King of Seas chega com uma proposta muito sedutora: e se um ARPG (RPG de ação) como Diablo consistisse de navios piratas? A essa ideia eu digo “sim, por favor”, já que tivemos alguns títulos divertidos nesse universo mas nenhum que adaptasse diretamente a fórmula ARPG aos altos mares – pelo menos no meu conhecimento.
O maior desafio enfrentado pelo jogo da italiana 3D Clouds é deixar o processo de navegar os altos mares emocionante, atacando e roubando outros navios para conseguir o tão almejado ouro e recursos valiosos para troca nas cidades. A meu ver, no entanto, os resultados aqui atingidos são um tanto mistos.
Io-ho, io-ho, uma vida de pirata pra mim!
A começar pela história, que coloca o jogador no controle de um dos dois herdeiros do trono que, depois do Rei ser morto com o uso de magia negra, é acusado do assassinato e tem seu navio afundado, levando à sua “morte” – o(a) herdeiro(a), contudo, secretamente sobrevive e continua sua vida como um pirata nas margens do sistema. Agora, resta a ele(a) descobrir quem matou seu pai e restaurar seu status real.
Pelo menos nas primeiras horas de King of Seas, a história simplíssima infelizmente não convence, com pouquíssimo recheio para sustentar a série de fetch quests (principais e secundárias) que o jogador terá que completar até ficar forte o suficiente para invadir a fortaleza do Rei, local que possui defesas de alto nível. Ao longo da trama, o jogador vai fazendo novos contatos piratas para ajudá-lo com sua missão.
O maior dos problemas de King of Seas, no entanto, está na monotonia recorrente da exploração, que consiste em velejar por longas distâncias para concluir tais quests, algo que se torna um pouco chato depois de um tempo principalmente pela falta de um sistema de fast travel. A interface de usuário também não colabora, com letras muito pequenas (algo inconveniente para quem não joga com a cara colada em um monitor).
O combate em alto mar, por sua vez, consiste do arroz com feijão que se espera de um ARPG, possuindo ataques comuns, mapeados para os dois gatilhos (esquerda e direita do navio), e outros especiais que são mapeados para os botões do controle. É tudo bem simples, então não espere maravilhas. Também não sinto que enfrentar os diferentes tipos de navios traga grandes diferenças nas estratégias.
Temos três medidores de saúde em King of Seas: das velas, do casco e da equipe. A saúde das velas determina quão ágil seu navio será, a saúde do casco é sua tradicional barra de vida e a saúde da equipe determina o tempo de “resfriamento” das habilidades e dos ataques padrão. É bom ter uma boa reserva de kits de reparo se quiser sobreviver às águas – mas atenção, só se pode usá-los parado e fora de combate!
Para aumentar ainda mais as chances de sobrevivência (e salvar o progresso), também existem os portos, onde temos um carpinteiro, um mercado, um banco, uma taverna e um governador. É especialmente importante passar pelas tavernas, onde além de missões secundárias, temos também candidatos à sua tripulação, podendo preenchê-la a um baixo custo e assim recuperando a saúde da equipe.
Há cinco tipos de navio em King of Seas: os compactos e ágeis Sloops, os equilibrados Flutes, os intermediários Brigs, os potentes Frigates e os enormes Galleons. Cada um possui uma capacidade de carga, uma velocidade e, mais importante ainda, um número de canhões diferentes, algo que pode ditar seu sucesso ou fracasso em batalha. São os típicos navios que esperaríamos de um jogo de piratas.
Saqueando em alto mar
Para fortalecer o navio que comanda, o jogador terá acesso a loot de sobra, mas infelizmente os equipamentos coletados parecem pouco consequentes além dos números. Não sinto diretamente tanta diferença assim ao trocar meus canhões ou equipe, só algumas mudanças cosméticas e no status do navio. Não chega a ser algo tão pedestre assim. Só não é nada marcante.
Essa loot geralmente será coletada ao completar missões principais e secundárias, as quais são praticamente intercambiáveis no ponto em que cheguei. Afunde um navio aqui, entregue uma carga ali, tudo acaba caindo numa mesmice que torna tais missões de King of Seas bastante repetitivas e óbvias. A não ser por tempestades e alguns navios caçadores (ou mesmo fantasmas), o processo de deslocamento para as missões tb é pouco climático.
Para quem gosta de fazer a grind por diferentes níveis e lentamente ir juntando seu ouro para comprar um novo navio, King of Seas será a famosa “comida de conforto”, ocupando o tempo do jogador mas nunca desafiando a fórmula de alguma maneira que seja marcante ou particularmente inventiva. Vai cumprir seu papel na perspectiva do fã de ARPG, mas só isso.
Aqueles que avançarem bastante no jogo, atingindo a level cap de 60, terão ainda motivos para retornar ao game na forma das Recompensas Lendárias, que consistem de alvos de nível altíssimo para caçar nos altos mares. A quantidade de ouro presenteada ao jogador é gigante, mas fico pensando no que ele o usaria depois de ter completado tudo do jogo.
Existem em King of Seas cinco níveis de dificuldade diferentes, dos quais dois permitem manter seu inventário após a morte, outros dois nos quais se perde o navio e ainda demandam que o jogador volte ao local da morte para recuperar o equipamento, e mais um em que ocorre a morte permanente do jogador, ou seja, afundou, acabou. Quanto maior a dificuldade, maior o nível de recompensa.
É praticamente impossível falar deste game sem lembrar de Assassin’s Creed IV: Black Flag, talvez porque o jogo da Ubisoft havia consolidado a fórmula de exploração marítima praticamente com perfeição. King of Seas até segue essa cartilha bem, mas realmente sinto que faltou mais inventividade própria.
King of Seas merece mérito pela tentativa, mas não sinto que haverão cantos em alto mar sobre esse aqui. É nada mais, nada menos que um jogo competente, feito com um claro esforço, mas incapaz de se destacar a não ser pela escassez de títulos com a mesma proposta no mercado.