Você liga o videogame e clica no ícone do Skelattack. Pela cara do Skully, personagem principal do título, ele está para poucas ideias. Passou em frente dele, vai levar uma espadada sem dó nem piedade. Enquanto você já começa a gerar expectativas enquanto o jogo carrega, a tela inicial aparece. E ela te quebra completamente, trazendo o melhor que o personagem e seus coadjuvantes tem a oferecer.
A cena onde você pode iniciar um novo jogo, continuar o já criado ou acessar as configurações é um grande bar, onde o herói e vários amigos e inimigos estão reunidos enquanto uma banda para lá de esquisita toca ao fundo. Depois de tomar um minuto e se recuperar do choque de realidade, um sorriso vai aparecer e aí sim você estará pronto para começar suas aventuras no reino de Aftervale.
O guerreiro-cadáver
O bom humor não está apenas na tela inicial de Skelattack e posso te afirmar que o game inteiro é preenchido dele. Por ser um jogo de plataforma no maior estilo Hollow Knight, grande parte do tempo você realmente enfrentará inimigos espalhados pelo mapa e explorando novas áreas. Mas é nos detalhes que ele te cativa e te faz gerar boas risadas.
Entre um pulo e outro, um golpe de espada aqui e uma queda livre ali, encontrará placas dizendo quantas vezes você morreu. E se assustará com o número. Nas primeiras horas de jogo, eu avançando pelo território e abrindo novas áreas, encontro uma dessas e me deparo com a afirmação que morri 44 vezes. Sabe o que é o pior? Você nem percebe 1/3 delas, de tão veloz que ele te recompõe.
Em todo o cenário há várias velas espalhadas, mais até do que você vai perceber inicialmente. Se você é morto por um ataque, queda em uma armadilha ou se sua vida termina com as várias coisas espalhadas no mapa que podem te machucar, você renasce de forma imediata na última vela que passou. Você não tem tempo nem de piscar, a caveira se desfaz no lugar e volta no outro.
Essa agilidade é importantíssima em Skelattack, já que o tempo urge. Quando você pega no ritmo, o quanto antes retornar ao combate melhor. Já vou avisar aqui antes que subestimem o game, ele é difícil. Tanto quanto Hollow Knight, citado acima, 3000th Duel e até o próprio Castlevania e Metroid que dão nome ao gênero. Porém, se você estiver alcançado certo ritmo, a dificuldade não parece tão acentuada como você pode imaginar.
Digo com tranquilidade que este é o principal elemento para sair vitorioso no game. Está atravessando uma área complicada e conseguiu entender o timing das plataformas e dos inimigos? Aproveita e passa na hora. Se for descansar, comer algo, mudar de jogo ou qualquer outra coisa, vai morrer ainda mais vezes ali. Para repousar tem áreas específicas do jogo que funcionam como alívios do combate e são localizadas em pontos-chave que não te tirem nada do que já alcançou até ali.
Além do que já comentei, você também pode juntar vários itens que te ajudarão pela jornada e podem aumentar seus atributos ou dar facilidades no meio da aventura. Outro fator que achei bem legal é, em certos trechos, parar de controlar Skully e seguir com o Imber, o morceguinho desbocado e sem papas na língua que fica te criticando no jogo todo e tirando sarro de tudo em seu caminho.
O que é Skelattack mesmo?
Se você, assim como eu, chegou de para-quedas na coisa toda e nem sabe quem são estes personagens, de onde saiu o jogo e ao que ele veio, não se espante. Skelattack é um título indie produzido pela Ukuza e distribuído pela Konami. Por ser uma franquia nova e que apareceu de surpresa, não deu muito tempo para que as pessoas se familiarizassem com seus elementos antes de jogá-lo em meio da aventura.
Skully vive no submundo com Imber, sem memória alguma de quando era vivo. Porém, sua vida é boa e o pessoal da pequena cidade de Aftervale gosta bastante dele. No ritual de trazer suas lembranças de volta, um incidente acontece e, logo em seguida, os humanos começam a ameaçar o território tentando invadi-lo pelo sistema de esgotos acima do local. Por ser um exímio guerreiro, cabe a você derrotá-los e não deixar nenhum chegar à sua Terra-Natal.
Para chegar até quem está no comando dessa invasão, passará por muitos lugares e perigos. Desde cidades dominadas por ratos até túneis imensos de ar, a imaginação é o limite por aqui. Inclusive, não é só inimigos que preenchem o mapa, vários aliados também estarão aguardando para te ajudar ou para pedir a sua ajuda no meio da história.
Você poderá usar golpe de espada em várias direções, contar com o sistema de pular pelas paredes logo de início e há várias magias espalhadas que podem te ajudar nisso. Tudo contando com uma direção de arte que é claramente inspirada em desenhos animados antigos, quais mesmo parecendo esquisitos, foram a escolha da equipe para ressaltar o humor das piadas e dos momentos mais leves.
Senti, durante a gameplay, que os movimentos são um pouco mais lentos e isso me incomodou a experiência no geral. Notei também que ataques dos inimigos que não deviam me atingir acabam causando dano, me deixando confuso se tive êxito ou não na esquiva. Isso para depois ver que golpes que eu também não devia ter acertado causam dano.
E, mesmo com todo o humor e piadas, Skelattack não esconde que as fases são um apanhado da mesma ideia sem vida. Vamos compará-lo a Hollow Knight, por exemplo. O mapa inteiro tem certa vida, os cenários contam a história daquilo e você sente prazer em explorar cada canto. Porém, aqui é só uma repetição de fundos que não te dizem nada sobre aquela realidade.
Para compensar, há várias referências a diversos outros jogos. Uma que notei e que vai levantar o ânimo dos fãs, quando você chega em certo trecho do esgoto aparecem jacarés que, no maior estilo Pitfall, tem de pular neles enquanto estão com a boca fechada. Se abrirem, você já era. As sacadas de Imbra também podem te lembrar de um jogo diferente ou outro, então não estranhe se a lâmpada na cabeça acender nos comentários do morcego.
Se você está curioso com Skelattack, devo afirmar que precisa procurá-lo como um game da Ukuza e não da Konami. Apesar da empresa distribuir como um dos seus, ela não participou da produção e nem teve um poder de decisão direto nos detalhes. Quem vê o nome e vai correr, vai tomar para si uma grande decepção, já que este é o caso de um bom jogo indie, mas que não terá o mesmo nível que um Silent Hill, Metal Gear Solid e outros.
Sendo um sólido jogo de plataforma, mesmo com suas falhas, vale a pena jogá-lo para testar seus limites e conhecer um personagem que possivelmente se tornará uma franquia no futuro. É um daqueles casos raros de um jogo que você sabe que não é perfeito, mas que vai se alimentar dessa base que tem em mãos para desenvolver uma série de sucesso daqui em diante.