Muito estilo, pouca substância. Essa é uma maneira simples, porém precisa de descrever Shank. Seu visual bonito, repleto de detalhes, e animações fluidas não são suficientes para fazê-lo esquecer da repetição que envolve sua jogabilidade, e de alguns problemas que os controles apresentam.
Shank é um tradicional brawler – ou beat ‘em up se você preferir. Seu objetivo é sempre caminhar para a direita, enfrentando hordas de inimigos em seu trajeto, passando por eventuais desafios de plataforma. Apesar da fórmula ser quase tão velha quanto os videogames, existem dois pontos que aqui a deixam, ao menos inicialmente, com um ar de nova. O primeiro está no visual. Shank é um jogo muito bonito, composto de desenhos que parecem ter sido feitos à mão, cheios de detalhes. É fácil não prestar atenção em nada disso, dado a natureza frenética da ação que permeia quase todos os segundos da aventura. Mas, caso você pare um segundo para respirar, irá perceber o quão rico é todo o cenário.
Também foram exploradas situações em que efeitos diferentes pudessem ser aplicados. Perto do início, por exemplo, corremos sobre uma ponte na qual ao fundo o sol se põe. O contraste faz com que vejamos só as silhuetas dos personagens, o que, mesmo se um pouco clichê, é ainda bonito. Algo parecido é feito em um outro momento, em que lutamos na frente de uma placa de neon. A luz provocada por disparos ilumina momentaneamente o que há ao redor do cano da arma, algo visualmente belo e impressionante. Além disso, há um toque na direção que às vezes coloca quadros nos cantos da tela, como se em uma HQ, nos quais são mostrados eventos que estão acontecendo naquele exato momento. É algo simples, mas cria uma sensação de imediaticidade, que o impele a seguir em frente o mais rápido possível.
O segundo ponto fica por conta das animações de combate. Todas as armas de Shank – que também é o nome do personagem – podem ser misturadas em um mesmo combo, e a troca de uma para a outra acontece de maneira bastante fluida. Com o toque de um botão é possível parar de esfaquear uma pessoa para então atacá-la com uma serra elétrica, agarrá-la e colocar uma granada dentro de sua boca.
O irônico é que enquanto essas animações apresentam uma das características mais positivas do título, são elas que causam o problema mais irritante. Durante o combate elas recebem prioridade sobre os comandos selecionados. Isso significa que mesmo que você esteja apertando desesperadamente o botão de pulo para desviar de um perigo iminente, o personagem permanecerá parado no mesmo ponto caso já tenha começado uma animação de ataque. Golpes sofridos dessa maneira se tornam uma frustração maior a partir da metade da aventura, quando a dificuldade é elevada. Shank não é de maneira nenhuma um jogo fácil e, não fossem os checkpoints generosos, seria fácil virar a cara e desistir de terminá-lo.
Não fosse a frustração suficiente para deixá-lo com um pé atrás, a campanha também fica rapidamente repetitiva. Existe uma boa variedade de armas e golpes, mas mesmo usando todo o arsenal – o que dificilmente acontecerá, já que alguns equipamentos parecem mais eficientes do que outros – a mesmice fica aparente. Os inimigos podem ser sempre derrotados com a mesma estratégia, e usá-la acaba sendo melhor opção, de forma a evitar os problemas oferecidos pelos controles. Mas, mesmo agindo dessa maneira, algumas decisões pobres de design entrarão no seu caminho.
A começar por inimigos que estão em níveis acima do seu. Acertá-los é uma tarefa maçante pelo simples fato de que Shank não consegue mirar diretamente para cima. O máximo que ele pode fazer é apontar armas diagonalmente, o que torna um parto posicionar-se corretamente enquanto, ao mesmo tempo, luta-se contra outros capangas que se encontram ao seu lado. Os chefes também são bastante decepcionantes; quase todos são derrotados da mesma maneira, com uma ou outra pequena variação. Por último, um dos estágios pede que você o atravesse enquanto é atacado constantemente por mísseis que caem do céu. O problema é que a posição de cada um deles é aleatória, o que faz com que acertar pulos seja um rolar de dados. Se der sorte, um míssil não terá aparecido quando você estiver no meio de um salto. Agora, se os dados não estiverem a seu favor é garantia de ter que retornar ao checkpoint anterior.
Aparentemente, depois de morrer algo como seis vezes seguidas no mesmo ponto, os deuses dos jogos tiveram pena de mim. Após errar um pulo e cair em um precipício, fui inexplicavelmente teleportado para o final da fase em questão, podendo seguir em diante. Mesmo morrendo um bom número de vezes, eu cheguei ao fim da campanha solo em pouco menos de três horas, e próximo ao fim já não havia mais nenhuma animação, nem mesmo quanto à beleza dos gráficos. Era apenas repetição, piorada pela frustração de morrer por causa de fatores que pareciam estar fora de meu controle.
É um pouco surpreendente ver que por trás dessa ação existe uma razão, mostrada através de cenas entre os estágios. Pouco a pouco aprendemos sobre o passado de Shank, e o que o levou à sua empreitada atual, em busca de vingança. Junto com a ambientação, que aparenta ser no México, a narração do jogo tem o ar de algo que poderia estar presente em um filme de Robert Rodriguez ou Tarantino, o que confere um charme interessante aos eventos. Só é estranho que essas animações tenham uma qualidade inferior à vista nos momentos de jogabilidade. Elas são pobres e parecem ser produções de flash encontradas em qualquer site. Não é nenhuma história que irá marcá-lo ou causar surpresas, mas é um adendo válido.
Mais detalhes da trama podem ser vistos no modo cooperativo, que narra sobre eventos precedentes ao da campanha solo que acabam por desencadear a vingança desejada pelo personagem principal. O co-op tem aspectos mais aproveitáveis do que sua contraparte solo, se qualquer coisa por ser mais fácil. Com exceção de mortes causadas por precipícios, um jogador pode ressuscitar o outro, o que evita boa parte da frustração. Os chefes também são mais variados e pedem que os participantes trabalhem em conjunto para que eles sejam derrotados. O único porém é que o modo não possui opção online, além de ser consideravelmente mais curto do que a aventura principal.
Shank é certamente bonito de se ver, mas a beleza só o carrega até parte do caminho. Controles frustrantes, repetição, cooperativo apenas local e decisões de design estranhas são suficientes para fazer com o que o título seja pouco recomendável. Ainda mais quando levamos em conta o preço de quinze dólares que é pedido, existem coisas melhores a serem encontradas – mesmo se menos bonitas.