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Longe dos MOBAs, a Riot Forge deu um “salto de fé” extremo ao investir em outras mídias para League of Legends. Ruined King é um destes produtos, chegando ao lado de Arcane para atingir outros tipos de público com sua marca e personagens. Ao invés de pensarmos no competitivo online, este título foca no lado do RPG para contar uma boa história dentro do universo compartilhado.

Porém, mesmo com a Riot nadando na grana, você não deve considerar nem por um segundo no jogo como um lançamento AAA. Longe disso, na verdade. Desenvolvido pelo estúdio indie Airship Syndicate, o mesmo que produziu Darksiders Genesis, a trama do rei caído tem de ser vista como um produto feito com verba limitada e sem todo o esmero das grandes produções. Não que isso atrapalhe em algo a experiência, mas é bom conter as expectativas se espera algo no nível Square Enix, por exemplo. Vamos combinar, nem isso significa grande coisa hoje em dia, mas prosseguimos…

Trazendo campeões conhecidos e queridos pelo público como Illaoi, Braum, Yasuo, Miss Fortune e Ahri, é inegável que a desenvolvedora se esforçou bastante para trazer algo bacana para quem é fã e para quem não é também. Você visitará a cidade de Águas de Sentina, um local que está sendo ameaçado pela Névoa Negra que está vindo da Ilha das Sombras. É um mal que juravam terem derrotado no passado, mas que retornou e traz velhos fantasmas de volta – em sentido metafórico e literal.

Imagem do review de Ruined King
Fantasmas do passado voltarão a assombrar os personagens

As rotas de Ruined King

Como um RPG, Ruined King: A League of Legends Story é extremamente competente. As batalhas em turno tem a adição de um sistema inédito de rotas: você tem três linhas em batalha, a velocidade, equilibrada e da força. Cada uma conta com bônus e restrições, além da própria linha do tempo do combate gerar bônus e penalidades se você cair diretamente nos espaços selecionados.

Isso torna os conflitos em algo bastante dinâmico, principalmente porque você tem de se preocupar com os inimigos e com o que está rolando por lá. Às vezes você vai preferir dar menos dano, mas garantir um aumento expressivo de chances de acertar um golpe crítico nos próximos movimentos. Ou vai obrigar seu personagem a atacar por último para escapar de uma névoa venenosa. Dá até para empurrar e puxar os oponentes por ela, tirando eles das rotas de benefícios ou jogando-os no caos.

Imagem do review de Ruined King
Aproveite os bônus, mas não fique para trás

Confesso que esta foi uma das maiores colas que me prenderam ao título, me chamando bastante atenção. Apesar do início do game não trazer um elenco variado para você criar uma estratégia bacana, no decorrer dele e aumento da sua equipe isso já se torna uma delícia de jogar. Illaoi, por exemplo, é uma personagem focada em cura. Óbvio que ela desce a lenha com competência, mas não da mesma forma como Yasuo. Braum, por outro lado, é mais defensivo. Por aí vai com os demais, cada um com suas habilidades pertinentes ao que conheceram em LoL.

Até mesmo as suas Ult podem ser vistas no decorrer da batalha, o que empolga qualquer jogador por mostrar movimentos especiais com animação única e uma quantidade de dano que pode mudar a maré da luta. Acredite, você vai querer testar cada um dos personagens para ver o que acontece com o seu ataque. Tudo isso amarra bem o que precisa saber do sistema, já que o restante é explicado direitinho conforme avança na trama.

Uma coisa que ninguém pode reclamar é da didática de Ruined King, que não negligencia os veteranos do gênero nem larga os novatos à sorte. A pessoa pode ter anos de RPG que vai acabar consultando os menus para se certificar que não está fazendo nenhuma besteira, assim como quem nunca jogou nada neste estilo vai saber logo de cara que não há condições de pular no perigo sem compreender direito o seu sistema. Ambos encontrarão a morte certa em conflitos simples se forem de qualquer jeito, disso pode ter certeza.

Imagem do review de Ruined King
Yasuo e sua Ult são um perigo para qualquer oponente

Outro ponto muito interessante são os personagens apresentados. A lore de League of Legends é extremamente respeitada, mostrando cada um como devia e não criando nada de absurdo em cima deles. Águas de Sentina é o ambiente perfeito para contextualizar a aventura também, dando um sentido para cada um deles estarem presentes nela sem forçar a barra. Ou seja, o fanservice até existe, óbvio, mas não espere algo inexplicado aparecendo em tela para tirar a credibilidade do trabalho da equipe na produção.

