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Lucidity pode ser descrito como um lobo em pele de cordeiro. Inicialmente sua aparência o ludibriará, fazendo-o pensar estar embarcando em uma aventura simples, mas divertida, permeada por uma atmosfera criada com base no imaginário infantil. Entretanto, rapidamente você percebe que a jornada é cansativa e frustrante, e seu clima é enjoativo, criado por pessoas que nada entendem do imagético infanto-juvenil.

Colocado de maneira simples, Lucidity é uma pequena alegoria sobre a aceitação de Sofi com a partida de sua avó. No início de cada fase podemos ver uma página do caderno da garota, no qual diz o quanto gostava de sua vó e, ao final, encontramos um cartão postal no qual a senhora reassegura sua neta, dizendo que ela deve ser forte e que tudo dará certo. No começo isso é interessante e singelo. Porém, rapidamente torna-se meloso, mostrando frases extremamente piegas e batidas.

Uma vez decepcionado com a atmosfera do título, chega a hora de se frustrar com sua jogabilidade. Basicamente, Lucidity é um puzzle, no qual você deve guiar Sofi até o fim de estágios que correm lateralmente. Você não tem nenhum controle sobre a garota; ela caminhará automaticamente, sempre na mesma velocidade. Cabe ao jogador apenas colocar objetos em seu caminho, como uma escada, um sapato com molas, ou um ventilador que impulsiona a garota para cima, de forma a garantir que ela não caia em precipícios, espinhos, ou seja atacada por inimigos.

Lucidity

Existem também vários vagalumes espalhados pelas fases, que oferecem duas funções. A primeira delas é abrir fases bônus, a cada cem deles coletados. A segunda, mas não menos importante, serve para recuperar a vida de Sofi; ela irá morrer caso sofra danos duas vezes seguidas, mas isso será evitado se um vagalume for pego antes da garota receber o segundo ataque. Em teoria tudo é bastante simples e deveria funcionar sem complicações, mas não é bem assim na prática.

Um dos problemas está no fato de que os itens são aleatórios. Isso até faz com que você tenha que sempre estar atento, sendo necessário ser rápido para usar de maneira criativa aquilo que lhe foi dado. Mas, como tudo que você pode fazer é guardar um dos objetos e não simplesmente descartá-los, isso cria momentos em que é necessário empilhar uma série deles até que um em específico apareça. Isso acontece com frequência quando Sofi fica presa atrás de uma parede e a única coisa que pode tirá-la de lá é uma bomba. Enquanto no começo é apenas algo chato, a partir do segundo ato torna-se um pesadelo, pois a beira da fase é engolida por uma escuridão que matará você instantaneamente caso o alcance. E, sempre que você morre, é necessário recomeçar a fase inteira, não importa em qual ponto você estivesse, algo bastante frustrante.

E você irá morrer, várias e várias vezes. Em parte porque algumas das fases são bastante desafiadoras, mas em parte porque os controles imprecisos da versão de XBLA também ajudarão nisso. Correr com os objetos e colocá-los no lugar desejado não é sempre fácil com a alavanca. Falta agilidade e precisão, o que leva constantemente a mortes prematuras. O problema é maior pelo fato de nunca ser muito claro quando Sofi irá passar por algum lugar ou quando irá cair. Houve vários momentos em que jurava que a garota poderia caminhar com segurança, apenas para vê-la despencar rapidamente, tornando necessário refazer toda a fase.

Lucidity

Tudo bem que os estágios, assim como o próprio jogo, são bastante curtos. Mesmo morrendo muito devido a grande dificuldade do último ato, demorei cerca de quatro horas para chegar ao fim de Lucidity. Acontece que, uma vez terminado, a sensação era mais de alívio por nunca mais ter que passar por esses níveis de novo, do que de conquista. O jogo até incentiva o replay, pedindo que você recolha todos os vagalumes das fases. No entanto, devido a aleatoriedade dos itens, conseguir chegar a um caminho específico no qual existem vagalumes que ainda não foram pegos requer mais sorte do que habilidade.

Há também um estranho contraste entre os detalhes da apresentação de Lucidity e do seu design. Trata-se de um jogo bastante bonito, com gráficos que parecem ilustrações retiradas diretamente de livros infantis, e uma trilha sonora que merece destaque à parte. No entanto, o design das fases são terríveis. Os mais caóticos em especial parecem ter sido feitos por amadores usando um editor de fases gratuito qualquer. Eles não são intuitivos e são bastante feios de se olhar.

O pior de tudo é que, mesmo nos poucos momentos em que tudo funciona como deve, Lucity é simplesmente tedioso. O jogo, mesmo breve, é frustrante e cansativo, além de apresentar uma atmosfera melosa que enjoará rapidamente.