Quando eu peguei Pronty, achei que meu treinamento com Metroid Dread e Hollow Knight teriam me deixado mais do que pronto para explorar o fundo do mar. Com a máscara de mergulho já pronta, eu comecei a aventura imaginando que nada mais me surpreenderia dentro do gênero e, para minha sorte, eu estava muito enganado.
Lançado originalmente pela 18Light Game Ltd. e FunZone Games para os computadores em 2021, a aventura finalmente chegou ao Nintendo Switch e não te deixa apenas na promessa de levar a jornada para outro nível enquanto você estiver submerso. E eu digo isso por também entrar nessa aventura achando que estava preparado…mas o que vem de lá, meus caros leitores, não tem treino que salve.
Combates complexos, sistema de movimentação incomum e diversos equipamentos para equilibrar as coisas serão os responsáveis por te prender algumas horas na tela, pensando em qual será o próximo passo. Para ser bem sincero com vocês, logo de cara, isso e muito mais fará toda a experiência valer a pena.
Mergulhando no gameplay de Pronty
A primeira coisa que te impactará em Pronty é o fator gravitacional que ele está submetido. Diferente dos demais metroidvanias, inclusive em trechos embaixo do mar, neste você está liberado para nadar em qualquer direção. É como se estivesse voando por aí por todo o game e essa liberdade além de abrir portas, também chega em conjunto com uma dificuldade anormal para a exploração.
E calma, isso não é nada ruim. Porém, os padrões que estava acostumado são para serem jogados fora assim que der o Start por aqui. Pensa que tem inimigos cujo ritmo é para os lados, pulo, ataque e coisas do gênero. Aqui eles podem se mover em muito mais direções e as desenvolvedoras fizeram o favor de adicionar ataques diversos em cada um, tornando tudo ainda mais difícil.
Afinal de contas, tudo tem que ter um equilíbrio: se você tem uma facilidade maior para se movimentar, os seus maiores oponentes também carregarão isso consigo e a IA não deixa pedra sobre pedra embaixo do oceano. Eu vou repetir, joguei Metroid Dread e Hollow Knight e o que vi por aqui é uma vontade assassina ímpar para eliminar o jogador.
Só por isso já valeria a pena experimentar Pronty, já que até você se acostumar devidamente com o fator os oponentes já varreram os recifes com a sua cara. Ser mais esperto do que a máquina é sofrido em alguns momentos, mas recompensador. Eles seguem o mesmo padrão que os demais games similares: até o inimigo final pode ser derrotado sem os upgrades mais fortes, então é questão mesmo da habilidade da pessoa que está na frente da tela.
Porém, é nas camadas e na fenda do biquíni que as coisas ficam ainda melhores. Bront, o peixe-espada robô pode usar ataques carregados e à distância, dando mais opções para a personagem principal prosseguir. Os upgrades que podem ser equipados são carismáticos em grande parte, assim como competentes. O cenário então, nem preciso falar que é um show a parte conforme avança e encontra novas áreas.
Eu comecei isso achando que era “apenas mais um”. Porém, me trouxe desafios impactantes e daqueles que você dificilmente se esquecerá posteriormente. É o fato de você olhar para um inimigo chamado Mordidinha Dourada, rir do nome e do seu design e passar 2h sofrendo para eliminar o bendito oponente. Sabe quando o projeto tem personalidade? Foi isso que eu encontrei por todo o meu trajeto.
Um mistério submarino
Você desperta na forma de uma criatura marinha desconhecida, acompanhado por um robô na forma de peixe-espada chamado Bront. Ele foi criado para treinar sentinelas e defender o espaço marítimo, porém começa a achar estranho a ausência dos demais e o fato de você estar completamente sozinho dentro de uma câmara. Afinal de contas, o que está havendo em Pronty?
O principal, ao menos, eles não demoram a mostrar: Raksha, uma criatura apocalíptica que ninguém sabe de onde saiu e para onde vai, submergiu diversas cidades e eliminou a vida como conhecemos no fundo do mar. A partir daí, o plano é simples, descobrir as razões do ser abismal e como impedi-lo de continuar sua matança.
