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Vou começar esse review com um shoryuken no beiço: ninguém gosta de Street Fighter V. O game anterior mais errou do que acertou, deixando uma legião de fãs desapontados com a Capcom. Afinal, o jogo não faz juz como sequência do excelente Street Fighter IV. Agora com Street Fighter 6 o papo é outro: este sim pode ser chamado de sucessor, indo muito além de um bom gameplay e trazendo uma série de novidades para a franquia.

Luke, antes de ser tornar o garoto propaganda de Street Fighter 6, deu as caras na última temporada de Street Fighter V, no finalzinho de novembro de 2021. Um lutador de MMA muito interessante, que serviu para reaquecer a comunidade e criar fôlego para a Capcom desenvolver o próximo game. Essa estratégia deu certo e Luke, além de ter sua história expandida, é seu treinador no modo de campanha World Tour. Junto dele entraram mais 6 lutadores inéditos: Jamie, Kimberly, Marisa, Manon, Lily e JP.

Da turma conhecida temos Ryu, Ken, Chun-Li, Guile, E.Honda, Zangief, Dhalsim, Blanka, Cammy, Dee Jay e Juri. Achou pouco a lista com 17 lutadores? Relaxa que, como de praxe, a Capcom irá adicionar novos personagens via DLCs. Akuma e Rashid, por exemplo, estão garantidos. Para a estreia, achei a lista bem servida. Até porque vai demorar para você dominar o gameplay dos novos lutadores, mesmo com a adição do controle moderno.

Street Fighter 6
Deram um nó no Dhalsim

Gameplay acessível à todos

Se você teve a oportunidade de testar Street Fighter 6 no ano passado, durante o beta fechado ou na Brasil Game Show, experimentou o tal do controle moderno: uma configuração simplificada com apenas 4 botões, sendo que um deles executa sozinho os golpes especiais. Basta mudar o direcional junto deste botão para alternar entre os especiais de cada personagem. Isso permite, por exemplo, soltar um hadouken sem esforço. Agarrão e Super Art seguem no padrão de antes, apertando dois botões juntos para executar (ou L2 como atalho pro agarrão).

Outra novidade bem vinda é o combo assistido, de fácil execução e excelente para atrair novatos para a franquia. Basta segurar o R2 para entrar no modo Auto e apertar um botão repetidamente. Essa opção encaixa até mesmo um Super Art no final do combo. Agora ninguém pode reclamar que não joga bem jogo de luta. E digo mais: controle moderno vs controle clássico não define um jogador melhor que o outro. Seja você um jogador casual ou um pro player que compete profissionalmente, o segredo da vitória sempre estará na estratégia, em obsevar o adversário e reagir conforme seu ataque e defesa.

E por falar em estratégia, entra aí mais uma novidade: a barra de Drive. Com ela você realiza 5 técnicas diferentes, que são o Drive Impact, Drive Parry, Overdrive, Drive Rush e Drive Reversal. Drive Impact (L1) é um ataque que absorve o golpe adversário, abrindo espaço para o contra-ataque. Se ele estiver no canto do cenário, você consegue quebrar sua defesa rebatendo-o contra a parede. Drive Parry (R1), se realizado no tempo certo, enche a sua barra de Drive. O povo que joga soulslike aí vai estar familiarizado.

Street Fighter 6
Com o controle moderno todo mundo joga bonito

Overdrive você executa com R2 segurado e mais o botão de golpe especial, turbinando o golpe em um “OD” (o EX dos jogos anteriores). O Drive Rush é a corrida pra frente, que se realizado com sucesso após o parry gasta apenas uma barra do Drive. Se feito após um golpe normal, gasta 3. Por fim, o Drive Reversal é um contra-ataque realizado enquanto está defendendo, apertando R1 e pra frente junto. Causa pouco dano no adversário, mas é um jeito de sair do sufoco quando a luta apertar.

Estou entrando bastante em detalhes aqui porque o jogo em si não explica tudo de bandeja. É preciso entrar no modo Fighting Grounds e ir pra aba Prática, para então entrar na opção Tutoriais e estudar a fundo. Aqui sim você encontrará informações intermediárias e avançadas para dominar Street Fighter 6 de vez.

Street Fighter da quebrada

É no Fighting Grounds que você encontra também o modo Arcade (com história, estágio de bônus e recompensas), o Versus, a Partida Especial (com regras e mecânicas diferentes) e o Online. Nada de especial aqui, exceto pela evolução monstruosa do modo de treinamento, com várias opções e a inteligência artificial monstruosa da CPU no nível 8, que deu uma surra até no Daigo.

Street Fighter 6
Street Fighter 6 é repleto de animações incríveis

Street Fighter 6 traz também outras duas opções de conteúdo: o World Tour e o Battle Hub. No primeiro, você cria um personagem e sai explorando Metro City com movimentação livre pela cidade. Com um celular na mão e vários recursos (câmera, mensagens, mapa, música, etc), você realiza missões principais e secundárias, desbloqueia pontos de viagem rápida, visita lojas para gastar com roupas e aparência, participa de minigames e conhece os lutadores lendários da franquia.

