Lançado primeiramente para Arcade em 1993 e depois para tudo que era console na época, sendo a versão de Neo Geo e Super Nintendo as mais famosas, Samurai Shodown fez fama por onde passou. Quem aqui não lembra do cabelão do Haohmaru?
Sucesso nos bares e um dos reis de fichas para qualquer dono de fliperama, o título nunca foi conhecido pelo alto número de combos ou por poderes especiais dos lutadores, mas sim pela maneira que era preciso encarar cada luta. Estratégia para atacar e contra-atacar eram os pontos chaves. Pode parecer clichê já que isso é encontrado em todos, mas não é. A defesa malfeita, aqui, faz o jogador ficar inativo por poucos segundos, o que leva o oponente a te golpear com facilidade.
Até chegar nesta geração e tendo sido lançado até o momento para PlayStation 4 e Xbox One (PC e Nintendo Switch receberão em breve), Samurai Shodown deixou para trás os gráficos 2D e embarca há um tempo no 3D, tendo inclusive passeado pelo gênero RPG com Samurai Shodown: Tales Of Bushido. Com a missão de conquistar fãs e fazer os nostálgicos darem uma chance para este clássico, arrisco dizer que temos em mãos um jogo e tanto. Bora conferir a razão?
Trazendo o clássico para 2019
Assim que se joga pela primeira vez, percebe-se o cuidado da SNK com o produto. A introdução, por exemplo, é uma homenagem aos primórdios da série. A sensação, logo depois disso, é que coisa boa vem por aí. E vem mesmo! Tudo tem cara de nova geração, mas sem esquecer das raízes.
Logo de cara me aventuro no tutorial para notar se há novidades e percebo que tudo ainda está por lá. Graficamente, os modelos 3D dos personagens são chapados, o que oferece a sensação do 2D lá de trás. As texturas são delicadamente pintadas com contornos de tinta que criam um efeito cel-shading charmoso. Misturados aos efeitos sonoros bem escolhidos e aos cenários novos e clássicos, há vida neste título.
A jogabilidade, ponto crucial para qualquer jogo de luta, permanece interessante. Cada personagem possui poucos golpes e dois especiais, o que agradará tanto os mais experientes como os iniciantes na franquia. Um ponto que curti foi a possibilidade de jogar usando o direcional, embora as lutas ocorram horizontalmente e seja mais fácil dominar os movimentos com o D-Pad.
E dá-lhe história japonesa
As histórias dos personagens de Samurai Shodown acontecem durante o Período Edo, que rolou de 1603 a 1868, tendo o forte isolamento político-econômico e um rígido controle interno como marcas principais. Para se ter uma noção da importância deste momento para os japoneses, foi a partir do fim dele que a modernização que enxergamos até hoje rolou.
Trazendo conexões e histórias paralelas para cada um, que vão desde a busca por um ladrão de cargas até a famigerada vingança, em cerca de 20 minutos se encerra o jogo com um personagem. Mesmo que dure pouco, é interessante atravessar a campanha com cada um. Depois de duas ou três escolhas, percebe-se uma narrativa rasa, onde inclusive o final e o chefão serão sempre os mesmos. É repetitivo pros dias de hoje, mas ao menos respeita a obra original.
O bacana de passar pelo modo história de Samurai Shodown é que, ao encerrá-lo, todos os vídeos que rolaram durante a jogatina estarão disponíveis para assistir, bem ao estilo Tekken. Lembram? Outro ponto que vale a pena ser citado é o humor. Na cena de início e na do final, quando se apresenta o vencedor, rolam frases bem boladas que condizem com a situação.
Novidades bem-vindas
Haohmaru e companhia continuam por lá, mas foram adicionados quatros novos lutadores. Cada qual com sua característica, recomendo jogar com cada um dos 16 para notar qual é a sua neste universo. Tem de tudo: dos mais cadenciados, passando pelos personagens de golpes curtos e terminando nos mais agressivos ou com companheiros, como a águia de Nakoruru e um cachorro de Galford. Obviamente, Haohmaru é o mais balanceado de todos.
Darli Dagger (pode escolher na fé), Wu-Ruixiang e Yashamaru Kurama, além do chefe são os acréscimos da vez. Cada um, como escrito acima, possui sua própria história, o que já diferencia do primeiro título que tinha apenas Haohmaru com trama jogável.
Desde sempre, Samurai Shodown é uma série que não guarda o sangue num potinho. Para se ter ideia, há uma opção para desativar a violência. Como assistir uma luta entre samurais com katanas afiadas sem um sangue no chão ou nas roupas? Não rola, né? Inclusive, que modelagem bacana! Sempre ao final das batalhas o lutador estará embalsamado de vermelho. Quando a câmera dá seu close, o mesmo efeito é observado.
O ponto alto das lutas fica por conta do medidor de fúria e tudo aquilo que ele traz. Quando cheio, o que só ocorre ao apanhar, além de conseguir soltar seus especiais, é quando rola o Corte Final. Só podendo ser utilizada uma vez por confronto, a ação consiste em um avanço rápido onde, se bem acertado, cerca de metade da vida do oponente se vai. A arte aqui é insana e você se sente um verdadeiro assassino.
Faixa preta para eles
Desde o começo do meu namoro com Samurai Shodown, entendi que a pegada da SNK era trazer tudo aquilo que ela mesmo consagrou como certa. Tendo pisado na bola lá atrás, eles bem sabiam o caminho das pedras e fizeram bonito demais! Trazendo diversos modelos de luta que valem a pena ser visitados, personagens cativantes e característicos, além de uma roupagem linda e diferenciada, temos aqui um título pesado no gênero de luta.
Obviamente, nem tudo são flores. A campanha rasa e o alto número de loadings frustam um bocado e não acompanham o alto ritmo. Bugs? Admito ter visto apenas um e foi de cenário. Um veado, ao invés de estar pisando no chão como um animal qualquer, tinha meio corpo enfiado no limbo do lugar. Nada que atrapalhe, e acredito que nas próximas semanas um patch vai corrigir isso.
Quanto ao online, consegui jogá-lo e foi bem fácil. Apenas uma vez ou outra enfrentei adversários com problemas de conexão. Samurai Shodown é um excelente trabalho que faz jus ao título original, que trouxe tantas alegrias no passado.