A Clouded Leopard Entertainment caprichou na divulgação de ONI: Road to be the Mightiest Oni, prometendo ser a união perfeita entre game e arte. Carregado de emoção e uma belíssima direção de arte, o trabalho da KENEI DESIGN, em parceria com a SHUEISHA GAMES, parecia superar todas as expectativas.
Construindo uma bela história repleta de sentimentos e momentos memoráveis, este lançamento de março acaba dividindo a opinião e entendimento sobre termos um jogo bom, divertido e bonito. Nem sempre conseguimos tudo, mas será que podemos ter um pouquinho de cada?
Co-op de um player só
Dessa vez não começarei pela história, pois o que realmente chamou minha atenção foram as escolhas para o gameplay e controles. Você controla Kuuta, um jovem e determinado demônio em busca de vingança, e que é acompanhado por Kazemaru, um fantasma.
Com o direcional esquerdo guiamos Kuuta pela ilha de Kisejima em busca de provações para torná-lo mais forte, entrando em missões de combates (quase num formato de boss rush) a cada “sombra de Oni” que você encontrar. Em cada uma das mais de 35 missões, divididas nas três áreas da ilha, você poderá atacar com sua clava, rolar para esquivar, usar até quatro ataques especiais, golpear a alma dos seus inimigos e, por fim, controlar Kazemaru.
Você utilizará o direcional direito, ao segurar o botão R superior, para mover o fantasminha e que servirá para remover o espírito dos inimigos, sejam os que você derrubar com sua imensa clava ou como ataque do próprio Kazemuaru, diretamente nos inimigos mais fracos. Dessa forma, uma orbe escura ficará visível para você golpear diretamente em suas almas, fazendo com que eles finalmente sejam derrotados.
Ou seja, não adianta apenas atacar com Kuuta na esperança de vencê-los, caso contrário eles recobrarão a consciência e voltarão ao combate, você também precisará utilizar Kazemaru durante os combates para extrair suas almas. Inimigos comuns vão de uma a três orbes, enquanto chefes possuirão mais de três. Essa mecânica está diretamente ligada à necessidade de coletarmos as almas dos inimigos para abastecer a estamina do seu amigo fantasminha, da mesma maneira como poderá utilizá-lo para recuperar seu HP ao melhor estilo Ori ou Hollow Knight.
Essa cooperação entre os protagonistas fica ainda mais interessante fora dos combates, pois Kuuta também precisará explorar a ilha em busca dos mais de 50 espíritos perdidos, que servirão para adicionar um coração ao seu HP (estilo Zelda). Com o Spirit Scanner de Kazemaru e sua habilidade em rastrear esses espíritos escondidos, revelando aonde eles estão, você deverá levá-los até uma estátua guia próximo ao Torii inicial.
Ao guiarmos os espíritos perdidos, o jogo oferece uma nova dinâmica: a ameaça de Kuron. Você será perseguido por um imenso espírito maligno, que investirá contra Kuuta e Kazemaru, até você chegar ao seu destino. Até lá o que você pode fazer é correr, se esconder e usar um estilo de esquiva para se jogar no momento em que Kuron atacar. Com a música crescendo de fundo, essas fugas e correrias geram momentos inesperados e desesperadores, mas por sorte você pode ter a chance de usar bonecas de pano (Decoy Dolls) encontradas em baú para serem consumidas a cada ataque sofrido antes de falhar.
Desdobrando uma lenda japonesa
A KENEI DESIGN escolheu trabalhar com um “What If” ao buscar na famosa lenda japonesa de Momotarō, que veio à Terra dentro de um pêssego gigante e foi encontrado por uma mulher idosa sem filhos. A mulher e seu marido descobriram a criança quando eles tentaram abrir o pêssego para comê-lo.
Na lenda, Momotarō também derrota todos os demônios da ilha de Onigashima, incluindo nosso protagonista Kuuta, que parte para Kisejima em busca de se tornar mais forte em uma jornada de vingança. Além dessa famosa lenda, acredito que os desenvolvedores também fizeram homenagem à Ryokan, grande mestre Zen da Era Edo, por conta da relação com “Sky Above, Great Wind”, tendo o “Céu” na tradução de “Kuuta” e “Vento” com “Kazemaru”, como sugerido pelos protagonistas, num conto do céu e do vento pela ilha.
O jogo brilha ainda mais ao apressentar a misteriosa Kanna e como a relação entre os três personagens cresce de maneira cativante. Tendo um ponto em comum, muito preenchido por costumes e lendas japonesas, vamos conhecendo mais do conflito sobre humanidade, espíritos e oni, com pequenos interlúdios ao completarmos certas quantidades de missões ou progresso.
Nessa hora ONI: Road to be the Mightiest Oni brilha ainda mais em sua arte. Se o estilo artístico já impressionava por ser meio Breath of the Wild, com um quê de elementos cell shading e repleto de cores e expressividade nos personagens e paisagens, as passagens entre Kuuta e Kanna são representadas visualmente por cenas que aparecem no horizonte, como painéis 2D flutuantes, em estilo de xilogravura japonesa. Coisa linda de ficar passando próximo apenas para ver os painéis se ajustando à câmera.
A trilha sonora, além dos momentos aflitivos contra Kuron, aparecem pontualmente para pontuar os temas mais sentimentais ou melancólicos, além de crescerem em combates mais tensos ou situações de tensão. Infelizmente os desenvolvedores pecaram em exagerar no uso das três músicas cantadas, que aparecem incessantemente e em looping infinito, causando um desgaste após a primeira hora de jogo.
O mesmo acontece para o barulho de movimentação de Kuuta, que pode ser diminuído nas configurações, mas acaba perturbando por tentar representar os passos pesados e rápidos do protagonista. Desnecessário sobrepor tantos sons, sendo que a trilha para os demais momentos são perfeitas para serem apreciadas ao longo do jogo.
Além da lenda
É inegável a qualidade visual deste jogo, mesmo chegando num preço um tanto quanto alto pela proposta, no entanto o jogo não foi bem executado (ao menos para a versão de PC que recebemos para testar). Com falta de variedade para os inimigos, apenas variando cores e tamanhos, além de algumas quedas de frame rate, principalmente na finalização dos combates, ou até mesmo fechando de repente e sem motivo aparente, os desenvolvedores não souberam otimizar esse jogo.
Ficou muito clara a tentativa de inovar ao trabalhar de maneira inventiva uma lenda clássica, as mudanças de câmera durante o combate com muitos inimigos, indo para uma visão aérea, a direção de arte que impacta e, mesmo sendo enjoativa, as músicas que nos acompanham.
Tudo foi muito bem pensado, talvez não executado da melhor maneira, para que ONI: Road to be the Mightiest Oni brilhasse pelo carisma de Kuuta, Kazemaru, Kanna e o hilário comerciante Zenisuke, além de entregar uma experiência mais enxuta e contida, em seu conteúdo.
De qualquer maneira é um jogo, mesmo que curto com suas 5h, que merece ser experienciado e vivido pela jornada que ele constrói e a maneira sentimental em que toca no tema sobre humanidade.