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Paper Beast é, sem rodeios, o tipo de jogo que funciona melhor no PlayStation VR. Não me levem a mal, porque eu adoro o fato de Wipeout: Omega Collection e Resident Evil 7 funcionarem tão bem sem ou com o PSVR, mas Paper Beast é o tipo de experiência que, a exemplo de um Astro Bot ou Moss, só funciona mesmo se for em VR.

Primeiro game do estúdio francês Pixel Reef, o desenvolvimento foi capitaneado pelo veterano Éric Chahi, responsável pelo clássico Another World, por Heart of Darkness e também pelo relativamente mais contemporâneo From Dust. Sumido da indústria desde 2011 (quando foi lançado justamente o From Dust), o bom e velho Chahi demonstra que não esqueceu como se faz um jogo.

Onde estou? Quem sou eu?

De início, Paper Beast já ganhou meu respeito por ser um daqueles jogos que não explicam nada, não dão contexto, e não têm tutorial. Tudo o que você faz é na base da tentativa e erro, e as únicas indicações visuais são no seu controle, para te lembrar quais são os botões de agarrar ou “pular” (mais sobre isso adiante). Eu geralmente não vejo problema em passar por um pequeno tutorial na maioria dos games, mas a sensação de ser “largado” em mundo sem sequer saber o que fazer ou para onde ir, e ir aprendendo as coisas aos poucos, apenas pela observação do resultado das suas ações, é uma sensação quase única, e que eu recomendo a qualquer jogador.

Imagem do jogo Paper Beast
Ele não parece muito um cão, mas geralmente age como um.

Bom, sobre evitar spoilers: não é que o jogo tenha tanta coisa assim para ser estragada com spoilers, mas vou tentar evitar contar coisas que possam estragar a surpresa de quem for jogar pela primeira vez. O jogo se passa em primeira pessoa e possui um sistema de movimentação parecido com o de Doom VFR, que é o de “teletransporte”, em que você aponta para onde quer ir (movendo o DualShock 4) e aperta um botão para se teletransportar para lá. Com a segunda alavanca analógica, dá para virar rapidamente a visão para os lados sem muito esforço. Parece contraintuitivo para um jogo de VR, mas realmente, pensando principalmente em um jogo feito para controle, é uma solução excelente.

E… é isso. Em Paper Beast, o jogador não “se vê” no espaço tridimensional (diferentementemente de um Astro Bot, em que você sempre sabe que é um robô maior), então use a imaginação para tentar saber o quê ou quem você é. A interação toda do jogo se dá com os tais paper beasts que dão nome ao game. Você possui uma espécie de laço que pode ser utilizada para interagir com essas criaturas e também pegar, mover ou atirar objetos que estão no cenário. Elas se comportam às vezes como cachorros, às vezes como insetos, e às vezes como bichos que a gente não vê geralmente – e que eu sinceramente não acredito que existam.

Siga o grandão que vai dar tudo certo

Uma dessas criaturas, em especial, é uma espécie de “guia”. Não dá para pegá-la nem arremessá-la, mas basicamente, você aprende logo cedo que é bom prestar atenção no que ela faz e para onde se movimenta. Todas as outras criaturas são de papel ou de algum outro material (como uma fita cassete…) e boa parte da graça do game é ver como elas reagem às ações que o jogador realiza dentro do mundo.

Os Paper Beasts que dão nome ao game têm uma modelagem simples (para parecer papel ou rolo de fita cassete mesmo), mas a física agrada muito e todos se movimentam com uma suavidade pouco vista antes. É até impressionante ver como cada pedacinho deles se movimenta de maneira quase que independente, e isso fica evidente quando o jogador resolver pegar um bicho desses e jogar longe.

Imagem do jogo Paper Beast
Parece uma briga? Você nem imagina quem é o inimigo aí…

Já o tal mundo onde Paper Beast se passa é uma mistura estranha de cenários que já existem no nosso planeta, como deserto, cavernas e rios, mas é tudo com uma paleta de cores bem básica, com texturas quase que “chapadas”, sem muito acabamento, e algumas formas são um tanto quadradonas. Nada disso incomoda, porque o que dá mesmo a sensação de ambientação é justamente a interação com os bichões e os pequenos quebra-cabeças que devem ser resolvidos.

Não existe certo e errado em nenhum desses quebra-cabeças – geralmente há apenas uma solução possível, e geralmente é a mais simples, como tirar a água de um rio para o colega grandão poder passar, ou guiar os bichos para levar areia até outra parte do cenário. E se o jogador não fizer nada? Não acontece nada. Paper Beast não pune ninguém, não tem tempo limite, não tem game over, e dá para passar bons minutos apenas brincando de ver as reações dos tipos diferentes de criaturas que existem ali.

Não é bonito, mas é gostoso

O fato da física funcionar tão bem e de o mundo não tentar em nada ser realista mitigam o fato de Paper Beast ainda sofrer com o principal mal dos jogos de PlayStation VR (principalmente se jogados no PS4 normal ou Slim): dá para perceber que a resolução é baixa demais, e isso é bem característico da maioria dos jogos do sistema. Não estou considerando isso exatamente como um ponto negativo, mas o bom e velho PS4 começa demonstrar claros sinais da idade.

Imagem do jogo Paper Beast
É legal ver como as criaturas reagem ao clima.

Com relação à parte sonora, há música ambiente, há música eletrônica (e de novo, sem querer estragar muito a experiência, mas não vamos entrar em detalhes) e há, claro, os efeitos sonoros dos Beasts batendo, empurrando ou arrastando coisas. Nada de mais, mas tudo se encaixa na jogatina e não acredito que ninguém vá reclamar do que vai ouvir em Paper Beast.

Dentre os dispositivos de realidade virtual, o PSVR é possivelmente o mais popular e mais barato deles, então é uma felicidade grande que Paper Beast tenha sido lançado para ele. A temática inovadora, os quebra-cabeças que não são tão exigentes, mas criativos e pedem que o jogador pense um pouco fora da caixa, e o alto teor de sensação de descoberta colocam o game entre as melhores pedidas para o sistema, sem dúvidas.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024