Tenho poucas certezas nessa vida, mas duas delas são a morte e o lançamento de uma nova versão de Just Dance todo ano. E essa última me alegra mais do que a primeira. Então bora falar de Just Dance 2019 e saber se este jogo tem folego pra mais 10 anos de vida.
A primeira versão de Just Dance foi lançada em 2009, exclusivo para Nintendo Wii. A sua aceitação no mercado foi grande já que o game se encaixava perfeitamente na proposta inovadora do popular console da Nintendo, criando uma experiência acessível, divertida e eclética. Não é a toa que a série se tornou um fenômeno mundial, com milhares de pessoas de vários países criando conteúdo adoidado nas redes e participando da Just Dance World Cup todo ano, que aliás já está promovendo uma Tour em algumas salas do Cinemark espalhadas pelo Brasil.
Dança que lá vem a história
Just Dance consolidou o gênero de dança nos consoles assim como Guitar Hero virou referência em jogos musicais. Antes dele, jogos de dança se resumiam a estilos rítmicos que usavam inputs rápidos porém de natureza simples que mais testavam o tempo de resposta da coordenação motora dos jogadores do que capacidade de dança em si. Mesmo que ainda utilizando o sistema rudimentar dos controles do Nintendo Wii, Just Dance fez com que os jogadores dançassem de fato.
Mesmo com uma década nas costas, a franquia ainda se mantém fiel aos princípios fundamentais que a tornaram esse tremendo sucesso. Seu visual psicodélico, personagens carismáticos, coreografias cativantes e acessíveis. Tudo está ali, intacto. Mas será isso suficiente depois de tantos anos de carreira?
Vamos dançar!
Just Dance 2019 tem a missão de te fazer dançar sem muita enrolação. Talvez este seja um dos jogos com a etapa de onboarding e tutoriais mais otimizada que joguei esse ano. Existem sim telas transacionais de tutorial, mas elas são apresentadas de forma gradual e isso funciona muito bem. Ao final da terceira música você já terá entendido na prática a maior parte dos sistemas e mecânicas do jogo.
Basicamente você tem duas maneiras de jogar: usando um celular ou as câmeras e controles de movimento do console da sua escolha. Caso você opte ou precise usar o celular será preciso antes instalar um aplicativo e sincronizá-lo com o jogo no console. Obviamente, a maneira mais confortável e precisa de jogar Just Dance é com uma câmera tipo o Kinect, já que ficar balançando um celular grande na mão é desconfortável e nem um pouco seguro para o aparelho que pode voar pra parede dependendo da empolgação de quem dança.
Nesta nova versão do jogo o modo Kids volta pela segunda vez, apresentando músicas temáticas e apropriadas para crianças, além de um sistema de feedback e punição mais brando. Sinceramente, eu não explorei muito este modo, mas imagino que ele deva funcionar para crianças realmente pequenas, talvez até uns 5 ou 6 anos no máximo, já que crianças maiores irão preferir as músicas dos ídolos pop apresentadas no modo clássico.
Além disso, o game consegue criar um sistema de recompensas engajador para manter o jogador em frente a tela dançando. A cada música dançada você ganha uma quantidade de moedas chamada Mojo, a qual você pode usar para abrir loot boxes e concorrer a chance de ganhar itens cosméticos. O jogo também mantém o clássico sistema de desabilitar mais músicas conforme jogamos, sendo que no final temos 52 coreografias ao nosso dispor incluindo versões de alternativas para algumas músicas.
O modo online continua igual, incentivando a competitividade de forma simples, mas efetiva. Basta entrar no modo World Dance Floor e começar a dançar na lista de músicas online. A interface irá te mostrar quantos jogadores estão dançando online ao redor do mundo e também, durante a dança, você saberá em que posição se encontra no ranking geral dos dançarinos. As animações e efeitos de feedback tanto do modo offline quanto online foram executados na medida certa, empolgando e incentivando os dançarinos a continuar suando. E por falar em suor, o jogo também possui um modo “Suor” que, quando habilitado, permite um controle de calorias gastas por tempo dançado.
