Quando foi anunciado, Power Rangers: Battle for the Grid era a promessa de comemoração dos 25 anos da franquia. Desde o lendário Mighty Morphin’ Power Rangers, de 1993, a série ganhou mais 23 temporadas, três filmes nos cinemas, várias adaptações em HQs (incluindo crossovers com a Liga da Justiça) e 16 jogos. O novo game é o 17º e serviria para trazer um ponto comum para todos os fãs, independente de onde tenha iniciado.
A nWay decidiu fazer essa homenagem em forma de um jogo de luta, trazendo os personagens mais icônicos, megazords e vilões para se enfrentar nos cenários que remetem às locações mais conhecidas da série. Sendo um dos tokusatsus mais famosos do mundo e que ainda é detentor de um dos maiores sucessos do gênero, não é de se esperar pouca coisa do game que decide trazer o melhor dele para seu público, certo? Nem tanto…
Da Alameda dos Anjos para outros mundos
Para entender a história desses heróis não precisa de muito: um grupo de adolescentes são escolhidos para defender algo, seja a Terra, a Galáxia etc. e para isso ganham totens de poder para se transformarem nos lendários Power Rangers. Para enfrentarem os vilões, além das habilidades especiais e de suas armas, eles também contam com robôs gigantes chamados de Zords. Geralmente, cada Ranger recebe um e, nas batalhas mais acirradas, unem todos do grupo para formar o Megazord. Aí termina com um inimigo no chão, prédios caídos, destruição por todo lado… O básico do gênero, para quem está habituado com obras parecidas como Ultraman, Kamen Rider, entre outros.
Power Rangers: Battle for the Grid foca bastante no arco das HQs atuais. Nela, os Power Rangers originais estão protegendo a Alameda dos Anjos das maldades de Rita Repulsa e descobrem uma trama ainda maior. Lord Drakkon, um antigo Ranger Verde de uma dimensão paralela, está matando e roubando os poderes de vários destes heróis em seus universos para si. Ele conta com a ajuda dos Sentinelas Mastodontes, minions munidos do poder do Ranger Preto, e da Assassina de Rangers, a representante rosa Kimberly dominada mentalmente pelo vilão.
Cabendo aos demais heróis salvar não só suas vidas como todas as realidades, eles se unem para enfrentar o poderoso inimigo. Se você nunca leu os quadrinhos, pegou o jogo desavisado e está me agradecendo, saiba que te compreendo perfeitamente. Por ser fã e conhecer isso tudo como a palma da minha mão, sei completamente o que leva esses personagens até este game que não possui um modo história para te contar isso. Não há uma explicação razoável de quem são os três dos nove personagens que chamam bastante atenção por suas grandes diferenças e similaridades aos que conhecemos.
Para fazer jus à magnitude, Power Rangers: Battle for the Grid devia ter um hall invejável de personagens marcantes de toda a saga. Mas não é o caso: a lista se limita a apenas estes nove lutadores. São eles o clássico vermelho Jason e verde Tommy de Mighty Morphin’ Power Rangers, além do vilão Goldar, a amarela Gia de Power Rangers Megaforce, a agente Kat Manx de SPD, o Defensor Magna de Lost Galaxy e os três estrangeiros de outro universo pelas HQs: Lord Drakkon, Sentinela Mastodonte e a Assassina de Rangers.
Além da ausência do modo História, a limitação de personagens selecionáveis numa franquia de 25 anos foi uma das minhas maiores decepções. Não há uma forma de se explicar isso. É uma comemoração que traz apenas cinco heróis, dois anti-heróis e dois vilões. Isso de centenas de lutadores, inimigos e participações especiais. Mesmo com um season pass anunciado com três novas adições, a impressão que passa é de que o game chegou incompleto para o público.
Em três partidas você utilizou todo hall de lutadores e ainda verá repetições deles sendo utilizadas pelos oponentes. Assim como, para quem vê apenas a série principal, existem praticamente três desconhecidos ali. Sendo sincero eu não reclamo deles, pois gostei muito das HQs e recomendo. Introduzi-los para interagirem com os demais é mais do que bem vindo, mas deviam ter incluído muitos outros que ficaram de fora.
Eu sei que reclamei no review de Jump Force do excesso de personagens desnecessários e que poderia haver equilíbrio, mas agora estou em dúvida sobre qual jogo desagrada mais: o que traz demais ou o que limita extremamente? Ambas as comemorações pecam, mas confesso que aguardava algo com mais conteúdo vindo de uma franquia tão conhecida e amada pelos fãs.
