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A Humanidade realmente conseguiu acabar com tudo o que havia de bom na Terra e os dias por aqui estão contados. Os recursos foram depredados além do ponto de retorno e tudo desandou sem ter como voltar atrás. Os próximos passos precisam ser para um novo planeta. É aí que Marte entra na jogada e as malas já estão mais do que prontas.

O lançamento deste foguete chamado Per Aspera, desenvolvido pela Tlön Industries – brilhante estúdio argentino – e publicado pela Raw Fury, um jogo de estratégia com foco narrativo que recebeu uma prévia em outubro no Gamerview. Porém qual será o futuro da colônia humana em Marte?

Ground control to Major Tom

Tendo escrito a prévia de Per Aspera, é justo e necessário que eu referencie o citado texto com uma certa frequência, então caso queira estar plenamente em dia com os detalhamentos das ligações que estarei fazendo, recomendo que dê uma lida rápida na prévia, afinal, deve te tomar menos de 5 minutos, vai lá!

Imagem de Per Aspera
É importante entender o chão-de-fábrica para saber como planejar.

Agora, depois desse parágrafo todo escrito em uma sentada só, sem nenhum ponto final, vamos conversar com mais calma. Como dito na prévia – tá vendo, é bom tu ler ela, vai ajudar – Per Aspera me surpreendeu pela curva de aprendizado inicial baixíssima. Pelo gancho narrativo, o jogo se diferencia dos demais do gênero – tal qual Age of Empires, Civilization ou Surviving Mars – e traz os jogadores de uma maneira equilibrada, dando o apoio da história, porém dando liberdade caso se queira dar uma volta ou outra.

Esta combinação de facilidade de entendimento inicial com a narrativa presente se torna um escorregador intenso que, quando vamos nos dar por si, já se passaram horas de jogo e estamos mais fisgados do que gostaríamos em Per Aspera. Não se engane porém, caso imagine que a facilidade de entendimento se traduza em um jogo fácil. O que se inicia como um passeio em um planeta árido, agressivo e perigoso rapidamente se mostra como o que de fato é: sobrevivência (em um planeta árido, agressivo e perigoso).

Ao acordar nos percebemos no corpo (?) de AMI, uma inteligência artificial cujo principal objetivo é preparar Marte para a colonização humana. Em contato direto com os responsáveis pela missão lá naquele globinho azul, precisamos mobilizar os drones, posicionar estruturas e obter recursos para possibilitar a presença humana.

Imagem de Per Aspera
Servindo de para-raios de meteoros.

Avançando nos acontecimentos, chegam os primeiros contatos dos representantes daqueles que serão os primeiros habitantes do planeta vermelho. Chegam também os seus questionamentos sobre o que é AMI e qual o seu papel nesta sociedade que está por vir. Aumentam as dúvidas sobre qual será o seu legado e se ele será respeitado e reconhecido pelos colonos. É aqui que vou interromper meus comentários sobre a narrativa de Per Aspera porque ela escala muito e muito rápido, e cada surpresa importa.

This is Major Tom to Ground Control

Curiosamente os conceitos de jogabilidade de Per Aspera são simples quando se para pensar. Isso vai de encontro às minhas sensações jogando, tendo percepções de que cada decisão importa mais do que aparenta na superfície e que utilizar as múltiplas visões analíticas oferecidas trariam um aproveitamento maior no fim das contas. Vale ressaltar que essa diferença de percepção é um comentário muito positivo, pois conseguiram criar uma complexidade e interconectividade profundamente interessante a partir de mecânicas bem básicas de pertencimento à raios de alcance de estruturas.

Mecanicamente, Per Aspera não inventa nada no gênero. O que o jogo faz bem é trazer para o usuário comum conceitos e práticas de movimentação orbital. O que foi trazido para um quase mainstream dos jogos em Kerbal Space Program, ainda exigindo um conhecimento sólido dos jogadores sobre cálculos de navegação espacial, é agora trazido a Per Aspera de forma alegórica, trazendo um grau de satisfação semelhante para o usuário, porém sem exigir quase conhecimento de causa algum.

Imagem de Per Aspera
Sou basicamente um cientista da NASA…

O visual de Per Aspera me chamou a atenção desde a primeira vez que vi um trailer de início de divulgação. Me lembrando de Paper Mario, as estruturas humanas em Marte, observadas de longe, parecem todas ser de papel. Essa sensação traz uma ludicidade e facilitou a minha inserção como um ser não-humano visualizando estruturas humanas em uma perspectiva diferenciada.

Aproximando a câmera, é possível perceber os detalhes das estruturas, as diferenças de relevo, os tipos de estradas variados, assim como os veículos e drones se movimentando pelas colônias. Tão interessante quanto, é, ao afastar a visualização para a visão orbital, a exibição, as ações e as informações mostradas na órbita de Marte. Ter esse nível de controle sobre o que ver e quando ver é satisfatório em um nível quase cibernético.

Imagem de Per Aspera
Não se pode esquecer o passado.

Os meus únicos problemas com Per Aspera são referentes a alguns indicativos de interação que não são claros o suficiente, como a exibição constante de alguns botões de “adicionar” normalmente em momentos em que estão desabilitados, se nenhuma forma de feedback. Honestamente, essa é uma das 10 diretrizes básicas de Experiência de Usuário criadas por Nielsen, sendo senso-comum na área e deveria ter sido testada previamente.

Em outros momentos, ao longo de partidas já com algumas horas passadas, me deparei com momentos no qual me soou que a linha de produção simplesmente falhou. De uma hora para outra alguns dos recursos deixaram de ser produzidos, quebrando totalmente o restante da linha e, honestamente, não consegui compreender o porque, visto que nenhuma das matérias-primas haviam acabado e não me pareceu nenhum bug. Com isso, algum ponto de entendimento deve ter passado desapercebido e isso gera uma trava (softlock) nas minhas campanhas.

Imagem de Per Aspera
Tá tudo bem…

Per Aspera é, sem dúvida, um dos grandes jogos de estratégia lançados não só em 2020, mas sim um clássico instantâneo. É ainda mais impressionante por ter vindo de um estúdio estreante neste sistema solar com inúmeras estrelas e também é válido valorizar a produção de um estúdio latinoamericano, o argentino Tlön Industries. Viaje para Marte o quanto antes com Per Aspera.

Imagem do review de Dicefolk

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