Se Ruined King: Uma História de League of Legends é competente nos elementos que torna o RPG em algo memorável, é por causa de tudo isso. Até mesmo os momentos onde os heróis estão descansando em certos pontos de recuperação de HP e MP, há diálogos interessantes e vou falar para vocês: a dublagem está excelente. Eles falam até bastante, inclusive nas batalhas. Isso prende bastante quem começa a jornada, tornando em um dos fatores mais atrativos que poderia ter em mãos.

Imagem do review de Ruined King
O universo é riquíssimo em história

O rei que tropeçou

Apesar da experiência ser positiva, isso não impede ela de tropeçar em alguns momentos e trazer incômodos. Um dos principais é a lentidão para a aventura engatar de vez. Se você não enrolar em sidequests ou no sistema de pescas, vai levar cerca de 6 horas e ver o jogo ainda apresentando personagens e alguns elementos. Esta progressão mais lenta pode fazer alguns jogadores abandonarem ele no caminho, o que seria um grande pecado considerando o trabalho que o estúdio apresenta.

Falando em lentidão, eu sei que podem vir atualizações que resolvam isso, mas os personagens se movimentam de forma extremamente arrastada pelo mapa. Para andar de um lado ao outro de Águas de Sentina é terrível e toda missão que me obriga a ir em outro canto já causa sofrimento por antecipação. Some isso às telas de loading que aparecem em todos os momentos possíveis e vai sentir também pode ter certeza absoluta disso. Elas não demoram tanto em contrapartida, porém enchem o saco.

Também acredito que é um problema que pode ser resolvido com um update, mas Ruined King fica te perguntando toda hora se você quer ver um tutorial sobre coisas que já foram apresentadas. Bastou tirar o jogo, ligá-lo novamente e entrar no menu que tudo que aparece ali questiona se você sabe mexer naquilo. Mesmo depois de 8 ou 10 horas de gameplay por exemplo. Vamos combinar, nessa altura do campeonato não é mais sorte: ou você viu o tutorial ou foi na raça para se virar e deu bom.

Imagem do review de Ruined King
Atravessar isso na velocidade dos personagens é horrível

A falta de acessibilidade também é um poderoso incômodo, com letras minúsculas na tela. Acredito que o design tenha sido pensado para funcionar bem com um monitor, por exemplo. Mas se pensarmos que a aventura também foi criada para os consoles de mesa, deviam ter pensado em opções distintas para ele trabalhar bem em uma televisão. Se será um grande problema ou não para você, dependerá da distância que está da tela.

Particularmente falando, gostaria de melhorias nestes elementos para tornar a experiência em algo mais agradável do que já é. Mesmo não sendo um fã de League of Legends, o título e a série Arcane servem não apenas para dar dinheiro para a Riot, mas para mostrar que tem um ambiente extremamente próspero para se contar boas histórias com estes personagens. Se você tem algo interessante como isso em mãos, se expandir será benéfico também para o público: seja ele antigo ou novo.

Já que falei em Arcane, assim como na animação, você não precisa ter consumido nada deste universo para compreender a história e as motivações de cada um dos heróis. Até mesmo a trama do grande vilão é contada na cutscene inicial, antes do menu de começar o jogo, te dando uma razão para entendê-lo como uma ameaça colossal ao mundo que eles vivem. Se esse é o seu impedimento, pode mergulhar sem medo que em questão de história não há amarra alguma.

Imagem do review de Ruined King
Logo de cara você verá essa ilha iluminada se transformar em caos

Este tipo de abordagem que vimos, tanto no desenho quanto em Ruined King, só me dá mais vontade de experimentar os próximos projetos envolvendo esse universo compartilhado. Não que eu vá jogar League of Legends, mas me acende um sinal de alerta para prestar atenção em Project L, por exemplo. Eu tinha zero interesse no game de luta que estão desenvolvendo, mas a qualidade de ambas produções me fez perceber que talvez este também seja um sucesso que teremos em mãos.

E vou ser sincero com vocês, apesar destas falhas que listei acima, ainda assim a história e o gameplay são exemplos de como produzir algo de qualidade com poucos recursos. Caso você curta um bom RPG e esteja disposto a pular de cabeça em algum lançamento, Ruined King: A League of Legends Story é a pedida certa para este fim de ano. Pode ir sem medo, já que encontrará qualidade no que é o principal.