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Criado pela Finji, mesmo estúdio responsável por jogos como Canabalt e Night in the Woods, Overland é uma jornada que irá cruzar um EUA pós-apocalíptico rumo a uma possível salvação, enfrentando uma infestação de criaturas horrendas que estão acabado com o que restou da civilização.

Este é um título que literalmente se define pelo seu gênero, um jogo de estratégia e sobrevivência por turnos. Onde haverão decisões difíceis a serem tomadas, tanto para a sua sobrevivência, como pela dos outros que dependem de sua liderança. Todas as suas ações terão consequências.

Rumo ao oeste

Basicamente nosso objetivo é cruzar os EUA de costa a costa fugindo de criaturas horripilantes que querem nossa desgraça a todo custo. No caminho iremos encontrar aliados precisando de ajuda – sejam eles humanos ou caninos. Cabe a nós gerenciar da melhor maneira a forma como iremos realizar essa viagem por terras pós-apocalípticas e sobreviver ao caos, mas nunca sozinhos.

O gameplay é dividido por seções e cada uma delas se interpreta como um trecho do caminho que temos que seguir, que por sua vez possuem um determinado número de fases. Ao chegar no final de cada seção teremos de passar por uma fase desafiadora – e infestada de criaturas -, como uma fase de chefe no final de um mundo de algum jogo.

As fases por sua vez possuem um layout peculiar, muito semelhantes a um pequeno diorama – bastante atraentes por sinal. Na tela temos a visão completa de todo o cenário, incluindo aliados a serem salvos, objetos interativos para vasculhar a procura de itens e, claro, as criaturas. As fases são divididas por uma grade de movimentação e se desenrolam por turnos, intercalando entre o turno dos personagens e das criaturas.

Além disso, elas também possuem alterações climáticas que podem afetar nosso desempenho, como por exemplo fases noturnas, as quais não podemos enxergar os elementos não iluminados do cenário. Possuir uma lanterna ou acender uma tocha ajuda, porém gastam recursos.

Imagem do jogo Overland.
A morte sempre à nossa espreita.

Como em outros jogos do gênero, durante os turnos, temos um número determinado de ações. Porém, aqui, a movimentação e as ações de interação são mescladas no mesmo conjunto, ou seja, você poderá executar uma ação e andar uma casa, ou andar duas casas e assim por diante. A maioria dos personagens possuem duas ações por turno, exceto quando estão na direção de um veículo, ou enquanto estão feridos, perdem a capacidade de executar uma das ações.

Durante o gameplay, existe a opção de retroceder sua última ação durante um turno, caso sinta que sua escolha não tenha sido a mais apropriada. Esse recurso oferece uma certa salvaguarda, porém mantendo a tensão das escolhas difíceis mesmo assim. Outro detalhe são as descrições que cada personagem – inclusive os caninos – possuí abaixo de seus nomes, como gostos e histórias passadas, o que torna cada personagem único.

As criaturas se movem pelos sons ao redor, e qualquer ação que os personagens fazem – inclusive andar – geram sons, assim os seres apocalípticos sabem onde estamos e nos perseguem. Mas há como usar isso a favor, criando distrações a distância, como manter o carro ligado para gerar som e manter eles longe, ou mesmo, usar algum companheiro da equipe para distraí-los.

Caso as criaturas nos encurralem é morte na certa, podemos até estar com um escudo equipado ou uma arma, mas isso não será suficiente e quanto mais barulho fazendo mais deles aparecem. E eventualmente caso todos do grupo morram – todos os humanos no caso – é fim de jogo. Um fator interessante aqui é que cada novo jogo é randomicamente gerado, incluindo cenários, personagens e situações que iremos ter de enfrentar, ou seja, jamais haverá uma nova jornada com o mesmo personagem.

Imagem do jogo Overland.
Não são apenas as criaturas que irão nos atrapalhar.

A união é a salvação

De início temos a oportunidade de recrutar novos aliados, podendo eles serem humanos ou um dócil e amável cão – perdido em meio ao horror pós-apocalíptico -, ou coletar itens de sobrevivência, como armas ou kits de primeiros socorros. Além, é claro, do mais importante: combustível. Sem ele não há como sobreviver por muito tempo nessa terra devastada, pois ter um veículo é imprescindível para nossa fuga.

Nesse ponto começam as nossas decisões. É sempre interessante ter aliados para nos ajudar, seja por compaixão ou puramente por sobrevivência – afinal eles poderão carregar mais itens para nós. Seja seu coração frio ou uma manteiga derretida, o jogo te permite trilhar seu caminho sozinho ou com aliados. Mas já adianto que, sozinho seu percurso será mais difícil.

A questão toda se resume em: ter aliados, além de permitir carregar mais itens na equipe, também te fornece mais ações por turno. Ou seja, mais chances de conseguir itens, combustível e, por fim, sobrevivência. Mas, ao mesmo tempo, consumirá mais dos seus recursos, sejam kits médicos ou combustível para se deslocar. Muitas vezes você encontrará sobreviventes machucados, será que vale a pena utilizar um de seus preciosos kits médicos, ou pior, seu último kit médico para salvá-lo? Isso ficará a cargo de cada um decidir.

Imagem do jogo Overland.
Os mais fiéis.

