Review – Star Wars Outlaws

Depois dos sucessos com Jedi: Fallen Order e Survivor, Star Wars Outlaws chega para cumprir muito bem a proposta de ser o primeiro jogo de mundo aberto da franquia da Disney. Numa colaboração entre Massive Entertainment e a Lucasfilms Games, esta é uma história inédita, que se passa entre O Império Contra-Ataca e O Returno de Jedi, em um jogo de aventura frenético, com muita ação e repleto de referências aos filmes e Universo Expandido.

Como um dos jogos mais aguardados de 2024, a Ubisoft provou mais uma vez que consegue entregar jogos competentes, interessantes e divertidos, mas que ao mesmo tempo não abre mão do seu estilo característico ao criar grandes espaços com listas infindáveis de missões secundárias e tarefas, enquanto acompanhamos a evolução da narrativa e dos personagens.

No papel da protagonista, Kay Vess, uma vigarista que trabalha em Canto Blight, aquele local do planeta Cantonica que aparece em Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi, na tentativa de fugir de O Sexto Kin, você acaba se envolvendo em um assalto ao Zerek Besh, uma nova quadrilha local que vem assustando o submundo. Depois de conhecermos Sliro Ruback, um dos criminosos mais ricos da Orla Exterior, Kay é traída pela Aliança Rebelde e deixada para trás, sendo obrigada a roubar a Trailblazer para fugir, uma das últimas naves EML 850 da coleção de Sliro, e acaba recebendo uma marca da morte ao ter sua cabeça colocada a prêmio pelo chefão.

O inimigo do meu inimigo é meu amigo

Ao falarmos da história de Star Wars Outlaws, o mais importante é ressaltar como os desenvolvedores conseguiram se desvencilhar brilhantemente dos Jedi e da Aliança Rebelde, sem recorrer ao apoio mais comum que a franquia possui. A Ubisoft está lançando uma história focada em no submundo, com muitas invasões, roubos, alianças, traições e tiros de blasters para todos os lados.

Mesmo com as diversas aparições de personagens famosos e que conhecemos por conta dos filmes, o que realmente brilha é o elenco principal de personagens, encabeçado por Kay Vess e seu parceiro, Nix, da raça merqaal e que foi criado exclusivamente para o jogo. Também temos o cuidado da narrativa em citar acontecimentos que se passam nos quadrinhos, com o recente arco do Reinado Escarlate, ou nos livros, com Marcas da Guerra.

Todos os personagens possuem profundidade e são muito bem trabalhados para criarem peso e importância na trajetória da protagonista, com raças já conhecidas pelos fãs, novos nomes e personalidades, chegando aos cameos muito bem pontuados como, por exemplo, Lando Calrissian e Temmin Wexley, entre outros que não vale o spoiler para não estragar a surpresa de ninguém.

Através de cinco planetas diferentes (Cantonica, Toshara, Kijimi, Tattooine e Akiva) e se esqueirando pelo submundo entre os sindicatos que controlam os locais ao lado do Império, Star Wars Outlaws se apoia em seu sistema de reputação como principal mecânica de jogo para movimentar a história. Kay precisará aceitar missões que exigirão escolhas do jogador, fazendo com que seja aliado ou traidor entre as facções criminosas e criando situações únicas para cada gameplay.

Você terá liberdade para decidir entre se aliar ao Sindicato Pyke, Aurora Escarlate, Cartel Hutt e Clã de Ashiga, fazendo com que sua reputação vá de péssima a excelente, facilitando ou dificultando seu acesso às regiões dos planetas que visitar. Prepare-se para muitos plot twists ao longo da história, ao se surpreender com a traição de alguns personagens, suas decisões levarem à morte de outros e o passado do elenco principal surgir com grandes revelações para o excelente fechamento que o jogo possui.

Com toda liberdade possível, Star Wars Outlaws oferece um diário com a história principal, pistas que precisarão ser coletadas para missões paralelas, investigação de mensagens criptografadas, tarefas fornecidas por contatos e contratos de trabalhos que Kay Vess receberá pelas cantinas ou territórios dos sindicatos. Todas elas com possibilidade de você cumprir uma promessa ou trair qualquer uma das facções, porém mesmo com a dependência das suas escolhas, o caminho não altera ou interfere no final do jogo e fica ao redor apenas da sua relação com Vail Tormin, Jaylen Vrax, a Rainha, Hoss, Lady Qi’ra, Gorak Palas Surat Nuat, Jabba e outros nomes importantes.

Mais pontos de interesse do que estrelas no espaço

Star Wars Outlaws possui loopings de jogo muito bem definidos e que talvez sejam encarados como repetitivos para alguns, no entanto eles estão diretamente ligados à história e inseridos em cada bioma ou sindicato. Kay Vess precisará investigar algumas pistas para chegar até um Especialista, personagem que acompanhará nossa protagonista e fornecerá equipamento e/ou habilidades, para formar a equipe necessária capaz de derrotar Sliro em um novo assalto, com a promessa de roubarem 157 milhões de créditos em beskar não marcados.

A partir dessa premissa você vai precisar se infiltrar por territórios controlados pelos sindicatos ou em instalações do Império, ajudando ou resgatando esses Especialistas. São esses momentos que possuem uma estrutura muito similar entre oito personagens, pois exigem a viagem até um determinado planeta, seu deslocamento em terra, aproximação para identificar o melhor ponto de invasão e, por fim, uma grande sequência furtiva para não ativar nenhum alarme ou ser vista pelos capangas que controlam o espaço.

