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Criar um jogo ostensivamente online é uma faca de dois gumes: por um lado você está livre da necessidade de se criar uma inteligência artificial para oponentes e existe um potencial para seu jogo virar um febre. Por outro lado, existe a possibilidade de ninguém curtir seu jogo, ninguém jogar e os servidores ficarem abandonados e destruir a diversão até mesmo para aqueles poucos masoquistas que aprovaram o jogo e querem disputar com outros.

Menos de um mês depois de seu lançamento, a Codemasters prova o gosto amargo da segunda opção com Micro Machines World Series, completamente abandonado pela comunidade no PC. Não sei como está o clima nas outras plataformas em que ele foi lançado, mas a verdade no Steam é que o título é um grande deserto online e eu consegui ir do ranking 1 a 6 disputando partidas onde não encontrei viva alma. Longas e tediosas partidas contra uma AI que não tem qualquer traço de criatividade.

A franquia Micro Machines tem uma longa tradição de bons títulos no passado, lotados de conteúdo, com campanhas para um jogador, toneladas de carros para escolher, diversas armas e pistas. Infelizmente, a impressão que se passa aqui é de um desenvolvimento apressado, uma tentativa atrasada de se capitalizar de qualquer jeito em cima de uma euforia multijogador, que não se realiza. Ou talvez tenha sido somente excesso de confiança: “faça o jogo e os jogadores virão”. Só que não vieram.

Micro Machines World Series
Defendendo a base

Cadê os pilotos de Micro Machines World Series?

Para começar, ao contrário de qualquer outro título multijogador que eu já tenha experimentado no Steam, incluindo MMOs, esse aqui não reconhece que você está online a menos que você se autentique na sua lista de amigos da plataforma. Não é que eu seja antissocial (talvez seja), mas é que geralmente eu deixo no modo offline, para não ser interrompido com conversações em  momentos impróprios ou recebendo notificações o tempo todo. É uma opção que o Steam te dá, mas Micro Machines World Series não entende: se você não está visível para sua lista de amigos, então não pode jogar o modo multijogador e o motivo me escapa completamente.

Até existe um modo offline de jogo, onde você trava batalhas de arena contra os carrinhos controlados pelo computador, mas isso não vale pontos de evolução obviamente e enjoa bem rápido. É evidente que a Codemasters colocou toda sua munição no modo online.

Micro Machines World Series
“Pega que ele tá com a bomba!”

Uma vez conectado, existem três modos de jogo liberados: Arena, Corrida e Batalha. O primeiro lembra muito um destes modernos FPS de arena, como Overwatch ou Team Fortress, cada veículo com diferentes habilidades, onde a colaboração do time é importante e você executa missões de tomada de ponto, captura de bandeira e transporte de bomba. Só que com carros. Tem todos os elementos para funcionar e ser divertido, exceto que você nunca escolhe a pista ou o desafio e não tem ninguém jogando.

Já o segundo modo é o que você espera de um jogo de corrida com power-ups. Exceto que você nunca escolhe a pista, os carros são muito parecidos em seus atributos (se não forem iguais), os poderes são escassos e pouco interessantes e não tem ninguém jogando.

O terceiro modo também é individual e lembra muito uma corrida, exceto que cada oponente atingido por um ataque ou jogado para fora da pista está fora da corrida e vence quem ficar por último. É uma fórmula que deu muito certo em outros jogos, exceto que aqui… bem, você já sabe.

Micro Machines World Series
Dá até para sentir o cheirinho desse café com leite…

Como agravante, mesmo sem jogadores, o sistema leva você para uma fila de espera que pode demorar até dois minutos procurando uma partida… até montar uma disputa onde todos os outros 11 carros são controlados pelo computador. Depois de uma sessão que demora no máximo três minutos, você é apresentado a tabelas de progresso, que demoram mais uns trinta segundos para sumir, até ser sumariamente devolvido ao menu principal e recomeçar tudo de novo. Não há um modo contínuo em que você salta de partida em partida. Ou seja, para cada três minutos que você efetivamente joga alguma coisa, você passa dois contemplando o vazio e suas escolhas de vida. Todas. As. Vezes.

Os controles são infernais, com uma física que até remete à leveza dos carros mas prejudica a jogabilidade.  Apesar de todo meu desgaste, prossegui até atingir o nível 5, que libera partidas ranqueadas. Imaginei que, se houvesse algum jogador dedicado a Micro Machines World Series, ele estaria nesse nível de competição. Novamente, em diferentes horários, disputei corridas e batalhas ranqueadas completamente sozinho até atingir o nível 6, quando também joguei a toalha.

Micro Machines World Series
De volta à infância!

Não que tenha faltado esmero por parte da desenvolvedora: os cenários são ricamente trabalhados e a vontade que dá é parar a corrida e ficar olhando para esse surreal mundo miniatura. Quem nunca organizou corridas assim pela casa quando era criança, misturando tanque de guerra, carro de corrida e ambulância? A nostalgia é um fator a se levar em conta aqui, principalmente com a associação entre a desenvolvedora e a Hasbro, gigante da indústria dos brinquedos, que traz para o mundo virtual veículos dos GI Joe, armas de Nerf e outras surpresas que fizeram a alegria de muita gente que hoje é marmanjo para comprar jogos. Mesmo assim, embora os cenários sejam deslumbrantes, os gráficos pecam por qualidade, até com várias configurações maximizadas.

O resultado é um jogo frustrante em vários sentidos, que não deixa lembranças e mostra que investir 100% em online pode ser uma aposta errada.

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