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Se você nasceu nos anos 80 ou 90, provavelmente tem os filmes clássicos de Indiana Jones cravados na memória. Dirigidos por Steven Spielberg, Os Caçadores da Arca Perdida (1981), O Templo da Perdição (1984) e A Última Cruzada (1989) fizeram muito sucesso nas telonas e também nas telinhas, sendo reprisados exaustivamente na tv. Devo ter assistido dezenas de vezes cada um. Porém não dá pra ignorar que a franquia é uma obra do seu tempo, difícil de funcionar atualmente. Me impressiona terem insistido nas catastróficas continuações O Reino da Caveira de Cristal (2008) e A Relíquia do Destino (2023), com Harrison Ford já bem velho.

Obviamente a franquia virou jogos, começando no Atari e alternando entre gêneros até 2011, quando teve sua última aventura produzida pela Zynga para o Facebook, mirando o público infantil. Exceto por Indiana Jones and the Fate of Atlantis (1992), um point and click de PC, e os jogos 3D da franquia LEGO (lançados entre 2008 e 2009), nenhum game prestou. Indiana Jones e o Grande Círculo veio para mudar tudo e resolver o problema do tempo, trazendo nosso querido Dr. Jones em seu ápice e para um novo público – além de atender a nostalgia fervorosa dos fãs.

Indiana Jones And The Great Circle

Um jogo com a qualidade dos filmes clássicos

Quando Uncharted fez sua estreia no PS3, foi difícil não pensar no Nathan Drake como um substituto do Indiana Jones. O game tem tudo o que os filmes do Indy apresentam: mistérios, escaladas, cenários exóticos, exploração em tumbas, muito humor e ação beirando o impossível. Demorou demais para alguém pegar esta joia bruta e lapidar. Só em 2021 que a MachineGames assumiu a tarefa com o suporte da Bethesda, para desta vez fazer um jogo com perspectiva em primeira pessoa assim como os outros excelentes FPS da desenvolvedora, como Wolfenstein II: The New Colossus. É o primeiro game do Indiana Jones neste gênero, portanto a expectativa estava em um misto de hype e medo de bomba.

Acredite se quiser, Indiana Jones and the Great Circle deu muito certo como FPS. Até porque todas as cutscenes do game ocorrem em terceira pessoa, contextualizando tudo o que acontece ao redor do protagonista e demais personagens. O gameplay funciona naturalmente na exploração vertical e no balançar do chicote, sem qualquer estranheza ou dificuldade. E toda a essência dos filmes clássicos está presente aqui, incluindo a surrada roupa de arqueólogo explorador e seu inseparável chapéu.

Indiana Jones And The Great Circle

A aventura começa com uma reprodução fiel do filme Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, com a icônica cena da armadilha do ídolo de ouro, com uma bola gigante de pedra rolando em sua direção. Uma breve homenagem para dar o pontapé nesta inédita história, que começa com Dr. Jones acordando de um sonho na Universidade de Marshall (em Connecticut, nos EUA) e investigando uma invasão durante uma tempestade. Uma estatueta da Múmia de Gato foi roubada por um homem gigante e Indy quer descobrir o motivo.

Diversidade na exploração e mistérios

Indiana Jones and the Great Circle possui 7 capítulos, passando também pela Cidade do Vaticano (Itália), Gizé (Egito), Himalaias, Xangai (China), Sucotai (Tailândia) e Iraque. Três destes capítulos apresentam um imenso mapa que funciona como hub para conectar com missões paralelas, viagens rápidas, upgrades e mais. Todos estes cenários são belíssimos, muito bem construídos e cheios de segredos pra encontrar. Aos poucos o jogador vai liberando áreas do mapa, destrancando portas ou acessando de outras formas para achar recompensas e documentos importantes, que aprofundam a história principal.

Indiana Jones And The Great Circle

Os mapas e anotações no diário de Indy são muito bem detalhados, ficando difícil de se perder nas direções, objetivos e soluções dos quebra-cabeças. O game ainda permite usar armas de fogo, embora a furtividade seja sempre o melhor caminho. Neste aspecto, o jogo oferece níveis de dificuldade que refletem no sistema de alerta dos inimigos e no quanto de porrada que você aguenta tomar. Ou tiros, principalmente quando os soldados nazistas entram na jogada. O game ainda dá uma segunda chance ao cair, voltando à ação ao pegar o chapéu de volta.

