Não importa se você tem seis ou sessenta anos, é menino ou menina, uma coisa une todos nós: a paixão por robôs gigantes. A única coisa que pode ameaçar a hegemonia de robôs gigantes em nossos corações são monstros gigantes. Os criadores de FTL conseguiram unir as duas forças para um embate mortal que deixará ondulações no tecido do espaço-tempo por eras. Ou pelo menos pelo tempo que você jogar Into the Breach.
Sim, é um clichê muito antigo colocar máquinas de combate do tamanho de prédios contra “kaijus”, mas os desenvolvedores desse jogo não apenas não tem receio de apelar para aquele nosso fascínio interior pelo tema como também guardam algumas surpresas em seu universo e envolvem tudo em uma jogabilidade sólida e viciante.
No Limite do Amanhã
Ao contrário do que se pode esperar de uma história básica como essa, Into the Breach começa com o fim da Humanidade. Os monstros gigantes venceram. Colossais insetos chamados de Vek emergiram das entranhas do planeta, os mares se levantaram, nossa civilização foi reduzida a ruínas e todos os esforços resultaram em fracassos. Mas um intrépido esquadrão de pilotos de robôs gigantes foi incumbido de uma missão que não pode falhar: retornar ao passado, cancelar o Apocalipse e salvar pelo menos uma linha temporal da tragédia.
Embora o enredo não seja exatamente o foco do jogo, a Subset Games consegue embutir o conceito em sua atmosfera e até mesmo em sua mecânica. De um lado, temos a pressão constante que o extermínio está logo ali no horizonte: há o desespero daqueles que moram nas cidades atacadas, há a esperança que aparece quando os robôs desembarcam no solo, há uma contagem de baixas civis com cada prédio destruído.
Do outro lado, vemos uma elegante solução para a tela de fim de jogo e o problema do “permadeath”: o jogador não fracassa em definitivo. Você salta no tempo para tentar novamente (e é óbvio que você irá tentar novamente), com a possibilidade de salvar pelo menos um de seus pilotos e todas suas evoluções, para liderar uma nova equipe em outra linha temporal.
Dará certo da próxima vez ou a Humanidade estará novamente condenada, enquanto você tenta e tenta, pulando entre universos? Com ameaças, desafios e recompensas randomizados, a resposta dependerá apenas do que o próprio jogador aprender e de sua capacidade de entender as táticas do combate e usá-las a seu favor.
Nem mesmo a vitória final e a erradicação dos Veks significa uma conclusão e Into the Breach te convida para novamente escolher um piloto para liderar um novo esquadrão em outra linha temporal e repetir essa batalha infinita. Uma batalha infinita entre robôs gigantes e monstros gigantes, até o final dos tempos.
Círculo de Fogo
No momento em que os Mechs pousam no solo com estrondo e o povo saúda sua chegada, você já sabe o que te espera: uma luta de proporções épicas. Mesmo com gráficos retrô e um mapa que cabe inteiro na tela, Into the Breach tem as proporções de uma aventura maior que a vida. A trilha sonora injeta a dose certa de adrenalina na hora em que a diferença entre ganhar e perder se torna mínima, para logo em seguida subir triunfante ou se tornar melancólica e te lembrar que a extinção da raça humana depende de você, basta uma sucessão de decisões erradas.
Para vencer em Into the Breach é necessário posicionar seus robôs nos locais corretos e executar os ataques certos em um combate por turnos que exige muito raciocínio e escolhas difíceis. Destruir aquele Vek perigoso ou salvar aquele prédio? Interceptar um tiro e se arriscar a perder um Mech ou permitir que o inimigo destrua uma peça importante de tecnologia enviada através das barreiras do tempo? Em cada turno é executado um balé de peças similar ao xadrez. Um xadrez com robôs gigantes e monstros gigantes, onde é possível desferir um murro devastador na cara de um besouro de 10.000 toneladas ou ver com horror centenas de pessoas sendo levadas à morte porque um trem bateu em um louva-deus nascido no Inferno.
Suas decisões, para o bem ou para o mal, são carregadas ao longo da campanha. Ao todo, o título apresenta quatro ilhas que precisam ser protegidas da ameaça Vek, cada um com suas características peculiares. Ao longo da sua travessia, o jogador acumula uma grade de energia necessária para operar os Mechs. Alguns locais salvos ampliam essa grade de energia. Cada prédio destruído pelo inimigo reduz essa grade de energia e, se ela chegar a zero, é hora de abandonar essa linha temporal e tentar novamente. Ou seja, embora pareça se tratar de uma luta para destruir os Veks, a grande verdade de Into the Breach é que se trata de um jogo de salvar a Civilização.
No início, você irá perder e perder, até se acostumar com essa dança. E, assim, a Subset Games mais uma vez combina a temática com a mecânica do título.
Gerenciar os recursos fora do campo de batalha, escolhendo missões, administrando pilotos e evoluções dos robôs são tão importantes para a vitória quanto as batalhas em si. Com tantas variáveis a se considerar simultaneamente, a possibilidade de desbloquear esquadrões com habilidades completamente diferentes e missões randômicas, Into the Breach compensa a curta duração de sua campanha (que pode ser fechada em duas horas) com uma infinitude de universos paralelos a serem salvos.
Por que uma pessoa nunca pode se cansar de robôs gigantes enfrentando monstros gigantes.