Desde que foi anunciado, Scars Above tem chamado minha atenção por sua proposta que mistura “suspense espacial”, com uma trama envolvendo mistérios fora de nosso planeta, além de um gameplay aparentemente sólido (baseado nos trailers), com combate que nos remete a um RPG de ação, mais ou menos soulslike, mas com armas de fogo. Menos de 10 horas depois e game zerado, veremos agora se ele atendeu às minhas expectativas.
Scars Above não é um jogo de terror, mas sua trama envolve mistérios e alguns trechos do jogo tentam trazer um clima mais pesado. A história é simples: você, Kate, e sua equipe de cientistas SCAR vão investigar um objeto estranho que surge na órbita terrestre. Ao se aproximar, um evento sem qualquer detalhe acontece, todos são separados e você acorda em um outro planeta, onde precisa descobrir o que aconteceu e encontrar os membros da equipe.
Scars Above não o prende pela história
Assim como a premissa da história é simples, seu desenvolvimento também, além de desinteressante. Scars Above é uma aventura solitária na maior parte do tempo, mas a protagonista é guiada por uma entidade, cuja origem é explicada mais na frente, que conta o que Kate tem visto enquanto explora o local desconhecido.
Conforme a história se desenrola, você percebe que tudo é muito simples e previsível, não existe impacto, e quando você descobre o plot por inteiro, garanto que sua reação não será “uau, quem diria!”. Não é nada inovador. Na verdade no meio do caminho eu perdi o interesse na narrativa do jogo, que é contada pelo ser misterioso que mencionei, além de arquivos de áudio de seus companheiros encontrados pelo local.
Eu levei menos de 10 horas para terminar Scars Above e, mesmo sendo um jogo relativamente curto para um título AA, eu achei que as últimas duas horas foram arrastadas e poderiam ter sido mais objetivas. O jogo o faz revisitar todos cenários de novo, trechos que você não tinha acesso anteriormente, mas sem qualquer novidade ou surpresa nesses momentos.
Falando em cenários, o game conta com ambientes pouco variados. Você passa por locais pantanosos, cavernas (muitas delas), regiões nevadas, entranhas de organismos gigantes e estruturas alienígenas. Scars Above é bem linear, mas confesso que a quantidade de lugares fechados, como cavernas, que o jogo o faz passar acaba abusando. Além disso, o título tem cores muito apagadas, sem temperatura, muito esfumaçadas, é até difícil por em palavras. Tem horas que o que você vê ao seu redor, não tem vida alguma e fica até difícil enxergar alguns detalhes.
Gameplay satisfatório, mas com limites
O maior destaque de Scars Above fica para seu gameplay. Porém não espere por algo como Remnants from the Ashes (que é uma espécie de soulslike com armas de fogo), ou qualquer outro jogo do tipo. A movimentação é um pouco travada e limitada. Kate anda, corre, esquiva rolando pelo chão, atira e executa ataques melee. Quando ela precisa descer de um lugar alto, por exemplo, a forma como ela cai é bem desengonçado, é quase como um pedaço de madeira grande caindo, sem animação para essa situação, o que ajuda a quebrar a imersão.
Os combates são bons e tem foco em armas de fogo com diferentes elementos naturais. São quatro armas diferentes, com o tempo você vai melhorando cada uma delas e isso acontece normalmente com o progresso da história. Ou seja, você não vai terminar o jogo e descobrir que deixou passar uma arma ou upgrade diferente. A variedade de monstros não é alta, mas isso não chega a incomodar, já que Scars Above não é longo.
O legal dos combates é que o game usa elementos e suas vantagens a seu favor. Por exemplo, se o inimigo está molhado, a arma de eletricidade causará mais dano ou o gelo congelará os monstros rapidamente. Alguns inimigos, principalmente os grandes, tem bolhas com as cores de sua fraqueza, então se você ver bolhas vermelhas no inimigo, é só usar a arma de fogo. Além disso, Kate tem um bastão para ataques melee, mas essa mecânica não funciona nada bem. Seus ataques são demorados e ela não encaixa bem um ataque seguido do outro. Difícil saber se é algo proposital para que o foco seja nas armas de fogo, ou algo que os desenvolvedores não perceberam e deixaram passar.
A protagonista conta com diferentes gadgets a seu favor, algo que você vai adquirindo com o tempo. Eles criam um holograma para distrair o inimigo, desacelera o tempo deixando o inimigo em câmera lenta dentro do campo criado, e tem um outro que faz com que Kate se mova rapidamente de sua posição por um curto período, dando a vantagem de abordar o inimigo pelas costas, por exemplo. Esses dispositivos deixam o gameplay bem dinâmicos e são muito úteis.
Aliado a isso, elementos nos cenários podem ser usados a seu favor. Existem bolhas elementais que são destruídas com a arma correspondente. As elétricas costumam ficar perto de lugares alagados (que conveniente). Um tiro no momento exato, mata todos os inimigos no raio de explosão. Outro exemplo são estalactites que podem ser derrubadas em cima de inimigos, causando dano letal, até aos mais fortes. Se você souber usar todos esses elementos, os combates ficam até fáceis.
Ainda em relação ao combate e gameplay, Kate conta com duas árvores de habilidades: engenharia, que foca nos gadgets e armas, e xenobiologia, que melhora a vida, resistência entre outros atributos. Matar os inimigos não garante experiência. Ela é adquirida através de pequenos cubos que garantem quantidades variadas de experiência e ao examinar novos monstros e objetos, adquirindo novo conhecimento pelo lugar. O problema mesmo é que não é difícil encontrar essas experiências pelos cenários. Antes de terminar Scars Above, eu já tinha conseguido todas as habilidades e ainda sobrou 7 pontos que não pude usar.
Scars Above não inventa a roda, mas tem suas qualidades
Scars Above tem bons gráficos, em um nível que podemos categorizá-lo de AA, não é um indie de baixo orçamento, mas também não é um blockbuster. O game entrega cutscenes com personagens com expressões faciais legais, embora em alguns momentos não convençam tanto, mas em geral, é bem feito. O título é muito bem otimizado. Joguei no PC, com os gráficos no máximo e não tive qualquer problema, algo que tem ficado cada vez mais difícil de ver nessa plataforma.
Scars Above é um bom jogo, mas é bem simples, não entrega nada inovador. Não me senti desafiado e pude progredir pela história sem dificuldades. Claro que isso depende de jogador para jogador. Além disso, aqueles que buscam conseguir todas as conquistas, não vão encontrar muita dificuldade. Terminei o jogo faltando duas delas sem qualquer esforço.
Vale destacar aqui o empenho do estúdio Mad Head Games, já que esse é o maior projeto dessa desenvolvedora. Dá para continuar com a IP e melhorar alguns pontos levantados aqui e entregar um game sólido numa próxima tentativa.
Scars Above está disponível para PC, PS5, PS4 e Xbox Series X|S.