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Começo com uma confissão: sou uma negação com os chamados “twin-stick shooters”. O conceito de poder andar para um lado, mas atirar para o outro não entra na minha cabeça, a coordenação motora não permite, me sinto um camaleão bêbado tentando atingir dois objetivos ao mesmo tempo. Chame de falha de caráter, se quiser, ou excesso de informação, mas é um dado relevante para entender minha relação com Solstice Chronicles: MIA. Para a minha surpresa, eu gostei do game!

Possivelmente, é o primeiro jogo do seu gênero que eu completo em anos. Talvez seja o único. Mas ele me agarrou pelo pescoço, me arrastou por corredores sujos, mal iluminados e lotados de inimigos enquanto eu gritava deixando um rastro de napalm para trás e a sensação de que estava me divertindo no trajeto, algo raro em um tipo de jogo que sempre me causou mais frustração do que prazer.

De onde eu também tiro minha recomendação para quem é veterano em “twin-stick shooters”: aumente a dificuldade. Se eu, um total alienígena, consegui terminar a campanha na dificuldade padrão (chamada de “Soldier”), alguém por aí vai reclamar que o jogo é fácil demais.

Solstice Chronicles: MIA
Burn, motherfuckers, burn!

Não que o título desenvolvido pela croata Ironward seja condescendente. Ainda é preciso mirar com cautela e muitas vezes, no pânico, desperdicei munição olhando para o lado errado ou fui vítima de minhas próprias granadas. Coordenação motora mínima ainda é um requisito aqui. Mas Solstice Chronicles: MIA tem duas grandes ferramentas que deverão agradar tanto os iniciantes quanto os calejados profissionais do gênero: ambientes dinâmicos e uma camada tática.

Vingador do futuro

No papel de um soldado de uma força especial, você encarna o último sobrevivente de uma missão que deu errado. Muito errado. Uma infecção que gera mutantes e expulsou a humanidade para Marte finalmente chegou também ao planeta vermelho. Uma colônia foi dizimada pelas criaturas e pela doença e cabe a você desvendar esse mistério. Então, toma corredores de ficção-científica sem luz e uma vasta quantidade de restos nojentos pelas paredes e pelo chão.

Solstice Chronicles: MIA
SAIU DA JAULA O MONSTRO!

Entretanto, ao invés de simplesmente espalhar um número determinado de inimigos no mapa, a desenvolvedora criou um sistema dinâmico que faz brotar criaturas de uma forma mais… orgânica, se me permite o trocadilho. Uma emboscada pode acontecer a qualquer momento, inimigos mais poderosos podem aparecer quando você está relaxado e é necessário manter-se alerta o tempo todo, sem que nenhum nível seja igual se jogado duas vezes.

Felizmente, o sistema é inteligente o bastante para não parecer aleatório, arremessando desafios insanos na sua direção apenas por que um número randômico está contra você. Porém, ao mesmo tempo que o jogo brinca com você, ele também te coloca no controle. O nosso soldado não está sozinho, ele tem a companhia de um drone falastrão que funciona não apenas como o alívio cômico em esparsos diálogos, mas também como a fonte de quatro habilidades que permitirão que você administre o nível de dificuldade em tempo real.

Cada decisão tem um peso: se você utilizar determinada vantagem para se safar de uma emboscada, isso irá significar que inimigos maiores e mais devastadores irão surgir em breve, por exemplo. Se você provocar os inimigos, mais deles irão aparecer, mas serão de uma espécie inferior. Alternando entre as capacidades do drone, você pode escapar com relativa tranquilidade desse pesadelo ou errar feio e provocar sua própria destruição diante de criaturas que irão tirar o seu sono. Compreender o sistema de ameaça do jogo é o verdadeiro desafio aqui, mais do que exatamente mirar corretamente.

Solstice Chronicles: MIA
Dá para configurar equipamento e habilidades antes de cada cenário.

Planeta vermelho

Nessa jogabilidade, o estúdio croata ainda adiciona um sistema de evolução e classes de personagens que garantem que nenhum jogador atravesse o título da mesma forma que outro e ainda aumenta o famoso “valor de replay” do jogo. Gerenciar a munição escassa disponível em cada mapa também é um desafio separado que aumenta o nível de tensão da campanha.

Solstice Chronicles: MIA é ambientado no mesmo universo de Red Solstice, jogo anterior da desenvolvedora, um misto de estratégia e ação. E mantém a qualidade gráfica do seu antecessor, com cenários bem detalhados para um título com visão superior, inimigos que causam calafrios e chefes que visualmente (e taticamente) fazem jus ao seu papel. Some a isso uma trilha sonora que faz subir a adrenalina e o jogo se torna uma grande experiência sensorial.

Solstice Chronicles: MIA
Expresso do inferno!

Logo eu que não curto o gênero, me vi emendando um nível no outro, sem piscar. O que acabou me fazendo constatar um dos defeitos do jogo: a irregularidade dos mapas. Enquanto alguns deles são memoráveis e criativos, como o trem que atravessa o deserto, outros são extremamente curtos, até mesmo desprovidos de desafio.

Tudo isso para culminar em um final que não fecha as pontas da trama, que já era frouxa, poucas horas depois de começar. Eu não acredito que vou escrever isso, mas estou lamentando que um “twin-stick shooter” seja curto. É perfeitamente possível completar a campanha em talvez cinco horas. Como sou metódico e ruim de mira, levei o dobro disso (computando testes com a versão alpha e com a versão review antes do lançamento, além da versão final).

Solstice Chronicles: MIA
A grama do vizinho sempre é mais verde…

Fantasmas de Marte

Solstice Chronicles: MIA não oferece modo multiplayer online, algo que estava presente em Red Solstice, o que pode ser considerado um pecado mortal para muitos jogadores. É um título que clama por um modo cooperativo, mas, lamentavelmente, ele só é possível localmente. O título também oferece um modo Survival, com um único mapa razoavelmente grande, onde hordas infinitas de monstros vão surgindo e o jogador precisa cumprir objetivos até a evacuação. É possível evoluir armas e personagem nesse modo, mas o fato de apresentar um único mapa pode acabar enjoando rapidamente.

A desenvolvedora continua oferecendo suporte ao jogo depois do lançamento e é quase certo que os jogadores poderão esperar por novos mapas ou uma continuação no futuro. Em termos de bugs, não esbarrei em nenhum e isso é mais do que se pode dizer de grandes produções de empresas bem maiores.

Solstice Chronicles: MIA é o jogo que me fez gostar de um gênero que odiava. E isso não é pouca coisa.

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