Muito estilo e bateção de cabelo
Eu sou uma POC que gosta de dança. Adoro programas como So You Think You Can Dance e passo mais tempo do que deveria assistindo vídeos de coreografias no Youtube. Já inclusive dancei Hip-hop e Dança contemporânea por alguns anos. Então estou acostumado em ver performances extraordinárias, coreografias bafônicas e dançarinos maravilindos pisando muito na cara das invejosas. Dito isto, Just Dance ainda é pra mim a coisa mais legal que existe no mercado da dança como entretenimento. Desde a curadoria de músicas, styling das roupas, estilo gráfico e elenco eclético e inclusivo, tudo funciona bem em Just Dance 2019. Ando com muita preguiça dessa mania dos jogos hoje em dia se levarem muito a sério, e fico feliz em ver jogos como Just Dance sem medo de parecerem ridículos ou exagerados.
As coreografias apresentadas nesta edição seguem a tradição da marca, trazendo passos e danças mais pop, como Dancehall e Hip-Hop, mas também navegando por temas como Jazz e Funk Americano, criando uma variedade interessante e abrangendo vários gostos, o que é importante para um party game. É bem comum a gente encontrar músicas que não fazem o nosso gosto, mas que nos ganham por conta da coreografia apresentada, e isso também é um mérito do jogo.
Podendo ser jogado em até 6 jogadores simultaneamente, o nível de dificuldade varia de acordo com as músicas, mas mesmo nas músicas mais fáceis a coreografia e passos apresentados ainda são legais e culminam em um vídeo compilado bem engraçado, que pode ser compartilhado nas redes ao final de cada música.
Pisando no pé
Nem só de hinos vive Beyoncé, não é mesmo? E não vai ser Just Dance 2019 que irá passar ileso dos flops. No total o jogo apresenta 52 músicas, o que é um número bom para quem nunca teve um jogo da série ou está defasado há alguns anos. Contudo, fica difícil criar argumentos fortes para indicar a versão 2019 para quem possui a 2018, 2017 ou até mesmo 2016, para meros mortais que ligam este jogo apenas em festas pontuais pros amigos bêbados dançarem durante o ano. E eu digo isso porque a forma como interage com o jogo não mudou muito em todos esses anos, pelo menos não tecnologicamente falando. Então tanto faz se você está jogando a versão 2016 ou 2019, porque na hora da dança você estará se divertindo exatamente da mesma maneira, com exceção das músicas talvez um pouco desatualizadas.
Além disso, é um pouco desconfortável a parede de pagamento que é constantemente apresentada ao jogador, com muitas músicas pagas sendo esfregadas na nossa cara com a intenção de nos fazer assinar o serviço Just Dance Unlimited, que oferece um arsenal de mais de 400 músicas por planos de assinatura. Oras, se o jogo já tem um serviço embutido, por que não tornar o próprio jogo em um serviço em si? Pra que cobrar um valor mensal, trimestral ou anual separado pelo direito de jogar músicas de versões anteriores do jogo, mesmo que eu já tivesse adquirido esses jogos? Soa até um pouco desonesto.
Fechem as cortinas
Just Dance ainda é a série de jogos de dança mais legal do quarteirão. A versão 2019 traz todas as características que consagraram a série como uma das franquias mais bem sucedidas da história dos videogames e implementa sistemas de recompensa inteligentes para manter seus dançarinos engajados por mais tempo. Contudo, eu sinto que a qualquer momento irá aparecer um novo jogo aprimorando essa experiência e tornando Just Dance obsoleto, já que sua fórmula não muda há tantos anos.
Somando isso ao inconveniente sistema de plano de assinatura, Just Dance 2019 pode estar sinalizando que uma mudança significativa no plano de negócios da Ubisoft para a franquia seja a melhor solução para que ela se mantenha no topo da cadeia alimentar.