Diz o ditado que “onde há fumaça, há fogo” e, caros leitores, Mortal Kombat 1 é um verdadeiro incêndio dentro dos jogos de luta. É uma franquia que não apenas se revitalizou ao longo dos anos, como conseguiu se reinventar a tal ponto que a própria NetherRealm Studios pode exercer total criatividade sem cair em um oceano de estranheza ou acabar na mesmice.
A chegada do novo jogo não traz apenas uma revitalização em sua trama, com o reboot tentando abrir portas inéditas para seguirem adiante com o caminho que escolheram. Uma das principais propostas é mudar o jeito de se fazer as coisas, sem perder aquilo que construíram e o espírito de toda a coisa. E posso dar um spoiler? Eles conseguem.
Sendo honesto, eu estava bem temeroso com o que fariam – principalmente por ter acompanhado de perto o último reboot, que integrou MK9, X e 11 no mesmo fio. Porém, afirmo para vocês, isso não durou sequer alguns minutos, conforme eu explorava a experiência e via a dedicação e carinho que a equipe sente por estes personagens, por todo o lore e as mecânicas que fazem da franquia o que nós conhecemos.
A regência de Mortal Kombat 1
Óbvio que você quer saber, antes de mais nada, sobre as novidades que Mortal Kombat 1 traz e como isso afetará as lutas como nós a conhecemos. E, em termos de mecânicas, nada muda mais o cenário como os “Kameo Fighters”. Se você já jogou algum Marvel vs. Capcom em sua vida já sabe como isso funciona, mas a NetherRealm Studios nunca tinha aderido a função em seus títulos – apesar de testes já terem sido realizados em determinados momentos das “Torres do Tempo” de MK11, diga-se de passagem.
Você ganha um parceiro para te ajudar durante os combates, apertando o botão R1 ou RB em seu controle para vê-lo desferir um golpe de súbito. Estes personagens “secundários” também são vistos em movimentos como os agarrões e nas execuções “Fatal Blows”, auxiliando no dano e fazendo parte das animações. Considerando que cada lutador é único, essas combinações dão um tempero a mais nessa mistura e tornam as coisas ainda mais divertidas dentro da proposta.
Outro ponto interessante da presença deles in-game é que eles não servem apenas para bater e também podem apanhar. Cada vez que você conseguir acertar um deles durante o combate, seu carregamento é desativado temporariamente e o jogador terá de lutar sem a sua ajuda por alguns segundos. Além disso, eles também auxiliam quando o usuário está levando aquela porrada sinistra em uma sequência de combos e quebram isso como um “counter” apelão, de forma totalmente automática.
Um exemplo disso são alguns deles e suas habilidades únicas. Dependendo da direção que você apertar nos direcionais, ele pode exercer a função de ataque, defesa, movimentos aéreos e o próprio agarrão. O Scorpion, como um dos ataques por exemplo, cospe fogo para cima e ajuda a combater aqueles engraçadinhos que vivem pulando pelos confrontos. Já Sub-Zero, como defesa, cria uma armadura de gelo para o jogador.
Além disso, o elenco de Mortal Kombat 1 também merece um certo destaque. De novidade, só temos Ashrah – uma demônio que pretende se purificar extirpando todo o mal que existe. Para os mais curiosos, é uma verdadeira máquina assassina, que ataca com velocidade e seus combos fazem jus aos demais membros do roster. O retorno de Reiko, Tanya, Nitara e até Havik também são significativos, trazendo toda a era de MK4, 5, Deadly Alliance e Deception de volta.
Li Mei, que antes só aparecia como coadjuvante e easter-egg em alguns títulos também se torna jogável, o que traz uma diversidade ainda maior para a trama. Sua relação com a Família Real – Sindel, Kitana e Mileena – também é vastamente explorada e traz ainda mais informações interessantes sobre a lutadora. Sareena, que apareceu pela primeira vez em Mythologies: Sub-Zero e se tornou jogável apenas em MK Tournament Edition – de Game Boy Advance – também retorna, mas agora como uma Kameo Fighter.
Se você estava acostumado com os lutadores que apareceram nos games anteriores, estes podem representar uma mudança até brusca, mas apresentam novas possibilidades para quem deseja dominar o estilo do game. Algumas delas são sutis, enquanto outras não tão esperadas assim e podem impactar diretamente nos fãs de alguns personagens “klássicos”. No entanto, acredite quando eu digo que estas alterações são extremamente positivas e se encaixam perfeitamente no equilíbrio que a NetherRealm Studios quis atingir, além de serem partes essenciais da história.
