Eu vou começar esta análise dizendo que não tenho apego nenhum por games experimentais, tampouco tenho ligação emocional com histórias e personagens – para mim, The Last of Us é mais do que uma boa simulação de atirar tijolos, mas é menos do que convencionou-se chamar de “um dos melhores jogos da história”. Halo? Parei de prestar atenção nos diálogos no segundo game. Minha escola é de ação e reação, e de mecânicas no mínimo decentes.
Dito isso, posso não ser o mais indicado para falar de InnerSpace (que não tem nada a ver com o filme de 1987, lançado no Brasil com o título Viagem Insólita), mas confesso que a proposta até me agradou de início: um game de exploração espacial mais sossegado, feito para o jogador dar uma relaxada mesmo. O jogo foi desenvolvido pelo estreante estúdio PolyKnight, após uma campanha de relativo sucesso iniciada em 2014 no Kickstarter – eventualmente, os caras conseguiram que o game fosse publicado pela Aspyr Media.
Que bug foi esse?
Tecnicamente, InnerSpace não impressiona nem um pouco. O estilo artístico dele, com formas minimalistas e cores saturadas, até que é bem acertado e agrada aos olhos. Mas o game não consegue manter uma taxa de quadros aceitável – não temos as ferramentas para medir isso com a precisão de um Digital Foundry, mas as quedas acontecem com frequência suficiente para que o jogador não se sinta imerso neste mundo. O fov (field of view ou campo de visão) também parece muito alto (e sem opção de mudar), fazendo com que cada movimento brusco do seu aeroplano dê a sensação de que você está vendo tudo por um olho de peixe.
Vale lembrar que joguei InnerSpace em um Xbox One X, então a sensação é de que a engine do jogo é realmente mal otimizada. InnerSpace também saiu para Steam (compatível com OSX e Linux, além de Windows), PS4 e Switch, caso alguém ainda tenha interesse. Os problemas técnicos aparecem toda hora. Existem falhas também na detecção de colisão do seu aviãozinho com o cenário – ele simplesmente atravessa certas estruturas. Tudo bem que é um jogo relaxante, mas não é uma característica que se espera de um game atual.
O jogo não tem música na maior parte do tempo, o que, pelo menos na minha experiência, foi positivo, já que eu poderia ter colocado a trilha que eu quisesse pelo Spotify. Como a proposta de InnerSpace é ser um jogo mais relaxante do que frenético, o fato de quase não ter música é positivo sim.
Um jogo ou uma experiência?
Agora, depois de tanto falatório técnico, vamos falar sobre o maior problema de InnerSpace, que, infelizmente, pelo menos para mim, é o de que ele não é um game, e nem uma experiência.
A história (chatíssima, cheia de balões de diálogo) é contada por NPCs (personagens não jogáveis) espalhados pelo mundo. O mundo não é todo aberto, e você precisa “atravessar” certos portais para continuar explorando. E o que você procura? Bem… nada de mais. Você comanda um piloto sem nome, que, como a proposta do game indica, é um explorador que busca saber mais sobre esse mundo estranho.
O mundo é estranho e, de certa forma, criativo, já que é rodeado por água e formado por “bolhas” (e dentro dessas bolhas que você encontra coisas em geral, incluindo outros personagens ou colecionáveis). Mas nada me prendeu nesse jogo. Os gráficos são ok, mas repetitivos demais. Os controles não comprometem, mas tudo acontece muito lentamente. Eu cansei de ficar indo para lá e para cá vendo o que os NPCs queriam que eu visse. Nada me surpreendeu, e a falta de um objetivo de verdade me incomodou bastante.
É por isso que eu digo: a indústria precisa de jogos experimentais e eles são bem vindos. Eles podem mostrar os talentos dos desenvolvedores (InnerSpace certamente tem um design minimalista criativo, apesar da paleta de cores bizarra às vezes), mas, na maioria das vezes, eu só queria um jogo, e InnerSpace não me pareceu ser um.