Você basicamente copia o estilo de um mestre e vai, aos poucos, mesclando os golpes especiais e Super Arts de cada um para personalizar o seu próprio lutador. O sistema de nível também permite gastar pontos em atributos de reforço como aumento da defesa, da força do soco e o Drive Stall, que permite desacelerar o tempo.

Você enfrenta os inimigos como se estivesse em um RPG, encostando ou chegando na voadora para iniciar a batalha com vantagem, muitas vezes contra mais de um adversário. Rola umas doideras, como robôs para acertar com golpes no ar ou agachado. E aqui entram também os modificadores, como lutar em um ferro velho tendo que ficar esperto com o que pode cair na sua cabeça.

Street Fighter 6
Bora fazer uns bicos em Metro City

O mapa é bem grande e tem bastante lugar para explorar, inclusive verticalmente. Configurando golpes especiais nos botões, você consegue quebrar obstáculos e assim alcançar baús e consumíveis que podem te ajudar bastante, como bebida energética que recupera vida e doces que dão bônus de dano por um breve período de tempo. O legal dessa exploração é que você encontrará easter eggs, além de destravar muitos extras.

É só uma pena que o visual não seja lá grande coisa no World Tour. Olhando as lojas de perto, fica impossível não notar a falta de detalhes e texturas melhores. Não dá nem pra comparar com os gráficos do versus tradicional, cujo o visual ficou fantástico na RE Engine. Mas convenhamos que esta é uma bela adição à franquia, perfeito para treinar novatos e até mesmo viciar os veteranos com as recompensas oferecidas.

O Battle Hub funciona?

Deixei este por último porque não botava fé. E eu não poderia estar mais errado. A proposta do Battle Hub, de juntar jogadores de uma mesma região para interação entre seus avatares e confrontos organizados em arcades, funciona muito bem. Eu até fiquei na dúvida se a criação de personagem, inicialmente limitado e genérico, fosse um impeditivo para a criatividade. Pelo contrário, vi jogadores de níveis diferentes com avatares muito bons, como o Link, o D-2 da banda Gorillaz e o Luffy de One Piece. E isso tudo fica ainda mais engraçado com os emotes rolando solto.

Street Fighter 6
A Bandai Namco não deve estar nada feliz com isso

Esse ambiente virtual é apresentado ao jogador pelo host Eternity. Ainda é cedo para saber, mas a Capcom aparenta planejar eventos sazonais no Battle Hub. Não duvido que role temas como Natal, com árvore, presentes e tudo mais. Já tem até propaganda de tênis rolando nos painéis, da marca Onitsuka Tiger. E há também uma loja oficial, por enquanto fechada, com itens cosméticos pra você comprar.

Retornando aos novos personagens, é evidente que Kimberly seja a nova ninja da franquia, com gameplay semelhante ao da Ibuki, e há inspirações claras como Jamie e seus movimentos à lá Jackie Chan em “O Mestre Invencível”. Aliás, o rival de Luke é também primo de Yun e Yang. Gostei demais da italiana Marisa, a nova “grappler” e que carrega nos braços o adversário derrotado em sua animação de vitória. Manon é uma francesa bem estilosa, uma modelo que luta judô e também dança balé.

JP é um senhor educado, mas com segundas intenções. Um antagonista que lança magias com sua bengala para atacar à longa distância e criar armadilhas em combate. Por fim temos a garotinha mexicana Lily, que vem da mesma tribo de T. Hawk e Juli, a Thunderfoot. Ela é uma versão similar da Elena e a única a utilizar arma no jogo: clavas de guerra com cabeça esférica, conhecidas como “pogamoggans”.

Street Fighter 6
Este Super Art do JP é uma doidera só

Os lutadores conhecidos da galera retornam com mudanças interessantes no gameplay e especialmente no visual. Cammy cortou o cabelo, Blanka está mais humanóide e Dhalsim mais assustador. E.Honda está mais engraçado e Dee Jay ganhou o visual mais apurado que se espera de um jamaicano apaixonado por música. Seu novo cenário é um dos melhores do game.

Street Fighter 6 seria um jogo nota 10 pra mim se houvesse mais carinho com a Metro City do World Tour e as músicas. A qualidade visual é discrepante entre os modos, nem parece ser a mesma engine. No versus os cenários são todos muito bonitos, sofrem mudanças com os impactos da batalha e são riquíssimos em detalhes. Até os lutadores ficam machucados de acordo com o progresso da luta. Infelizmente, todas as músicas de estágio são genéricas, sem impacto ou identidade.

O game ainda carece de polimento em outros quesitos, como a tradução aparecendo por incompleto em algumas áreas, como “Seleção de person_” na tela de escolha dos lutadores. Mas tirando estes poucos pontos negativos, Street Fighter 6 é uma experiência perfeita e completa, que irá agradar todo mundo sem exigir habilidade prévia em jogo de luta.