Porém, não vá pensar que eles se esqueceram dos antigos e existem mecânicas inéditas até para alguns deles. Johnny Cage, por exemplo, tem uma barra exclusiva no formato de estrela que vai se enchendo conforme provoca os oponentes. Ao enchê-la, você poderá quebrar mais facilmente os especiais dos adversários, causar um dano maior com seus combos e executar os movimentos EX sem gastar as barras durante 10 segundos. Ou seja, enquanto ela estiver cheia e você quiser aproveitar para descer os murros e chutes com dano extra, está liberado.
Tenha modos
Como uma das maiores novidades, Mortal Kombat 1 também traz o Modo Invasões – uma mistura de jogo de luta com board game. Nele você seguirá com o seu personagem favorito por um grande tabuleiro, sendo levado pelos principais cenários da franquia a diversos oponentes que estão invadindo a nossa realidade. Ali você ganhará níveis, colecionáveis e também abrirá as carteiras para as moedas existentes.
Considerando que a história pode ser encerrada em cerca de seis horas, este é o lugar onde passará a maior parte de seu tempo e terá uma narrativa diferente para acompanhar. Em termos técnicos, este modo se assemelha ao “Multiverso” de Injustice 2. São dezenas de lutadores com modificadores, quais você enfrenta para conseguir itens exclusivos durante um determinado período – sendo chamado de “temporada”.
Vou ser bem honesto e te dizer que esta nova inclusão foi um dos recursos mais divertidos que tivemos na franquia nestes últimos anos. Lá tem lutas, desafios de “Test your Might!”, torres diferentes e com modificadores, “sobrevivência” e diversas outras tarefas que desafiarão até os mais tenazes dentro do game. Particularmente falando, joguei todos os demais e zerei a história sem perder um único round – mas acabei suando frio em algumas batalhas dentro de Invasões.
No entanto, esta é a única novidade que Mortal Kombat 1 entrega dentro da experiência. O modo Kripta foi covardemente assassinado, não retornando para o título e deixando uma legião inteira de jogadores “viúvos” de sua presença. É neste ponto que você se pergunta e me questiona: “ué, mas como eu obtenho skins, movimentos de Fatality e Brutality, além das artes e colecionáveis?”. Há algumas opções e não são tão agradáveis assim para o público.
Uma delas é avançando nas Invasões. Conforme sobe de nível com seu personagem, você receberá itens selecionados do próprio. Esta é uma forma de obter as coisas para o seu lutador favorito. A outra é pegando todas as moedas que acumula dentro da experiência e gastando na loja – abrindo as portas para as microtransações de uma vez por todas, já que você também pode comprá-las via Loja Xbox e PlayStation Store.
Sendo muito honesto, dá para conseguir tudo o que deseja in-game. Nem é tão difícil atingir as quantias necessárias para comprar aquela skin ou arma que te chamam a atenção. No entanto, você poderá pular tudo isso e comprar direto as coisas – sem a menor necessidade de avançar muito em qualquer modo ou de ficar “grindando” o valor. Isso pode tirar o grande fator de replay que ele carrega, então não abuse tanto.
Desbloqueando Mortal Kombat 1
Apesar das microtransações serem chatas, Mortal Kombat 1 volta a trazer os itens e personagens bloqueados. Estes só podem ser liberados por quem realmente explorar tudo o que há para oferecer e trazer aos fãs mais antigos aquele prazer de ligar o mesmo jogo todo dia para jogar algumas partidas. Havik, por exemplo, só é obtido ao finalizar o Modo História. Kameo Fighters como Scorpion, Sub-Zero e outros precisará liberar através do aumento de nível de jogador.
O potencial para expandirem ainda mais este cenário é gigantesco, vale notar. Eu vi, durante o Modo História, alguns Kameo Fighters que não estavam nem aparecendo no menu e que também não constam no “Kombat Pack”, qual já foi anunciado. Isso me deixou com uma pulga atrás da orelha, afinal de contas, todos os dados sobre eles já estão dentro da experiência. O que falta para isso vir até nós é o que me deixa curioso.
