame é totalmente despercebida, contando com trilhas fracas e pouco interessantes para o jogador. As músicas de batalha são poucos inspiradoras e impactantes, o que acaba por dar um ar pouco imaginativo para o jogo de estreia da Artisan Studios.
Infelizmente Super Neptunia RPG cai por terra em seus objetivos, ao entregar um jogo simplista e pouco inovador. Claro que existem pontos interessantes de enredo, como a utilização dos três mosqueteiros da organização Bombyx Mory, a inclusão da personagem If e Compac de jogos anteriores, e até mesmo uma antropomorfização da própria empresa Artisan Studios na personagem Artisan.
Super Neptunia RPG não é old school como afirma, e sim ultrapassado, trazendo uma mecânica pouco coesa, gameplay monótono e uma história pouco interessante para os fãs menos hardcore da franquia. Pode até ser uma porta de entrada para novos fãs, mas esses dificilmente irão até o fim.