Psychonauts 2 chegou trazendo toda sua loucura mental em um jogo repleto de cores, bom humor, fases e muito, mas muito conteúdo para explorar, bem como a própria mente humana. Mantendo o seu visual caricato (que às vezes até soa esquisito), o jogo apresenta níveis de detalhes bastante aprimorados, ao ponto de ser semelhante a uma bela animação com um estilo que lembra as obras de Tim Burton (como esta aqui), mas com a diferença de que aqui, geralmente, o clima não é sombrio.
Após muitos adiamentos que somam longos cinco anos de desenvolvimento, a Double Fine Productions tenta nos recompensar por tanta espera (spoiler: conseguiu), essa aventura psíquica é tão criativa que, sem dúvidas, fará você explorar cada cantinho deste universo e perder a noção do tempo. Por ser distribuído pelo Xbox Game Studios, o jogo desembarcou diretamente no Game Pass para as plataformas da Microsoft, entretanto, essa experiência também está disponível na Steam, PS4 e PS5. Só falta o Switch entrar nesta brincadeira, não é mesmo?
Confundindo mentes
Apesar dos elogios iniciais, devo confessar que Psychonauts 2 pode te deixar perdido no início da narrativa, isso acontece devida a intensidade e quantidade de informações apresentadas. Veja: há uma retrospectiva dos eventos de jogos anteriores que até resumem bem a história até aqui, mas em seguida, há diversas cenas mostrando Raz em seu novo emprego e de repente você se vê em uma missão atravessando o interior da mente do Dr. Caligosto Loboto com mudanças bruscas de cenários e diálogos labirínticos. Tudo isso deixa uma única pergunta na cabeça: Afinal, o que está acontecendo?
Talvez esse começo seja intencional, pode ser uma forma dos Psiconautas entrarem na nossa mente da mesma maneira que estão tentando desvendar os mistérios da cabeça do Dr. Loboto para descobrir quem está por trás do ataque contra Truman Zanotto. Essa é a missão principal e toda história vai se desenrolar através disto. Porém se você não conhece esses personagens, certamente ficará confuso e ter uma reação um pouco incômoda, semelhante aos sentimentos do Marcos, um amigo que topou essa jogatina excêntrica comigo.
Aos poucos, as coisas vão ficando mais claras e com ritmo natural, permitindo um acompanhamento melhor desta narrativa. As legendas em português também tentam ajudar nesta compreensão, trazendo um linguajar bem-adaptado, com piadas e até gírias brasileiras. Ainda assim, saiba que Psychonauts 2 possui muitos diálogos que trazem até mesmo opções de respostas. Além disso, o jogo também tem menus com diversos conteúdos para explorar.
Posso passar uma impressão de que o jogo seja complexo por seus textos e menus e que isso incomode, o que não é a minha intenção. Porém é interessante mencioná-las, pois essa camada está presente durante todo o jogo e requer atenção, caso você queira se aprofundar nesta jornada e até para entender a progressão dos poderes de Raz e os problemas mentais apresentados.
Entretanto, não é apenas de informações textuais que Psychonauts 2 é feito. O design do jogo e suas mecânicas são tão bons que te prendem neste mundo mesmo se você não quiser se aprofundar nos diálogos. O pequeno e carismático Razputin Aquato, por exemplo, é um ótimo telepata cheio de poderes, que apesar de serem semelhantes aos que existiam no primeiro título, agora possuem outras formas de usar e são focadas no combate, proporcionando maior variedade de golpes e diversas outras interações. Ao mesmo tempo, ele ainda é uma criança e sua inocência garante momentos hilários.
A beleza única de Psychonauts 2
Também fica notável como as fases são lindas e bem construídas, elas trazem muitos lugares para conhecer, abundância de coletáveis, inclusive todos semelhantes ao primeiro título. Porém o que chama a atenção são as transições de cenários conforme exploramos os mundos mentais, elas acontecem de maneira fluída, desde as cenas de animações até as gameplays e ainda te colocam em diversas perspectivas, podendo até te deixar meio perdido, mas quem disse que é fácil interpretar as profundezas da mente…
Cada uma das fases mentais criam formas fantásticas e, às vezes, esquisitas para abordar os problemas psicológicos do cérebro invadido. O interessante é que a abordagem consegue equilibrar seus tons de seriedade com carisma e bom humor para que a experiência não tome um rumo tão pesado. E mesmo com toda a fantasia, cores, inimigos e coisas para fazer, de forma subjetiva o jogo está sempre mostrando como um Psiconauta pode ajudar a lidar com seus conflitos internos.