Em relação aos caninos, eles são aliados muito úteis – e fofinhos. Sua principal diferença em relação aos humanos é que alguns deles podem atacar os inimigos sem a necessidade de possuírem uma arma equipada, o que por si só já os torna praticamente essenciais, tendo em vista que encontrar armas não é uma tarefa tão simples. Inclusive eles podem carregar itens e até mesmo podem equipar uma mochila. Sua única “desvantagem” é não poderem dirigir os veículos – por razões óbvias. E se sua equipe de humanos morrer, eles não poderão continuar sozinhos.

Os humanos, por sua vez, podem atacar duas vezes (quando equipados com uma arma), assim matando inimigos maiores. Além disso, alguns deles possuem habilidades únicas que podem ser de grande ajuda no decorrer da jornada, como apagar incêndios, convidar aliados para o time à distância, e por aí vai.

Lixo de uns, esperança de outros

Há várias possibilidades de escolha durante um cenário, seja procurar por itens vasculhando lixeiras ou carcaças de carros, ou – caso tenha combustível suficiente – cruzar a fase diretamente. O fato é que dificilmente há a possibilidade de simplesmente passar pela fase, pois coletar itens e combustível – nunca é demais – sempre será uma necessidade. E tais escolhas irão afetar seu desempenho no decorrer da jornada, seja positiva ou negativamente.

Dentro de lixeiras iremos encontrar os mais diversos itens, desde os mais úteis, até os que poderemos fazer uma troca por algum item de interesse futuramente, sejam eles armas, kits médicos ou até ursinhos de pelúcia e livros – cultura nunca é demais, nem no fim do mundo. Nas carcaças de carros podemos encontrar estes mesmos itens, além de combustível que pode ser coletado.

Ao encontrar outro grupo de sobreviventes podemos negociar itens com eles, caso eles tenham interesse no que temos a oferecer. Há também a possibilidade de roubá-los, porém isso é arriscado, pois eles irão nos atacar, e pior, mesmo que consigamos roubá-los e escapar, eles irão nos perseguir querendo nossa caveira. A mesma reação pode acontecer com aqueles companheiros de equipe que abandonamos para trás. No apocalipse, a vingança é plena.

Imagem do jogo Overland.
Concordo.

Outro ponto que merece atenção é nosso meio de transporte, de início iremos começar com um pequeno carro, que possui apenas um compartimento para armazenar itens, porém ele é econômico e podemos rodar uma boa distância com um tanque cheio. No decorrer da jornada – e com o aumento de nossa party – precisaremos de um veículo para acomodar todos e seguir viagem. E teremos a possibilidade de encontrar veículos maiores que comportam mais itens e passageiros, porém irão consumir mais combustível, o que irá impactar na distância que podemos percorrer.

Além disso podemos utilizar os veículos para atropelar as criaturas, danificando os carros e que, ocasionalmente pode levar à destruição completa – junto com quem estiver dentro. Veículos mais parrudos aguentam mais o tranco, mas mesmo assim essa deve ser uma das últimas opções, pois o custo disso pode ser alto demais.

Durante a transição entre os cenários é apresentada uma breve cena dos personagens do grupo conversando sobre esperança ou temores, ou caso esteja sozinho, breves pensamentos do mesmo. Nessa mesma ocasião será apresentado o mapa para a escolha do próximo destino, no que entramos novamente na questão de gerenciamento e escolhas. Normalmente seremos confrontados com uma encruzilhada, na qual teremos de escolher entre salvar um novo companheiro para a party ou coletar combustível e itens.

Alguma destas escolhas irão necessariamente nos desviar do caminho, o que fará com que gastamos mais combustível, então a decisão será sobre priorizar o que é mais importante naquele momento, sendo que suas escolhas são definitivas e podem determinar o sucesso ou fracasso de sua empreitada.

Imagem do jogo Overland.
A tensão realmente foi grande.

A medida que vamos progredindo rumo ao destino final, as fases ficam cada vez mais complicadas e cheias de criaturas. Cabendo a nós transpô-las da melhor maneira possível, com o gerenciamento eficiente de recursos vivos e materiais, tomando as decisões certas nos momentos necessários.

A arte deste título realmente chama a atenção, sendo minimalista e bastante característica. Como citado anteriormente, os cenários se assemelham a pequenos dioramas, o que é um fator de destaque, lembrando jogos como Hitman GO. E para contribuir com este fator, há um modo foto com diversas funções – inclusive sendo útil até para visualizar detalhes do cenário. Em relação a trilha sonora, ela é praticamente inexistente, isso para criar uma atmosfera de tensão em meio a todo o caos. Somente nos momentos de transição de cenários há alguma interação do tipo, porém ainda assim, sutil.

O único problema que encontrei foram os carregamentos entre cenários perceptivelmente mais longos do que aparentemente deveriam ser – ao menos na versão de Switch. Nada que realmente vá estragar a experiência, porém às vezes incomoda, visto que jogos com mais elementos possuem transições mais brandas.

Imagem do jogo Overland.
Overland Hill.

Sem sombra de dúvidas Overland irá agradar aqueles que curtem o gênero de estratégia, especialmente a baseada por turnos. E também aqueles que apreciam uma ambientação pós-apocalíptica de devastação e jogos com decisões difíceis que realmente impactam no decorrer de sua jornada. Porém, apesar de parecer relativamente simples, isso fica apenas na impressão e se traduz como um título bastante desafiante – especialmente nas fases mais avançadas. A sua sobrevivência irá depender unicamente da sua capacidade de tomar decisões.