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Certas comparações são inevitáveis quando estamos falando de um mesmo estilo gráfico. Desde seu anúncio, em toda vez que Scarlet Nexus pintava em alguma apresentação eu não conseguia parar de pensar em Astral Chain pela ambientação futurista, animação cel-shaded e o foco na ação estilizada. Os dois jogos sequer dividem desenvolvedores, mas ainda assim as expectativas eram naturalmente altas por um game de ação de altíssima qualidade. 

Desenvolvido por um time veterano da Bandai Namco, que entregou altos e baixos entre os capítulos da franquia Tales of e títulos alternativos como Code Vein, Scarlet Nexus chega como o momento desses desenvolvedores se provarem mais uma vez dentro do campo dos RPGs de ação. Seria injusto, no entanto, esperar algo no nível de uma Platinum Games, então é melhor tirar as comparações com Astral Chain da cabeça o quanto antes. O jogo da Bandai atinge belos resultados, mas tem também suas limitações.

Brainpunk 20XX

O jogo parte de premissas realmente curiosas em sua história. Em um futuro distópico na estética chamada de brainpunk, humanos ganham capacidades psiônicas devido a um novo hormônio cerebral e Criaturas caem dos céus, levando à formação da Força de Supressão de Criaturas (FSC), integrada por, sim, você adivinhou, pessoas com habilidades especiais. No meio disso tudo, você pode controlar Yuito Sumeragi ou Kasane Randall, com perspectivas alternativas.

Scarlet Nexus
Cada protagonista tem uma história de fundo distinta.

Desde o começo de Scarlet Nexus, somos introduzidos a um elenco verdadeiramente gigantesco de personagens no melhor (ou pior, para algumas pessoas) estilo anime, o que acaba tomando bastante tempo. Dependendo do protagonista escolhido, certas personagens são introduzidas antes de outras, mas a escolha não muda o fato de que a história de Scarlet Nexus passa bastante tempo nos preparativos e realmente demora para engatar, então paciência é recomendada. 

Durante as primeiras horas, temos cutscenes estáticas que frequentemente interrompem o gameplay para apresentar mais personagens ou simplesmente estabelecer as premissas. Ande para um lugar, cutscene, volte para outro canto, mais uma cutscene. Isso pode deixar alguns jogadores desanimados com o início do jogo, mas confie em mim: nada disso chega perto das primeiras dez horas de Sword Art Online: Alicization Lycoris, que a Bandai Namco também distribuiu no ano passado. 

O que segura o interesse são as premissas realmente malucas, principalmente em relação às Criaturas, que são formadas por partes orgânicas e outras claramente artificiais, às vezes misturando utensílios domésticos com pernas e braços humanos. Apesar de serem definidas como o principal inimigo em Scarlet Nexus, essas Criaturas deixam a impressão de que nem tudo é o que parece, atiçando a curiosidade para seguir com a história e descobrir mais sobre elas. 

Scarlet Nexus
Elenco fazendo pose.

Felizmente, a partir de alguns certos incidentes, a narrativa passa também a desenvolver temas interessantes além das Criaturas,  com personagens variados que possuem motivações misteriosas e algumas reviravoltas que chacoalham um pouco as coisas. Determinados eventos inclusive devem justificar a jogatina com outro protagonista, já que dependem das duas perspectivas para se entender completamente. O jogo com certeza é narrativamente mais ambicioso que o típico título lançado pela Bandai Namco.

O estilo visual também cativa. Construído na Unreal Engine 4, o jogo apresenta modelos tridimensionais super detalhados, com camadas de cel-shading que tornam tudo em um anime vivo. Até há algumas áreas relativamente genéricas e recicladas durante a história, mas geralmente o game é realmente muito atraente, principalmente onde há hologramas e caixas de texto flutuantes. O fato de que roda a 60fps em 4K no PS5 é um belo bônus, tornando a versão next-gen bem convidativa.

Scarlet Nexus
Hologramas são a moda no futuro.

Já falei da aparência das Criaturas, mas também devo enfatizar que lutar contra elas é um prazer em Scarlet Nexus. Com uso de motion capture parcial para as partes humanas de seus corpos, elas são geralmente muito bem programadas, com animações muito bem definidas para informar ao jogador quando um ataque está para vir mas sem tornar o combate fácil demais. Não dá para reclamar da variedade também, com designs que sempre se renovam ao longo da campanha.

Em combate, o jogador pode usar dois tipos diferentes de ataques. Primeiramente temos os ataques principais mapeados para os botões Quadrado / X e Triângulo / Y, que servem para criar combos mais básicos. Mas em adição a eles, há os ataques mapeados para os gatilhos: R2 / RT permite usar os poderes psicocinéticos de Yuito ou Kasane, arremessando objetos pequenos e médios nos inimigos, e L2 / LT permite realizar ações ainda maiores com objetos enormes como guindastes ou trens.

Scarlet Nexus
Espera aí que o busão tá vindo!

