Histórias de horror são sempre recheadas de clichês, no entanto o gênero vem recebendo uma forte renovação atualmente. Da mesma forma que os filmes, jogos de terror vem focando cada vez mais nos modelos clássicos de storytelling e gameplay, e é aqui que Song of Horror mostra todo seu potencial em ser uma experiência de arrepiar os cabelos.
Trazendo uma história episódica como a série The Council, Song of Horror é ainda mais hipnótico e marcante. Com cinco episódios que apresentam personagens que vão e voltam, em um gameplay desafiante e atmosférico, Song of Horror fará com que o jogador realmente pense antes de agir.
Eu não consigo parar de ouvi-la
Song of Horror é, sem dúvida alguma, uma daquelas ótimas histórias sobre objetos amaldiçoados. De acordo com a apresentação, descobrimos que o famoso escritor e historiador Sebastian Husher e sua família foram vítimas de uma terrível maldição. Após receber de seu amigo Isaac Färber uma antiga caixa de música, Sebastian começa a ouvir sua melodia o tempo todo. As crianças começam a ver uma estranha porta pela casa, e sua esposa sente uma terrível presença no local.
Dias depois, a família Husher desaparece misteriosamente, deixando a casa e seus pertences todos para trás. Com isto, seu supervisor Daniel é encarregado de ir até a mansão buscar os manuscritos de Sebastian, que deveriam ter sido entregues mais cedo naquele dia. Assim que chega no local, Daniel sente e ouve a caixa de música no escritório de Husher. Lá, ele vê a mesma estranha porta que as crianças haviam visto. Após isto, Daniel também desaparece dentro da mansão.
Agora com o desaparecimento de Daniel e da família Husher, quatro pessoas resolvem olhar o ocorrido. Entre eles, um casal de amigos de Daniel, Sophie Van Dened e Erienne Bertrand. Um ex-funcionário da família Husher chamado Alexander Laskin e a inspetora de segurança Alina Ramos. Cada qual com sua intenção ao entrar na mansão, no entanto nunca juntos, eles irão tentar sobreviver à fúria do que quer que seja que habita a inocente caixa de música, enquanto também tentam desvendar os mistérios dela.
Jamais apague a luz
Partindo da premissa da antiga casa assombrada, Song of Horror induz um terror bem calculado e planejado. O jogo não utiliza inúmeras criaturas ou jumpscares, ao contrário, ele faz o próprio jogador se sufocar de ansiedade a caminho do próximo susto. Logo, Song of Horror utiliza de elementos mais sutis para causar horror no jogador, como fazer com que a personagem sinta frio, correntes de ar e sombras que se manifestam pela casa, portas que fecham sozinhas e sons estranhos pela mansão.
Outro grande fator em Song of Horror é a incerteza das escolhas. O jogo te permite explorar a mansão, isso é, enquanto resolve os enigmas para avançar pelos cômodos da mesma. Algumas áreas já se encontram abertas, outras estão trancadas ou bloqueadas por dentro. Assim, o jogador deverá focar em acessá-las, no entanto, sempre que se avança em um enigma ou abrimos uma nova área, os espíritos ficarão cada vez mais inquietos. Com isso, é necessário prestar cada vez mais atenção antes de se abrir uma porta, afinal nunca se sabe o que pode estar esperando do outro lado.
O jogador pode fazer com que o personagem se encoste contra uma porta para ouvir o que quer que esteja do outro lado. Caso ouça sons como vento forte, lamúrias ou o choro de alguém, sequer pense em abri-la, pois será a ultima coisa que seu personagem irá fazer. Além disto, os espíritos podem atacar diretamente o jogador de duas maneiras: a primeira através de uma invasão ao nosso plano, e a segunda quando resolvem invadir o mesmo cômodo no qual nos encontramos.
No primeiro caso, quando as criaturas irão surgir uma vez gritando, devemos encontrar um esconderijo onde podemos nos salvar. Mas para isso acontecer é preciso ter calma, e o jogador deve apertar a barra de espaço em sincronia com as batidas do coração do personagem, para acalmá-lo e evitar sua morte. No segundo, é preciso utilizar a tecla E para ganhar força e ao mesmo tempo utilizar Espaço para fechar a porta.
O peso de uma ação leviana
Como dito acima, em Song of Horror o jogador pode escolher entre quatro personagens para explorar a mansão Husher. Logo, é possível notar um alto valor de replay aos episódios, afinal cada interação com os objetos e “residentes” da mansão será diferente para cada um. Mas outro grande fator são os itens e maneiras de se iluminar os locais. Alina, por exemplo, possui uma lanterna e um rádio comunicador, e a lanterna possui uma grande força de iluminação, enquanto o rádio capta os espíritos através de interferência.
Assim sendo, é possível distinguir também a dificuldade com que cada personagem vai vivenciar a experiência. Sem dúvida, a mais “difícil” é Erienne, que utiliza um isqueiro para iluminar a mansão e não possui nenhum item especial. Além disto, o jogo funciona com um sistema de permadeath, ou seja, caso você morra dentro da mansão, outro personagem irá assumir a investigação, coletando todos os itens que haviam com você antes de morrer no mesmo cômodo. Mas aquele personagem já é história, além do que, caso todos quatro morram, é necessário reiniciar tudo novamente. Por isso, cuidado!
Tenho que admitir que Song of Horror foi realmente complicado no começo, porque o jogo utiliza uma mecânica de gameplay muito semelhante a jogos antigos do gênero, numa mistura de Resident Evil com Clock Tower e uma pitada de Sillent Hill. Sim, meu caro, talvez você não possa explodir cabeças de zumbis ou sequer dar nos espíritos com um pedaço de cano, mas a essência do survival horror está aqui, em toda sua antiga glória.
Song of Horror faz uso de câmeras fixas, o que cria uma perspectiva imóvel na fotografia do jogo, e os desenvolvedores realmente souberam como explorar o horror nestes segmentos. Muitas vezes alguma coisa aparece rapidamente após abrirmos o campo de visão de uma porta às nossas costas, ou então algum espírito surge ao cruzarmos uma sala para rapidamente desaparecer. Assim deixo o convite para que vocês também venham explorar a mansão Husher, e para aqueles que conseguirem escapar, eu os espero no segundo capítulo.