Skip to main content

Com a inundação de informação que é a internet, muita coisa acaba “submersa”. Assim, muitos indies – que por si só ficam muitas vezes abaixo do radar – passam totalmente despercebidos. Orangeblood poderia ser considerado um destes casos. A princípio, parecendo apenas um jogo genérico a la Pixel Game Maker MV, o jogo se mostra uma verdadeira viagem para os fãs de animes como Afro Samurai, Boondocks, Samurai Champloo e outros.

Com um visual colorido e futurista, Orangeblood apresenta muito charme e individualidade. Imediatamente invocando a estética hip-hop/Lofi atual, com uma pitada do universo clássico do Boombap rap, exalando originalidade. Dessa forma posso considerar Orangeblood como um RPG totalmente diferente de tudo que já joguei no gênero, e algo que não sabia que queria.

Abram as câmaras do dragão

O que falar deste joguinho que não esperava, mas dobrou toda e qualquer expectativa que eu possua e cumpriu todas? A história de Orangeblood segue a missão de Vanilla, uma gângster que está trabalhando junto com o governo americano para desvendar alguns eventos em New Koza, uma ilha artificial próxima a Okinawa, e lugar de criação de Vanilla. Logo que chega novamente, ela descobre que os Russos e outras gangues internacionais invadiram o local e tomaram conta de vários outros locais.

Imagem do review de Orangeblood
Imagens com auras ameaçadoras.

Após se reunir com uma antiga conhecida chamada Machiko, ambas tomam o clube Shangri-La. Logo após isso, começam a investigar as “ruínas” abandonadas da cidade, tomadas por máquinas assassinas. Além de se unir a outras duas garotas, chamadas Yazawa, uma espadachim da Yakuza e Jackie, uma garota americana versada nas artes marciais chinesas. Juntas, as quatro vão tomar o império do crime com seus punhos, além de revelar os segredos que permeiam o coração de New Koza.

Elas podem parecer apenas garotinhas fofas de anime, mas a equipe de Orangeblood fez questão de fazer a lição de casa para criá-las. Vanilla, a líder do grupo parece representar um membro das antigas gangues americanas Bloods/Crips, tanto no linguajar, quanto na maneira de agir. Machiko é a DJ do grupo, trazendo uma versão mais “clean” dos rappers “gangsta” americanos. Yazawa, como dito antes, é uma espadachim da Yakuza, trazendo uma Katana afiadíssima para as batalhas além de armas de fogo. Jackie é de longe a minha favorita, apresentada como uma das cabeças da Tríade Chinesa, a garota é versada no Kung-Fu chinês. Sendo assim, uma referência direta a fusão de filmes de Kung fu e outras mídias visuais no mundo da música.

C.R.E.A.M

Seguindo o gênero de RPG por turnos, Orangeblood retira toda a questão de espadas, escudos e poções e insere sua própria visão no gênero. Aqui os equipamentos se dividem entre armas, vestimenta e tênis. Sendo assim, começando pelo primeiro, as armas ditam como a personagem irá lutar, e caso esteja usando um rifle, por exemplo, ela irá dar um número x de tiros em um oponente. Pela mesma lógica, uma shotgun irá acertar um tiro em cada oponente da party rival, e uma sniper irá acertar um tiro poderoso em um inimigo.

Imagem do review de Orangeblood
Cash Rules Everything Around Me!

Cada arma possui um elemento, sendo ele trovão, fogo ou gelo, o que insere um sistema de fraquezas e resistência a inimigos. Além disso, cada arma possui um efeito único, alguns são sempre bons e outros possuem consequências. Os tênis, além de garantir status de velocidade, servem para proteção e chance de desviar de ataques, enquanto a vestimenta serve como a armadura do personagem.

A escolha é bem diferente do que se espera em um RPG. Afinal de contas, tênis é a ultima coisa que se espera trocar em um RPG, mas como Orangeblood gira em torno do movimento e do mundo da cultura “rap/gangster” americana, temos de levar em conta o fascínio que a mesma cultura possui com tênis e roupas de marcas caras.

Imagem do review de Orangeblood
Tantas vezes tenho de falar com as pessoas com a mão no gatilho.

