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Quando anunciada pela Netflix, Resident Evil: A Série levantou muitas sobrancelhas de entusiastas e fãs em geral da franquia. Com uma escolha de narrativa que foge do que se espera de um jogo da série, aqui temos um drama adolescente que viaja entre intervalos temporais distintos seguindo as irmãs Jade e Billie Wesker.

Em oito episódios, vemos a trama se desenrolar em duas frentes. Uma delas mostra a jovem Jade e sua irmã em New Raccoon City, enquanto a outra traz Jade adulta estudando os “zeros”, que é a maneira como os zumbis são chamados em Resident Evil: A Série.

Infelizmente, mais uma vez o saldo foi bem negativo pra Netflix e nesta crítica vou destrinchar – com spoilers apenas do primeiro episódio, pra exemplificar – o por quê dos fãs estarem tão enfurecidos.

Resident Evil: A série
Se não fossem essas crianças enxeridas, o mundo não teria acabado!

Nova casa, velhos problemas

Resident Evil: A Série abre com Jade adulta em Londres, estudando os zeros em busca de prova da coordenação entre eles. Na série, os infectados se locomovem através do olfato, principalmente quando sentem o cheiro de sangue, o que os coloca em um estado de frenesi e os fazem perseguir e localizar sua presa.

Enquanto isso, temos a história paralela de Jade, Billie e Albert Wesker chegando à cidade de New Raccoon City, uma cidade empresarial que serve de moradia para os funcionários da Umbrella Corporation. E é neste detalhe que a série começa a perder o brilho e a mão com suas decisões. Na realidade, todo o arco das jovens Wesker é extremamente dolorido de acompanhar, levando o outro arco da história junto pra cova.

Logo de cara, Jade mostra ter aversão à sua futura cidade e uma richa contra Albert que jamais é explicada na série. Já Billie se mostra mais inclinada a dar uma nova chance de vida, já que se sentia isolada devido às ações que tomou em prol de sua defesa à vida animal, como liberar sapos da aula de biologia em sua antiga escola.

Resident Evil: A série
Licker com problema de audição

Os problemas logo começam a surgir com Billie sendo vítima de bullying por suas escolhas veganas na nova escola, o que leva Jade a bater na agressora de sua irmã. E ela faz isso usando a máscara do mascote da escola, obviamente o guaxinim símbolo de Raccoon City. Mas, por algum motivo que foge completamente à lógica, Jade esconde a cabeça da fantasia no armário de Billie, piorando a situação da irmã!

Planos dignos do Cebolinha

Resident Evil: A Série sofre de um problema constante com o desenvolvimento da sua narrativa, construção de personagens e continuidade. Inicialmente, acreditei que o segmento da Jade adulta salvaria a série e traria o ouro para a casa da Netflix. Porém, ela consegue ser pior com um desenvolvimento ainda mais confuso.

Ambos os lados, sejam sobreviventes ou a Umbrella neste mundo pós-apocalíptico, conseguem ser completamente insanos com as decisões tomadas. Não existem leis que regem os acontecimentos, mesmo que elas sejam explicadas. A maior prova disso ocorre logo nos primeiros episódios.

Resident Evil: A série
Aqui temos apenas o visual do Dr. Salvador sendo usado por um humano

Jade acaba sendo capturada por um grupo de sobreviventes, que resolve vendê-la pra Umbrella. Um pelotão chega guiado por Richard Baxter, mas antes de assegurar a captura de Jade os soldados da Umbrella abrem fogo contra eles. Jade consegue fugir, em meio à horda de mortos vivos, provando que os soldados são stormtroopers glorificados e completos “buchas”.

A Umbrella de Resident Evil: A Série é o equivalente aos vilões dos desenhos animados, causando o caos completo onde quer que passe. Isso mostra como a série não respeita seu próprio universo. Durante sua fuga, Jade acaba em um túnel com lickers, criaturas guiadas pelo som, forçando o grupo de refugiados a ficar em silêncio. Já a Umbrella entra com algo digno de uma micareta e trio elétrico no mesmo túnel, mas quem acaba sendo atacado antes? Exato! O grupo de sobreviventes que estava em silêncio!

O exemplo acima ainda dá pra ignorar, mas há outros momentos bem mais difíceis de fazer vista grossa. Momentos guardados para os episódios finais, como zumbis que não atacam exclusivamente a protagonista para seguir um cheiro em um cômodo fechado, Dr. Salvador biruta que não sabe trancar uma cela por fora, jacarés que teleportam e a vilã matando todos seus soldados para aparecer na cena seguinte com novos soldados.

Resident Evil: A série
Bert: “Promete pra mim que vai assistir até o final?”

Quarentena pra que?

A narrativa fica “ainda melhor” com a maneira que Billie é infectada, com as irmãs indo resgatar animais usados como cobaias pela Umbrella. E adivinha como elas invadem o super tecnológico laboratório onde seu pai trabalha? Roubando as chaves e cartão de acesso? Não, elas entram usando um “áudio do zapzap” em que Wesker fala seu nome. Genial!

Claro que um laboratório tão importante e contendo amostras de T-Vírus deve ter muitos seguranças e cientistas trabalhando dia e noite, certo? Claro que não, crível demais. O negócio é deixar o lugar abandonado igual a um galpão velho! Com a curiosidade à flor da pele, Billie acaba abrindo a jaula de um Cerberus e é mordida no ombro, sendo infectada e assimilando o T-Vírus, diferente dos outros infectados.

Jade e Billie passam a investigar ainda mais a fundo a Umbrella e seu pai. Enquanto isso, no futuro, Jade descobre uma forma de manipular os infectados, mas consegue ao mesmo tempo causar caos na base dos aliados da instituição conhecida como Universidade – algo semelhante aos “mocinhos” deste universo.

Resident Evil: A série
Essa arco final foi como ver uma montanha russa cair em cima do carrossel

Boas ideias, má execução

Resident Evil: A Série tem boas ideias, porém o que joga a série pra debaixo do ônibus é que, mesmo durante o arco das personagens adultas, elas agem como adolescentes. Outro exemplo são as atitudes tomadas pela vilã e Jade, que não condizem com as expectativas. Jade chega a mandar a própria filha sozinha pra fora do navio, onde viveu a vida toda!

Por incrível que pareça, há arcos interessantes como a investigação de Tijuana, os arquivos confidencias da verdadeira Raccoon City, Evelyn Marcus tentando salvar o nome de seu pai e o arco dos clones de Wesker. Algo que não seria estranho de ver o vilão fazer na série, ainda mais com o atual rumo que os jogos vem tomando.

Resident Evil: A Série extrapola os erros cometidos em Infinite Darkness. Péssimo roteiro, erro e falta de continuidade nas ações e reações das personagens, que também são sem sal, e um Tyrant desnutrido. Uma série que me fez querer abraçar o Paul W. S. Anderson e a Milla Jovovich e pedir desculpas.