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Nos últimos dias, tenho lido o livro A Arte de se Criar Mangá, escrito pelo próprio Hirohiko Araki, criador do anime mais “hétero” de todos os tempos, Jojo’s Bizarre Adventure. No livro, Araki disseca o que acredita ser a chave para se criar o mangá perfeito, de acordo com ele. Kill la Kill talvez seja um anime perfeito, um que surpreendentemente consegue superar todas as expectativas, lançado originalmente em 2014 pelo Studio Trigger e acompanhado religiosamente por mim e alguns amigos. Agora, em 2019, assistimos uma vez mais o anime enquanto esperávamos por Kill la Kill – IF.

Kill la Kill é um anime tão interessante e com um plot tão convidativo que mesmo o pessoal que vem só pelo fanservice acaba ficando pela história. Dirigida por Hiroyuki Imaishi e escrita por Kazuki Nakashima, a história de vingança e superação de Ryuko Matoi é explosiva, cheia de adrenalina e muito alívio cômico, não de maneira forçada ou fora de lugar. Tudo acaba sendo muito natural e as personagens não parecem mal inseridas em nenhum momento, mesmo em seus exageros.

Não perca seu caminho!

A história de Kill la Kill, o anime, é a de Ryuko Matoi em busca da pessoa que matou seu pai, o Dr. Isshin Matoi, utilizando a metade de uma tesoura gigante. Para isso, ela se dirige à Academia Honnouji, onde se encontra com Satsuki Kyuirin, a líder da academia. Ryuko sofre uma derrota humilhante pela mão dos subordinados de Satsuki, que utilizam os Uniformes Goku, divididos em três classes: os de uma estrela, os de duas estrelas e os de três estrelas. Costurados com as chamadas Fibras da Vida, os uniformes garantem força, status social e até mesmo determinam a condição de vida dos alunos.

Imagem do review de Kill la KIll The Game IF
Kill la Kill possui uma das melhores OST de todas. Blumenkranz é um exemplo e todas estão no jogo.

Os Uniformes Goku são capazes de conceder força e energia sobre humanas para seus usuários, mesmo os com apenas uma estrela. Os uniformes de duas estrelas são distribuídos para os líderes dos clubes escolares da Academia Honnouji, dando ainda mais poderes e até mesmo armas para seus usuários. Os de três estrelas, por fim, são apenas quatro e podem se transformar em formas mais poderosas, entregues aos membros do conselho estudantil, sendo eles Ima Gamagori, Nonon Jakuzure, Hōka Inumuta e Uzu Sanageyama. Acima deles, estão os Kamuis, Senketsu e Junketsu, que pertencem a Ryuku e Satsuki respectivamente.

Kill la Kill – IF muda o rumo da história do anime e nos apresenta como seu enredo seria Kill la Kill se visto pelos olhos de Satsuki.

O modo história do jogo é relativamente curto, contando com apenas dez episódios contando a nova história de Satsuki. Após terminarmos os dez capítulos de Satsuki, é possível jogar com Ryuko, o que permite descobrir o que acontece nos momentos em que Satsuki se encontra desacordada. Para aqueles que conhecem o anime, o jogo já começa durante o evento do REI DA MONTANHA: ELEIÇÃO NATURAL, onde Ryuko deve enfrentar os quatro membros do conselho estudantil. Como no anime, após derrotar os quatro, a luta entre Ryuko e Satsuki é interrompida.

Imagem do review de Kill la KIll The Game IF
Se marcar bobeira já era.

Após Nui Harime, a grande costureira, avisar Satsuki que sua mãe espera bons resultados da incursão as escolas japonesas, o jogo pula direto para após as incursões, e depois faz mais um pulo perto do final. Ou seja, muita coisa do material original é cortada nesta história, como os membros do NUDIST BEACH!, o caçador de Fibras da Vida Tsumugu Kinagase e todos os criativos usuários de uniformes duas estrelas, como Jack Naito, presidente do clube estudantil de arremesso de faca ou Omiko Hakodate, presidente do clube de Tênis com sua raquete gigante.

Como esperado da Arc System Works,  há combates explosivos e da mais alta qualidade, afinal estamos falando da empresa responsável por Guilty Gear e BlazBlue. Kill la Kill – IF é o primeiro jogo da equipe no gênero 3d Fighting Arena, mas já posso adiantar que fez melhor do que muitos games de luta de anime que podemos encontrar no mercado. Os personagens possuem um botão para ataques básicos, um para habilidades e um para quebra de defesa, sendo que há também um botão para a defesa. Utilizando o botão L/L1 mais um dos botões de ataque também é possível realizar um especial.

O botão B/X serve para se realizar um salto, e ao apertar duas vezes é possível se mover rapidamente em direção ao oponente. Mesclando esse movimento com o botão de quebra de defesa, é possível dar início a um combo devastador contra seu oponente, e os jogadores mais hábeis podem combinar ataques, habilidades e ataques de quebra para criar combos de 20 a 30 hits. Outro fator interessante é que, ao segurar a defesa e utilizar os direcionais, os personagens utilizam dashes, se movendo para laterais, para trás ou para a frente, o que permite que o jogador se esquive de ataques a curta ou longa distância.