E falando em desbloquear, os fãs mais antigos verão diversas memórias ressurgindo conforme avançam por toda a aventura. Seja no formato de músicas reimaginadas, cenários que foram criados novamente do zero e trazem o espírito do que conhecíamos, mas entregam algo completamente distinto – como é o caso da Floresta Viva. Skins também marcam os diversos trajes e gerações que vivemos com estes personagens.
O apelo de Mortal Kombat 1 é gigantesco em criar um novo ecossistema, seja para os fãs de sua história ou para aqueles que planejam se divertir nas partidas contra amigos ou no multiplayer online. Eles não abandonam quem chegou em MK11 ou no último reboot, dando um jeito de pegar todos pelas mãos para levar à uma nova forma de se aventurar pelo Plano Terreno ou pela Exoterra.
O Modo História chama bastante a atenção nisso, reinventando alguns conceitos básicos enquanto mantém o seu espírito. O próprio torneio entre as duas realidades é um exemplo disto, retornando neste novo capítulo e prolongando as tradições. Vermos finalmente Sindel como a rainha e Kitana & Mileena vivendo em harmonia. Raiden encontrando o equilíbrio e humildade em sua vida. Johnny Cage aprendendo com seus erros [?]. Vilões, como Shang Tsung e até o “General Shao” se prestando a papeis completamente distintos na narrativa.
E se isso já chama a sua curiosidade, eu devo te afirmar que as próprias lutas que existem por lá também foram produzidas para impactar o público de várias formas possíveis. Não adianta ir de mente fechada, mas aqueles mais conservadores e que cresceram nos fliperamas também não terão do que reclamar. É real, caros leitores, a NetherRealm Studios acertou em cheio neste novo capítulo.
Uma experiência cheia de nuances
Graficamente, Mortal Kombat 1 não te desapontará. Seus personagens e cenários nunca foram tão realistas e, principalmente, não caem no vale da esquisitice. Acredito que a única coisa que achei “bizarra” foram os olhares de Liu Kang, quais não parecem sequer fazer parte do rosto do personagem. De resto, estão impressionante e mostra que estão cada vez mais próximos de atingir o ápice visual.
Já em mecânicas e modos, como afirmei anteriormente, a ausência da Kripta será sentida. Invasões é divertido, mas também está lento que dói e creio que uma atualização de “Day One” consiga resolver as coisas. Além disso, eles até incluem um monumento chamado “Santuário”, qual já prevejo que levará alguns jogadores ao ranço. Você deposita 1.000 moedas lá e ele te manda um kolecionável aleatório. Fim de papo. Se você costumava caçar caixas de tesouro, cada uma com valores distintos e que despertavam sua curiosidade, é o que tem para hoje.
Trilha-sonora, construção de narrativa e até mesmo as personalizações foram aprimoradas, revelando que ainda tinham muito a desenvolver dos modelos que vieram trabalhando anteriormente. Tornaram as coisas mais simples, mas há ressalvas. Apesar de eu ter gostado da facilidade de trocar skins e armas de agora, eles mal mostram se há novidades para determinados lutadores ou não.
Vamos ser honestos, há diversos itens que você ganha no Modo História e nas Invasões. Às vezes você nem faz ideia do buraco de Mortal Kombat 1 que eles foram parar. Aquele bracelete era de quem mesmo? A máscara que eu ganhei, era do Reptile, Smoke, Sub-Zero ou do Scorpion? Tem um esquema novo de cores, mas para qual lutador? O jogo não te informa e nem te sinaliza, deixando que você fique caçando até encontrar.
Ainda assim, um ponto me chamou bastante a atenção que foi o potencial para se expandir ainda mais daqui em diante. Sei sobre o “Kombat Pack”, mas digo sobre as Temporadas do Invasões e também as possibilidades que se abrem com o fim da história. Não darei spoilers, mas há uma sequência que deixa os fãs sonharem e elevam o fanservice ao máximo. É perceptível que estão brincando com alguma ideia que tiveram, mas ela deixará o público aguardando para ver até onde ela nos levará.
No fim, Mortal Kombat 1 é uma grandiosa experiência e um capítulo essencial para qualquer fã ou para aqueles que apenas estão acompanhando a saga. Dito isso, afirmo aqui que é “delicioso” viver neste ano que tivemos um novo capítulo da NetherRealm Studios e Street Fighter 6, da Capcom. Seja um apaixonado por jogos de luta ou não, pule diretamente nestes que o sucesso e diversão serão garantidos.