Masta Killa

Cada uma das garotas possui uma habilidade relacionada à sua origem e inspiração. Vanilla possui a habilidade Deadeye, que permite que ela dispare à vontade sem distinção nos inimigos, causando grande dano elemental. Machiko pode usar seus beats sempre que os turnos acabam, aumentando os pontos de habilidade durante as batalhas ou curando os personagens, além de ser a healer possuindo o Ghetto Blaster, que pode ressuscitar e curar os aliados, ou enfraquecer os inimigos.

Yazawa pode utilizar a sua afiada Katana para desferir sua habilidade Schwing, que como os antigos samurai, desfere um poderoso corte em cada inimigo, assim causando um dano imenso. Jackie, por sua vez, prefere o combate limpo, e mesmo com uma arma prefere a luta corporal. Logo, sua habilidade 10 Step Kill lhe permite, após realizar uma esquiva de um ataque, desferir um contra-ataque mortal no inimigo, muitas vezes matando-o instantaneamente.

Tiger Style

No entanto, mesmo com esses pontos positivos e interessantes na maneira como o combate é realizado em Orangeblood, ainda existem vários problemas. Logo que começamos uma luta, é possível ver que não se pode utilizar os itens de cura e ressurreição do inventário. Por isso, mantenha Machiko sempre forte e com itens de defesa poderosos, pois caso ela morra, é bem provável que a batalha será perdida.

Acredito que este seja o maior problema que encontrei com jogo. Ele não apresenta bugs ou coisa do tipo, no entanto a repetição das batalhas e as “apostas” que as mesmas são pelo fato do risco de Machiko morrer rapidamente às vezes podem acabar afastando alguns jogadores.

Imagem do review de Orangeblood
Já dizia Cypress Hill: Low-Ri-Der.

Sangue na valeta

O maior charme de Orangeblod é sem dúvida alguma sua parte artística. A história, mesmo sendo interessante, ainda fica distante em relação à qualidade da arte do jogo. Na parte visual, é possível até mesmo sofrer um pouco de poluição visual vendo a quente e fervilhante vida da cidade pixelada. Como se tivessem misturado o visual da cultura porto-riquenha com o de mundos animados como Mutafukaz e Tekkonkinkreet.

A parte musical foi a minha favorita desde o começo, assim que a recebi gentilmente da equipe do jogo. A trilha sonora é composta por músicas como Fake Gs, Chrome in the pocket e Blood from a stone, entre outras. A forte influência do estilo boombap e do rap underground e mainstream da década de 90 é gritante e bem-vinda. Influências como MF DOOM, Wu-Tang Clan, Jeru The Damaja e Afu-Ra estão todas lá, no design dos beats, escolha de instrumentos e execução. Trilhas que se tornaram diárias no meu dia-a-dia na oficina enquanto trabalho no carros dos clientes.

Imagem do review de Orangeblood
Chumbo grosso, ossos quebrados e sangue na valeta.

Freakmode é a minha faixa favorita, sendo também, na minha opinião, uma das mais bem produzidas. Começando com um sample da frase The hands of fate have doomed this man, retirada diretamente de Manos: Hands of Fate, um clássico do horror trash, emulando a arte de samplear obras cinematográficas. Como o grupo Wu-Tang Clan fazia com filmes como Masta Killa, 5 Deadly Venoms, ou como MF DOOM fazia com trechos do antigo desenho do Quarteto Fantástico e filmes de monstros.

As trilhas buscam muito da origem do gênero musical, contando com beats “sujos” e pesados para situações tensas, com instrumentos mais funestos, beats que invocam um ar de mistério durante toda sua execução, como nas trilhas Deep Blood e Goon Squads. Mas também há trilhas mais descontraídas e animadas, como New Song of Shangri-La – 100% início do Wu Tang Clan – e Fake Gs.

Segue o flow em 4 barras.

Ouve a minha mixtape, irmão

Orangeblood é uma experiência de RPG bem original, trazendo um sopro de vida ao gênero, também mostrando que ainda faltam inúmeras ideias para se explorar no mundo dos games. Mesmo com gráficos simplistas e um sistema de progressão um tanto cansativo, o jogo se mostra bem divertido e humorado, sempre fazendo piadas com seu próprio universo e personagens. É uma experiência que indico fortemente, afinal é possível ver a dedicação que o projeto recebeu, trazendo muita originalidade e diversão para a mesa.

Review – Fallout: 1ª Temporada

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.15/04/2024
Harold Halibut

Review – Harold Halibut

Carlos AquinoCarlos Aquino15/04/2024