Imgem do review de Kill la Kill
Uma pena essa cena não ser jogável e aparecer apenas como flashback.

Algo interessante é a Batalha de Valor, que como no anime é muito gritante com seus anúncios, sempre em vermelho sangue, e este modo não é diferente. Ao apertar L+R, o jogador deve escolher entre três opções, sendo essas: provocar, humilhar ou xingar. Nesse pedra, papel e tesoura de insultos, o jogador deve ganhar três vezes, aumentando assim seu dano, barra de SP e vida. Uma vez que tenha três estrelas e uma barra completa de especial, o jogador pode realizar um SEN’I SOSHITSU, movimento utilizado por Ryuko no anime onde ela destrói o uniforme de seu oponente e Sanketsu absorve a fibra da vida, ficando mais forte. Aqui, todos os personagens possuem sua própria versão do golpe.

O jogo apresenta, além do modo história, um modo de batalhas livres, onde os jogadores poderão escolher um dos oito personagens disponíveis – dez se contarmos as variações de Satsuki e Ryuko. São eles: Satsuki, Ryuko, Gamagori, Nonon, Sanageyama, Inumuta, Ragyo e Nui. No jogo ainda podemos ver a forma absoluta de Ryuko, utilizando Senketsu após absorver inúmeras Fibras da Vida, e uma nova forma de Satsuki, algo que muitos gostariam de ver no material original.

Além disso, há o modo de batalha local e batalhas multiplayer. No modo multiplayer, podemos jogar batalhas casuais ou ranqueadas em busca do controle absoluto da Academia Honnouji. Ainda há o modo de treino, onde podemos jogar o tutorial novamente, treinar livremente com os personagens, enfrentar o modo survival em busca de recordes ou enfrentar o Desafio COVERS. No anime, COVERS é o nome dado aos ternos que absorvem humanos e se alimentam deles, fortalecendo a Fibra da Vida Primordial. É praticamente um modo Musou, onde lutamos contra diversos inimigos ao mesmo tempo, escolhendo regras como 1 contra 100 ou total de inimigos dentro de um tempo limite.

Eu perdi corte italiano meu parceiro!

Visuais de matar

Na questão gráfica, o jogo é ímpar, trazendo uma representação exata dos personagens, trazendo as cores corretas dos uniformes e injetando a própria visão da empresa com as ARC Original Schemes. As cutscenes, por sua vez estão incrivelmente bem feitas e capturaram perfeitamente o estilo de animação do Studio Trigger. Aqui elas são chamadas de animes e podem ser acessadas na galeria, que também traz um glossário sobre o universo do jogo, uma criação de dioramas e teste de trilha sonora.

O maior problema aqui é a falta de diversidade. Como dito anteriormente, o elenco de personagens é curto demais e não há variação dos uniformes. Satsuki e Ryuko possuem as Kamuis durante toda a série, mas existem os alunos de duas estrelas que deveriam ter sido introduzidos juntos dos membros da NUDIST BEACH. Outro fator é a falta dos outros uniformes três estrelas, Algema Regalia de Gamagori, Lamina Regalia de Sanageyama, Lente Regalia de Inumuta e Sinfonia regalia de Nunun. Esses uniformes possuem três formas distintas durante o anime, e teria sido interessante vê-las no jogo.

A trilha sonora está perfeita, trazendo os temas e músicas originais da série animada. Pessoalmente, eu achei interessante a opção de se poder escutar as músicas pelo player do jogo, mas infelizmente não é possível fazer o mesmo enquanto o console está desligado – algo que podia ser feito no 3DS com Super Smash, por exemplo. Mas está tudo aqui e mais um pouco, e poder lutar ouvindo os temas de Sanageyama e ouvir Don’t Loose Your Way é de arrepiar os cabelos.

Hora de ver quem tem mais valor entre Sanageyama e Gamagori.

Kill la Kill – IF é um jogo incrivelmente bem feito e uma carta de amor aos fãs da série, mesmo possuindo falhas grandes na questão de conteúdo. Apesar de ter gostado da história e do final, ainda assim ela é bem fraca em relação ao material original, e a falta de personagens interessantes da série e trajes marcantes também é um golpe a desfavor do jogo. Foram anunciados o Dotonbori Robo da NUDIST BEACH e Mako Mankanshoku utilizando seu uniforme de presidente do clube de luta como DLCs gratuitos, mas ainda falta muito para que o jogo faça totalmente jus à série animada.

No fim das contas, Kill la Kill – IF é um jogo de nicho, sendo mais voltado para os fãs do anime, mas com um gameplay muito coeso e bem balanceado. Eu, como grande fã da série, acabaria inevitavelmente comprando, mas recomendo a quem queira imergir neste universo de roupas falantes e uniformes super poderosos pela primeira vez que assista primeiro à série, que está disponível no Netflix. Caso ame a série e queira muito ver uma nova versão da história, Kill la Kill – IF estará te esperando.