Vou ser sincero com vocês, o jogo não é longo e se você for habilidoso descobrirá o quanto antes o que está rolando em sua história. No entanto, eles deixam tudo em um grande mistério por uma gigantesca parte do game. As coisas começam a se revelar apenas do meio em diante, o que pode te deixar imaginando o que acontece pela maior parte de sua experiência.
Isso me deixou sem muitas motivações para prosseguir, já que em alguns trechos você tem a certeza de que podiam ter contado algumas coisas previamente e isso foi jogado mais para frente apenas para prender o público até próximo ao final. Dá para sacar tudo o que aconteceu em Pronty próximo de sua metade, porém ninguém realmente fala ou mostra as coisas até você chegar nas etapas finais. Isso frustra, para dizer o mínimo.
Não é como se te mergulhassem ainda mais dentro daqueles cenários, ampliando sua visão sobre aquele mundo e os seres que vivem por lá. O fundo do oceano não tem mais vida, tudo foi devastado por Raksha. Alguns resquícios como arquivos que encontra e áreas contam parte da história, mas não aquilo que você precisa ou quer saber de fato.
Óbvio, caros leitores, dá para passar tudo batido e aproveitar apenas o gameplay. Diversos games não tem uma história definida e está tudo bem. Meu maior problema com este é que há uma trama sim estabelecida, feita para pipocar na sua frente aos poucos e de forma extremamente lenta. Isso falando de um título que você conseguirá finalizar entre 10h e 20h – caso queira explorar tudo e encontrar mais coisas.
Equilíbrio da vida marinha
Apesar de reclamar do ritmo, Pronty não tem um enredo ruim e mantém toda a personalidade que propuseram na aventura. Isso auxilia no equilíbrio das coisas, unido ao gameplay que acabará por surpreender muitos fãs de metroidvania por aí.
Ouso dizer que, mesmo que tenhamos Abzu, Song of the Deep e Silt, nenhum deles carrega o charme marinho que a equipe trouxe para este. Você tem uma movimentação aprimorada, uma arma que na verdade é um peixe robótico, upgrades que podem adicionar até uma terceira criatura para te auxiliar, diversos tipos de oponentes no caminho e chefões carismáticos e ameaçadores. É a fórmula perfeita para te entreter.
Além disso, em nenhum momento senti a exploração cair na mesmice ou ficar cansativa. Ao mesmo tempo que temos o mar azul e limpo de um lado, há laboratórios cheios de toxinas, área onde caiu uma grande quantidade de petróleo, redes elétricas causando problemas e vários outros que vão exigir que se reinvente enquanto avança.
Para mim, Pronty não nos mostra como será o futuro, mas me deu muito o que pensar sobre a forma como tratamos a vida nos oceanos. O impacto que causamos, sabe? Ver diversos itens destoando por lá, como computadores, máquinas diferentes e coisas que não deviam existir e atrapalhar um ecossistema são ótimos elementos que farão os fãs questionarem como tudo isso pode impactar a longo prazo.
Vamos ser honestos, a proposta da 18Light Game Ltd. e da FunZone Games realmente é de conscientizar o público, mas não ficam o tempo todo gritando isso como a PETA, por exemplo. Sabermos essas coisas, seja por campanhas ou até por videogames, é sempre ótimo e ajuda a formar ideias mais sólidas para o nosso futuro. Então, eles adicionaram diversos detalhes que mostram onde erramos naquela realidade. Só prestar atenção.
Com tudo isso sendo carregado por pouco tempo de jogo, acredito que seja uma experiência que valha a pena dar uma chance. Ainda que eu veja falhas no ritmo, o gameplay e a história que se esconde por trás compensam o que viveu no fundo dos oceanos e faz de Pronty um dos melhores do gênero que chegaram ao Switch neste ano. Enquanto Hollow Knight: Silksong não chega para fazer frente, é neste que seus olhos deviam estar voltados.