Todos se lembram daquele fatídico dia do ano de 2005. Foi durante a E3 em que, quase que surgindo do nada, nos foi mostrado um vídeo de Killzone 2. Ninguém esperava muito, já que o primeiro título da franquia não havia sido grande coisa. Em parte por isso, o pequeno trailer nos pegou completamente desprevenidos. Era fantástico. Gráficos como nunca vimos antes, uma cena de batalha que parecia grande demais para nossos simples sentidos conseguirem captar em toda sua integridade. Talvez essa não fosse a intenção de seus produtores, mas era tarde. Uma grande expectativa a Killzone 2 foi criada naquele instante, e se tratava de uma que não seria fácil de corresponder. De lá para cá foram pouco mais de quatro anos, e a espera finalmente terminou. No fim das contas, pouco importa se o título correspondeu a tudo que era esperado. O que importa é se o que temos em mãos é bom devido às suas qualidades, pura e simplesmente. Mas também não deixa de apresentar falhas.
Killzone 2 é um excelente shooter em primeira-pessoa (FPS). Ele executa perfeitamente tudo que se propõe a fazer. As armas são variadas e interessantes; usá-las é satisfatório e divertido, não importa com qual esteja em mãos. Os cenários são bem variados, nos mostrando uma série de localidades do planeta. Todos têm um fator em comum: não importa onde você esteja, perceberá a sujeira, destruição e desolação, mostrando o quão nada belo a guerra é. A ação do jogo é contínua e frenética do começo ao fim. Existem raros momentos para descanso, na maior parte do tempo você estará no meio de um campo de batalha, lutando ao lado de seus companheiros. Aliás, é neste ponto que entra uma das maiores qualidades do título: a capacidade de imergir o jogador completamente no combate.
Há momentos que parecem ser verdadeiras guerras. Você verá inúmeros soldados da ISA (a força da qual você faz parte) e inúmeros Helghasts travando combate. O incrível é como você, ao mesmo tempo, se sente como mais um no meio de tantos e, ainda assim, sente que tem habilidade suficiente para influenciar no resultado final da batalha. O jogo também mostra que aprendeu algumas coisas com a concorrência, e nos põe à disposição um sistema de cobertura. Este é muito interessante por que, diferente da maioria dos outros jogos que o utiliza, ele não se faz necessário. É possível atravessar a campanha solo como qualquer outro FPS, apenas usando quinas e se safando dos tiros inimigos. Entretanto, caso prefira, você pode usar (quase) qualquer elemento do cenário para se esconder, dependendo da sua tática. Ou seja, trata-se de uma adição muito interessante, mas que, ao mesmo tempo, não limita a maneira como Killzone 2 deve ser jogado.
Isso sem falar nos detalhes dos ambientes. Os efeitos de luz, sombra e fumaça se mesclam ao cenário de maneira homogênea. Eles não parecem, em nenhum momento, como algo artificial apenas colocado ali para fazer o jogo parecer mais bonito. Pelo contrário, muitas vezes contribuem para aumentar a atmosfera de sujeira e precariedade do local no qual você está. Em alguns momentos é possível ver pequenas faixas de luz descendo por janelas, atravessando prateleiras e refletindo no corpo da arma que estamos carregando. O áudio também não decepciona. Você pode não estar a todo o momento no meio do campo de batalha, mas não é possível esquecer nem por um segundo que ela continua existindo em algum lugar, já que quase nunca paramos de ouvir os tiros, gritos e explosões vindas de longe. Isto tudo, como eu já havia dito, contribui imensamente para criar um dos mais belos efeitos de imersão já vistos em um videogame. A última fase do jogo entrará, para mim, como um dos momentos mais incríveis que já tive o prazer de presenciar. Nunca antes me senti tão integrado como naquele momento específico, lutando verdadeiramente ao lado dos outros membros da ISA.
Mas então, se o jogo apresenta tantos elementos positivos, por que a ressalva do início? Bem, acontece que, no meio de todas essas maravilhas, alguns tropeções são cometidos. Por exemplo, a ação ininterrupta. Quando disse isso, quero o dizer literalmente. O jogo abre com você no meio de um combate, dentro de uma batalha da qual você ainda nem teve tempo de assimilar direito. É tudo rápido demais para que você consiga se preocupar com o que está fazendo. Parece um pouco forçado na verdade, como se o jogo quisesse te provar algo. Ironicamente, o efeito é o contrário. O começo da aventura não impressiona, é mais uma tarefa de “atirar naqueles dos olhos vermelhos” do que qualquer outra coisa. Apenas depois de algumas horas que você se adapta ao ritmo do que está acontecendo, e começa a conseguir se integrar com aquele ambiente. E só então que o jogo começa e te mostrar suas verdadeiras qualidades.
No entanto, devido a este ritmo acelerado, o desenvolvimento da história e dos personagens se mostra extremamente precário. Com exceção de Sev, protagonista do game, todos os outros são completos estereótipos. Até que é possível simpatizar um pouco com alguns deles, mas nenhum chega a ser memorável. Para acompanhar estes personagens planos, é claro que não poderiam faltar diálogos ruins. Killzone 2 entra de maneira forte no páreo da piores falas escritas na história dos videogames. Elas não são apenas ruins, são tão fora de contexto e absurdas que chegam a causar desconforto – juro que cheguei a sentir vergonha alheia ao ouvir algumas delas. Até mesmo a última fase, que eu elogiei tanto, não apresenta consistência. Logo em seguida ao momento que citei acima, chegamos ao suposto clímax do jogo ao enfrentarmos o último chefe. Esta batalha é, na melhor das hipóteses, medíocre. O contraste fica ainda mais forte quando lembramos o que acabamos de fazer para chegarmos a essa parte.
O problema do ritmo também aparece no modo multiplayer, mas de maneira diferente da aventura solo. No começo você tem à sua disposição apenas duas armas e a classe normal de soldado, sem nenhuma habilidade especial. É necessário jogar cerca de quatro a cinco horas para que você possa abrir outras armas. Uma progressão boa, que leva o jogador de maneira gradual a opções mais complexas, é interessante. Porém, jogar repetidas partidas com apenas duas metralhadores diferentes (as mais básicas do jogo) é apenas chato. São necessárias, mais ou menos, cinco a sete horas para que as partidas comecem a se conformar da maneira que ficarão em definitivo. É só a partir deste momento que o multiplayer começa a mostrar toda sua glória.
Não há dúvida de que Killzone 2 é excelente. É competente e bem executado. Porém existe uma série de fatores que o impedem de ser ainda maior. Algumas de suas camadas alcançam um nível nunca antes visto, entretanto algumas outras estão abaixo do que se esperava de um título deste calibre; cheguei a encontrar alguns bugs na primeira vez que o terminei, em que foi necessário recomeçar do último checkpoint para poder seguir em frente. Não é um jogo revolucionário, mas os elementos mais importantes do gênero estão presentes de forma competente e são executados com maestria.