O mapeamento dos botões torna o combate de Scarlet Nexus bastante intuitivo e fácil de entender. Isso leva à realização de combos realmente estilosos, às vezes trocando o ângulo da ação para um close no rosto de Yuito / Kasane, fazendo-os parecer ainda mais badass. Inimigos apresentam duas barras: vida e supressão. Quando a barra de supressão chega ao fim, é possível executá-los com um ataque cabuloso e muito bem animado, dando uma grande sensação de satisfação.

Uma adição que mais tarde acrescenta um fator de risco em Scarlet Nexus é o Campo Cerebral, que pode ser ativado para permitir que Yuito ou Kasane libertem seus poderes psicocinéticos em sua totalidade, atacando o oponente sem interrupções com os destroços flutuantes ao redor. Um detalhe: a energia vital do protagonista vai gradativamente se esgotando, levando ao game over se o jogador não desativar o Campo Cerebral a tempo. Ou seja, use apenas quando estiver com muita necessidade.

Scarlet Nexus
O campo cerebral é um lugar fascinante mas perigoso.

Com uma ajudinha dos meus amigos

O que deixa o combate ainda mais rico são as habilidades de nossos companheiros, que variam ao longo da campanha. É possível pegar emprestado dons como eletrocinese, pirocinese, supervelocidade e clarividência, úteis contra diferentes tipos de inimigos. Certas Criaturas têm propriedades, como Encharcadas, sendo facilmente derrubadas com ataques elétricos. Algumas são ágeis e devem ser combatidas com velocidade. Outras são invisíveis e só podem ser enxergadas com clarividência. 

Tornando a progressão de Scarlet Nexus ainda mais interessante, efeitos adicionais dos companheiros podem ser destravados conforme vamos desenvolvendo amizades. Cada amizade possui seis níveis, sendo que cada nível atingido desbloqueia um novo efeito em combate – alguns deles passivos. Existem, portanto, três maneiras de subir o nível de amizade: realizando Episódios de Relação, dando presentes ou respondendo a mensagens cerebrais. 

Sempre bom botar o papo em dia.

Independente do modo, a hora de trabalhar as amizades vem com os Interlúdios, que nada mais são do que intervalos entre as missões. Neles, nos encontramos em um esconderijo onde podemos dialogar com as personagens livremente. Caso inicie um Episódio de Relação, duas coisas podem acontecer: uma cutscene estática será reproduzida com um diálogo entre o protagonista e a amizade escolhida, ou o mesmo pode acontecer seguido de uma missão em um ambiente anteriormente visitado. 

Infelizmente, as missões paralelas de Scarlet Nexus geralmente são pouco mais do que ambientes reciclados e fetch quests que envolvem coletar um certo número de itens. O foco em relações é bem interessante, mas é uma pena que o conteúdo que acompanhe essas cutscenes seja tão genérico. Isso também joga luz na estrutura um tanto quanto repetitiva, variando entre completar missões principais e explorar os mesmos ambientes durante os Interlúdios em busca de itens. 

Alguns ambientes determinados se destacam.

O que segura o jogo de pé nestes momentos é a satisfatória progressão, que consiste em desbloquear novas habilidades no que chamam de Mapa Cerebral, uma árvore de skills que vai se expandindo conforme o jogador completa atividades e sobe de nível. Cada vertente do Mapa tem foco em uma especialidade, desde upgrades de mobilidade como um pulo duplo até otimizações do Medidor Psiônico, barra que define quantos ataques psicocinéticos podem ser realizados de uma vez. 

É possível também comprar itens em uma loja que aparece no esconderijo e de vez em quando durante as fases, como novas armas, cosméticos e, sim, presentes para seus amigos – nunca se esqueça deles! Seja equipando armas e itens em si mesmo ou nos companheiros, Scarlet Nexus sempre oferece um nível decente de customização que faz com que o jogador sinta que sua participação é decisiva na ação, até quando as missões secundárias se mostram repetitivas.

É sempre interessante visitar o bestiário.

A duração longa será outro plus para uma série de jogadores, com uma campanha que se desenrola através de 12 capítulos. Falando em plus, é possível jogá-la uma segunda vez com uma personagem de sua escolha via new game plus, acelerando a progressão e agregando ao fator de replay. Agora, se o jogador irá realmente querer repetir a história toda de novo – com algumas diferenças de perspectiva entre Yuito e Kasane – é outra questão. Mas não dá pra reclamar do volume de conteúdo. 

Scarlet Nexus pode não atingir o nível de outros jogos de ação como Bayonetta ou mesmo Astral Chain, mas com uma premissa fora da caixa e uma boa variedade de oponentes e poderes, o resultado é suficientemente robusto para garantir seus próprios fãs, sem falar nos inevitáveis cosplays. O time da Bandai Namco realmente se esforçou para criar uma nova Criatura com pernas para ir longe – e braços, caudas e quaisquer outras partes malucas puderem incluir na mistura. 

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