Viajar por entre os planetas rendem momentos épicos à bordo da Trailblazer, com uma jogabilidade fluida no controle da sua nave pelo espaço, ou com sua speeder, para atravessar as grandes distâncias por terra e água. Mesmo com a opção de viagem rápida, esses momentos rendem boas perseguições e desafios que exigem destreza para navegarmos através de outros dois conjuntos de controles. Muito responsivos e fáceis, se locomover em Star Wars Outlaws é prazeroso e agradável, seja pelo visual ou para descobrir situações locais que precisam da sua interação ou intervenção.

Mesmo sem conseguir deixar de lado seu estilo de jogo, a Ubisoft conseguiu amarrar muito bem os motivos para que Kay Vess e Nix viagem por diversos locais por conta da sua evolução, seja para desbloquear novas habilidades ou melhorar seu blaster, speeder e nave. Seja pela história, fazendo com que o jogador visite pela primeira vez as ruas de Canto Blight, o interior de um Sarlacc e uma fábrica de droides desativada, da época das Guerras Clônicas, aos locais mais conhecidos como o Palácio do Jabba e as areias de Tattoine, a exploração não é gratuita, por mais que algumas missões sejam simples e sem o desafio da história principal.

Com a opção de jogo fácil, médio e difícil, a curva de aprendizado acompanha sua evolução como vigarista e favorece o aceite de novas missões, inclusive as secundárias. No entanto, Star Wars Outlaws possui uma história muito linear, porém seu desenvolvimento poderia ser mais linear e menos aberto, já que os contratos de trabalho funcionam muito bem para a reputação de Kay, porém não interferem no andamento do jogo por estarem muito ligadas à obtenção de créditos ou materiais para as melhorias que você precisará ao longo do jogo.

Star Wars Outlaws também oferece uma movimentação fluida para Kay Vess, mesmo que através de controles que exigem aprendizado pela escolha do R3 como um dos principais comandos para interação. No entanto, você tem certa facilidade para dar comandos ao Nix, tendo seu companheiro como excelente opção para pegar ou roubar itens, interagir com os cenários, ajudar na resolução de puzzles e, principalmente, apoiar em ataques furtivos. Através do L1 você consegue visualizar a trajetória do pequeno merqaal ou ativando suas ações rápidas conforme o alvo, além de usar o direcional para cima acionando sua habilidade sensitiva para identificar inimigos, itens e estruturas. Um verdadeiro parceiro e mascote, como a série jamais proporcionou em jogos anteriores.

Dank ferrik? Será?

Ainda que sofra com alguns problemas de movimentação e até mesmo glitchs para o início de missões ou atropelamento de falas, Star Wars Outlaws consegue cumprir a missão que muitos jogos já tentaram: fluidez em seu trajeto. Fugir a pé do Império, subir em seu speeder para escapar de uma perseguição, chegando ao porto para usar a Trailblazer e viajar pelo espaço, tudo isso sem tela de loading aparente e usando apenas cenas de transição para carregar o jogo. Poderia ser melhor? Com certeza, mas dentro do seu escopo e tamanho de jogo, com certeza é uma evolução gratificante para Star Wars em seu primeiro jogo de mundo aberto.

O visual do jogo está longe de ser uma frustração, com momentos que parecem serem tirados de algum dos novos seriados da franquia. Os locais possuem vida, mesmo a vastidão desértica de Tattooine, com muitos NPCs e ações acontecendo ao redor, trabalhando muito bem as características de cada planeta, sua fauna e as diversas raças que habitam esse Universo Expandido de Star Wars. A variedade de inimigos também acompanha esse esforço dos desenvolvedores, sem decepcionar com a repetição de inimigos ou personagens com quem interagimos, inclusive com visuais completamente diferente para Pykes, Mon Calamarianos, Rodianos e Sullustano.

A trilha sonora faz com que Star Wars Outlaws seja uma obra prima comparável aos filmes, com a ambientação perfeita para locais como as cantinas, instalações do Império e os temas comuns de cada planeta. Respeitando e seguindo muito o estilo do que temos na trilogia clássica, as músicas criam uma imersão familiar aos fãs e agrada por criar uma imersão perfeita para o estilo de jogo, criando sempre urgência em momentos de tensão, perseguições e fugas.

Inegável que este lançamento da Ubisoft entrega um excelente trabalho da Massive Entertainment, conseguindo ser uma boa porta de entrada para a nova geração de jogadores e curiosos que nunca tiveram a oportunidade de curtir um bom jogo da franquia. Star Wars Outlaws é perfeito para quem busca uma boa história, ação frenética e aventura repleta de momentos épicos, sendo obrigatório para quem curte os filmes e seriados ou acompanha o Universo Expandido que vem sendo trabalhado atualmente.

Assim como Kay Vess, embarque nessa jornada pelo submundo sem medo, encarando missões desafiadoras, resolvendo quebra-cabeças, hackeando sistemas e até jogando partidas de sabacc, sabendo que precisará investir dezenas de horas para completar todos os trabalhos como uma vigarista, tudo muito bem localizado para o português e com um excelente trabalho de dublagem. Se você gosta de Assassin’s Creed e Tomb Raider, esse é o jogo perfeito para você!