Skip to main content

Sam and Max: The Devil’s Playhouse Episode 1: The Penal Zone não é apenas o primeiro capítulo de uma nova temporada estrelando a dupla de policiais freelance. Ele é também a prova de que os adventures (ou point and click) são capazes de incorporar jogabilidades diferentes trazendo a sensação de novidade ao gênero, sem que ele perca sua essência.

É claro, várias das mecânicas mais básicas de qualquer jogo do estilo estão presentes. Como esperado, para resolver o mais recente caso você deverá conversar com diversos personagens, investigar, coletar itens etc. Mas, de maneira geral, a sensação é de que essa é a menor parte do que deve ser feito na resolução de quebra-cabeças. Suas ações principais girarão em torno dos poderes paranormais adquiridos por Max, que oferecem uma mecânica completamente nova de interação. Essas habilidades são ganhas quando o coelho psicopata obtém brinquedos místicos.

Há dois brinquedos que são mais usados através de The Penal Zone, alguns que são utilizados brevemente, além de outros que devem aparecer apenas em episódios posteriores. Provavelmente o mais peculiar é que, ao usar um desses artefatos, passamos para uma visão em primeira pessoa, dentro da cabeça de Max. Isso é mais um efeito estético do que qualquer outra coisa, mas um muito bem-vindo. O mundo visto através dos olhos do personagem é um pouco diferente da realidade a qual estamos acostumados, nos dando uma ideia da insanidade existente em sua mente.

Sam & Max

É interessante notar que, ao menos esses dois poderes que aparecem de maneira mais preponderante na primeira parte dessa temporada, não são usados apenas na solução de enigmas. Um deles, o tele-transporte, tem o uso prático de permitir que você chegue mais rapidamente a diferentes áreas, sem a necessidade de transitar por todos os cenários que ficam entre o local que se se está e o local em que se deseja estar. O brinquedo que mostra o futuro, por sua vez, serve como uma espécia de sistema de dicas que nunca diz diretamente a você o que deve ser feito. As visões do que está por vir são sempre separadas de contexto, e entender como elas se encaixam ao que você quer fazer é por si só boa parte da diversão que The Pena Zone oferece.

O outro ponto positivo de se ter uma ideia geral de qual é o seu próximo passo é que isso evita a aleatoriedade que certos títulos do gênero causam. Quem nunca se viu tentando combinar todos os itens possíveis, ou simplesmente sair entregando-os a todos os personagens existentes jogando Day of the Tentacle ou Grim Fandango? Isso não aconteceu comigo nenhuma vez nesse episódio de Sam and Max, mas não entenda a partir disso que a dificuldade é baixa. Enquanto os quebra-cabeças certamente não são tão cabeludos quanto os de alguns adventures das antigas, alguns desafios pareceram mais elaborados quando comparados a outros títulos da Telltale.

Enquanto essas novas mecânicas funcionam muito bem para deixarem a experiência mais fresca, esse não foi o único aspecto cuidadosamente ajustado. Visualmente, este é com certeza o jogo mais bonito feito pela Telltale. Não apenas a qualidade gráfica, mas os detalhes da cidade, os diversos elementos vivos sempre presentes ao fundo, como os ratos e os pombos, os ângulos de câmera etc, tudo isso recebeu um belíssimo tratamento. Tales of Monkey Island já havia dado um salto em relação aos outros jogos da empresa, mas The Devil’s Playhouse cobre uma distância ainda maior com seu pulo. Isso sem contar o nível da escrita e dos diálogos, que estão excelentes. É de se esperar o tom cômico vindo de Sam and Max, mas me vi rindo alto em diversos pontos da aventura, o que não acontece facilmente em videogames.

Sam & Max

O único ponto que sofre um pequeno deslize é a movimentação de Sam. Caso você clique em um elemento do cenário com o qual possa interagir, o cachorro irá se deslocar em direção a ele, sem problema nenhum. No entanto, quando o que se busca está fora dos limites da tela é necessário movimentá-lo até lá. Os controles com o mouse são um pouco desconfortáveis, mas é também possível – e preferível – andar com Sam utilizando o teclado. O sistema não é perfeito, já que algumas vezes a direção desejada e a direção seguida não correspondem, mas isso acontece com tanta raridade e é um incomodo tão pequeno que quase não merece menção.

Também é necessário fazer uma pequena ressalva para aqueles que não jogaram nenhum título estrelando Sam and Max que tenha sido produzido pela Telltale. Existem várias referências sobre fatos e eventos que aconteceram em outras temporadas. Assim, aqueles interessados em uma experiência mais completa provavelmente preferirão passar pelos outros capítulos antes de se aventurarem nestes mais recentes. No entanto, aqueles que quiserem ter The Penal Zone como seu episódio de estreia poderão fazer isso sem grandes prejuízos ou problemas, no máximo perdendo uma piada ou outra.

Sam and Max: The Devils Playhouse Episode 1: The Penal Zone está entre os melhores trabalhos já feitos pela Telltale. Visuais tanto técnicos quanto artísticos que surpreendem, aliados a uma mecânica que mescla com perfeição novos e velhos elementos do gênero, criam uma experiência que é ao mesmo tempo familiar e inovadora. As diferenças do título podem não ser drásticas o suficiente para atraírem aqueles que nunca se interessaram por adventures, mas com certeza prenderá até mesmo aqueles que estavam cansados do estilo.