O gameplay permite brigar com os próprios punhos (com defesa, esquiva e contra-ataque), usar diversos objetos para realizar um “takedown”, usar um isqueiro para iluminar locais escuros, e assim por diante. Nada inovador no gênero, claro, mas tudo funciona bem. Os atalhos no D-Pad são bem distribuídos e há muitas opções, como comer pães para recuperar armadura. Mas nem tudo é perfeito: aconteceu várias vezes de sumir um objeto que estava comigo ou próximo, principalmente após uma cutscene na mesma área. É evidente também a falta de polimento na detecção de superfícies durante as animações ao pegar um objeto ou carregar um soldado desacordado quando há uma parede, mesa, caixa e outras coisas próximas, atravessando tudo como se não fossem sólidos. Algumas transições de animação ocorrem de forma truncada, tanto pro Indy quanto pros NPCs, como a companheira Gina. Ela é cheia dos truques, saindo de um lugar e aparecendo em outro do nada.

Indiana Jones And The Great Circle

Voss, um vilão de respeito

O jogo apresenta várias personagens memoráveis em suas 20 horas de campanha (mais de 30 se desejar completar todas as missões paralelas). Padre Antonio, Gina, Locus, Nawal, Pailin e outros são muito interessantes e com ótimas linhas de diálogo, sempre mantendo o jogador intrigado com tudo. Mas nada, absolutamente nada, chega aos pés do vilão Emmerich Voss, um arqueólogo nazista manipulador e mestre das artimanhas. Toda vez que ele aparece ele rouba a cena, tamanha a qualidade do roteiro e da performance / dublagem do ator Marios Gavrilis. E olha que temos o famoso Troy Baker no papel do protagonista, heim! A dublagem PT-BR também não deixa nada a desejar, exceto por algumas falhas de entonação e dublagem inferior para as personagens secundárias, como Annika.

Quanto aos quebra-cabeças, há uma boa variedade e alguns deles são obrigatórios para avançar na história, o que pode frustrar os jogadores menos atentos. Travei forte em dois, mas foi só conferir as anotações no diário e prestar mais atenção para enfim solucioná-los. Já os mistérios secundários envolvem quebra-cabeças bem mais complicados, sendo que desisti de alguns só para não me estressar. Pra quem curte desafios cerebrais, vai passar um bom tempo visitando estas áreas através da navegação livre entre os capítulos já concluídos.

Indiana Jones And The Great Circle

Graficamente, o game é muito bonito, especialmente na ambientação. Pena que no PC o Path Tracing tenha sido mal integrado, derrubando demais a performance. Mesmo com as atualizações do jogo, minha RTX 4070 Super sofreu pra entregar mais de 40 FPS com o Path Tracing no Médio, em 2K, no Ultra e com DLSS ligado no modo Qualidade. Preferi desligar o Path Tracing e curtir a jogatina estável, rodando acima dos 100 FPS a maior parte do tempo. Outra crítica fica pras animações em segundo plano, ocorrendo sempre em baixíssima taxa de frames. Destoa muito da qualidade geral.

Confesso não ter botado fé no início, mas Indiana Jones and the Great Circle é um jogaço! Fui surpreendido com uma deliciosa aventura, que deixa o jogador livre a maior parte do tempo pra tomar suas próprias decisões, usando disfarces, criando distrações e assim por diante. O jogo dá margem para erros, não sendo complexo e punitivo como um Hitman da vida, assim garantindo a diversão. A história é sem dúvida sua melhor qualidade e, inclusive, daria um filme incrível. Ter Harrison Ford imortalizado digitalmente neste jogo abre caminho para continuações focadas exclusivamente nos videogames. E que assim seja, sem mais insistências no cinema.

88 %


Prós:

🔺 Excelente história, com personagens memoráveis
🔺 Quebra-cabeças muito criativos, alguns deles bem desafiadores
🔺 Missões secundárias em grande quantidade
🔺 Trilha-sonora impecável

Contras:

🔻 Dublagem PT-BR com altos e baixos
🔻 Problemas de performance no PC
🔻 Falhas gráficas e de animação

Ficha Técnica:

Lançamento: 09/12/2024
Desenvolvedora: MachineGames
Distribuidora: Bethesda Softworks
Plataformas: PC, Xbox Series, PS5 (em 2025)
Testado no: PC