Tudo isso reflete no design de fases de Psychonauts 2 que traz puzzles diferentes a cada nível, sempre se conectando com o tema do cenário, mostrando que não faltou criatividade na Double Fine Productions. Sério, as fases são extremamente animadas e te deixam instigado a descobrir tudo o que for possível. Ainda assim, se faltar algo, o fator replay, com certeza, está garantido. Inclusive o modo de entrar novamente na mente dos personagens traz de volta aquele cenário onde percorremos por cérebro gigante. Quem lembra?
Dentre os quebra-cabeças, as conexões de palavras são bastante curiosas e chamam a atenção. Na teoria você pode incentivar as ações de uma pessoa, cuja mente está sendo invadida conforme as conexões de pensamentos que você faz na cabeça dela. Na prática não há opções de consequências, ou seja, só há um caminho para essa formação de pensamentos, o que pode desanimar um pouco essa ideia. Ainda assim, encontrar os pensamentos certos para guiar os personagens na história é um bom atrativo, muitas vezes, requer atenção ao contexto psicológico com os seus objetivos na missão.
Esses desafios de pensamentos não são tão difíceis de solucionar, na verdade. Psychonauts 2 por inteiro tem um nível de dificuldade tranquilo, alguns inimigos ou puzzles até podem dar um pouco mais de trabalho, mas basta entender seus movimentos e combinar golpes. Infelizmente não há alternativas de dificuldade, ao invés disso, há opções de acessibilidade, o que é muito bem-vindo.
Poderes psíquicos para todos
A acessibilidade pode, por exemplo, remover os danos de queda do personagem, deixá-lo invencível ou um pouco mais poderoso para que você não tenha maiores problemas durante os combates. Além disso, também há opções para aumentar as legendas, indicadores de interface e até configurações para compensação de daltonismo. É legal ver que a produtora se preocupou com as pessoas que possam ter essas dificuldades, isso realmente torna Psychonauts 2 acessível para todos, apesar de que a intensidade de cores, às vezes me preocupa.
Também é importante mencionar que, apesar de o jogo tratar de problemas mentais como dependência, transtorno do estresse pós-traumático, ataque de pânico, ansiedade e alucinações de forma humorada e leve, pode haver jogadores que se incomodem ou tenham reações negativas. Por isso a Double Fine convida a todos para darem seus feedbacks e entrar em contato com o CVV, o Centro de Valorização da Vida, se for necessário. Sim, uma fundação brasileira! Isso mostra o real cuidado em trazer um conteúdo que seja divertido, mas de forma responsável.
Fora das fases mentais, Psychonauts 2 ainda tem diversos e vastos locais para explorar. Lugares como o Cortex-Central que é onde Raz trabalha, a Pedreira que fica ao redor da empresa, florestas enigmáticas e muitos outros lugares que reservam missões secundárias, muitos diálogos curiosos que até funcionam para a progressão principal e claro, bastante itens escondidos.
Um programa de estágio intensivo
O jogo possui um sistema de melhorias fácil de gerenciar. As habilidades como a levitação, telecinese, clarividência e os demais podem ser melhorados conforme adquire créditos de estagiário. Com isso é possível ganhar novos golpes ou maior abrangência dos poderes. Além disso, você pode personalizar cores e estilos dessas habilidades com uso de broches, que são adquiridos conforme você combina objetos encontrados e isso, certamente, te incentivará a procurar por eles.
Coletáveis em forma de desenhos, bagagens emocionais, cofres de memórias, cristais roxos, psi-cards, núcleos, e vários outros itens marcam presença por aqui e vão ajudar a subir seu nível de estágio, destravando novas melhorias. Conversar com seus novos colegas de trabalho também abrem caminhos para as missões secundárias que incluem mais itens e até arenas de combate com hordas de inimigos. Ou seja, tarefas não faltam e seu estágio nesta empresa psíquica renderá um contrato bem duradouro.
O jogo proporciona muita diversão, não há dúvidas, mas algumas coisas podem incomodar como a intensidade de informações já mencionada. O mapa é outro exemplo, pois além de não mostrar sua localização, às vezes é complicado entender as legendas e localizar os lugares, restando ficar de olho nas placas de direção. Minha jogatina foi através do Xbox One e infelizmente ocorreram pequenos travamentos, um deles me fez reiniciar o jogo, inclusive. Esses detalhes podem atrapalhar a experiência algumas vezes, mas não diminuem tamanha alegria.
Há muito o que descobrir em Psychonauts 2 e posso afirmar que tudo vale a pena e rende uma jogatina extremamente agradável. Aqueles que curtem esse gênero não podem deixar essa aventura passar despercebida. E mesmo que a complexidade dos assuntos possam causar um certo estranhamento, dê uma chance para as missões de Raz Aquato, pois além de serem criativas, garante muita curtição. Como um bom jogo de plataformas deve ser.