Pancadaria entre Rangers
Como jogo de luta, posso afirmar que ele funciona muito bem. Assim como Dragon Ball FighterZ, a nWay optou por trazer um combate mais dinâmico e sem muitas firulas. Nada de meia-lua, combinação sequencial de comandos para gerar grandes combos nem nada do gênero. Apostando no simples, eles trazem um trabalho bem-feito e funcional.
Cada botão é responsável por um golpe distinto sendo soco, chute, ataque forte, ataque fraco e poder da arma, além da defesa. No Switch, por exemplo, apertando A pra frente você desfere um tipo de golpe. Segurando A pra trás, outra técnica será aplicada. Enchendo a barra de especial (que possui três ícones), gastando uma você solta um ataque comum que tira um pouco mais de dano e gastando duas você tem o especial. Para isso, basta apertar a combinação de dois botões e esperar pela vida do inimigo ser eliminada.
Os confrontos são dinâmicos, podendo escolher três personagens para lutar por você, cada um com uma barra de energia distinta. Quando um deles cai, você pode acionar o Megazord para causar um dano maior junto aos seus golpes. A agilidade com que tudo se desencadeia encanta, assim como os golpes cheios de pose, os especiais que trazem momentos icônicos e alguns combates que desencadeiam curtos diálogos entre os personagens.
Porém, além da falta de personagens, o game também traz poucas opções para utilizar os robôs gigantescos e grandes vilões. Você tem disponíveis apenas o Dino Megazord original de Mighty Morphin’ Power Rangers junto ao Dragonzord e o Mega Goldar. Você também não os vê completamente em ação, surgindo uma cauda, um pé ou um braço ocupando toda a tela no meio da luta. Temos também cinco arenas, sendo que uma delas é o famoso espaço em branco de treinamento. Considerando o número de personagens, é aceitável.
Para não ter brigas de quem será qual Ranger, a desenvolvedora conseguiu trabalhar bem o multiplayer. Além da opção básica de mudar uma das cores para diferenciar, os comandos são tão simples que optar pelos joy-cons separados não apresentará problema algum. Você acaba não usando os gatilhos de qualquer modo, então não se preocupe em ter menos do que ele já oferece. Uma dica: é muito divertido vencer o oponente quando ele está usando o Ranger vermelho ou o verde.
Sentimento de algo faltando…
Quanto mais você joga Power Rangers: Battle for the Grid, mais rápido vem a sensação de vazio. Fora os elementos ausentes que citei, o jogo nem mesmo oferece uma galeria para contar um pouco da história da franquia, com suas músicas clássicas para ouvir, curiosidades, entre outras coisas legais deste gigantesco universo. Se tem o famoso tema Go Go Power Rangers? Esquece.
O jogo oferece duas opções online, ranked e casual. Aliás, é possível disputar partidas entre Switch e Xbox One pelo crossplay. Local você tem o modo Arcade com 8 lutas, o Versus e o Treino. Dá para modificar o perfil mudando o cartão de jogador e, se achar útil, tem também um tutorial.
Como homenagem aos 25 anos, acredito que a nWay falhou imensamente com os fãs da franquia. Ironicamente, Power Rangers: Legacy Wars, um game mobile de luta com ações por cards e disponível para Android e iOS, oferece muito mais conteúdo. E sabe o que é pior? O game foi produzido pela mesma desenvolvedora!
Ainda não é hora de morfar
A própria empresa reconheceu pelo Twitter que está ciente de todas as reclamações do seu público perante essas questões, pedindo paciência e para que continuem antenados nas novidades. Porém, fico em dúvidas se a comunidade permanecerá fiel ao game, que se segura principalmente por seu teor online competitivo. Este tipo de erros custa caro, vide o ocorrido com Marvel vs. Capcom: Infinite.
Apesar de ser um grande fã da franquia e um dos muitos que adora o jogo de SNES, eu definitivamente não recomendo este novo game. É um produto licenciado que tem sim seus méritos, afinal é um jogo de luta que funciona, mas que não faz jus à franquia que conquistou fãs por décadas. Mesmo com a possibilidade de DLCs gratuitas ou atualizações no futuro, não espere encontrar um diferencial neste jogo.