Em The Legend of Zelda: Breath of the Wild, acompanhamos um Link sem memórias, tentando se restabelecer em uma região que foi tomada pelas forças de Ganon por cem anos. Adormecido por todo esse tempo, o herói tem toda a sua jornada anterior contada via flashbacks. Em Hyrule Warriors: Age of Calamity, finalmente podemos jogá-la e ver com nossos próprios olhos como era o passado glorioso antes da grande guerra entre o bem e o mal ser perdida.
Servindo mais do que apenas uma prequel, o novo título exclusivo do Nintendo Switch serve para dar continuidade ao universo criado pelo Jogo do Ano de 2017. Ao mesmo tempo que ele traz de volta elementos clássicos, ele subverte tudo que conhecemos da franquia e consegue inovar, trazendo uma profundidade maior ao gênero musou e à uma série de jogos que estará completando 35 anos em 2021.
Guerra em Hyrule
Hyrule Warriors: Age of Calamity é o The Legend of Zelda que você conhece, mas seguindo a mesma linha do primeiro HW, lançado originalmente no Nintendo Wii U. Uma tonelada de inimigos na tela, você tem uma arma na mão e um poder de destruição que varrerá todo o exército inimigo como grãos de areia. São vários os personagens que você poderá escolher e, dessa forma, montará uma estratégia que se aplique melhor ao cenário apresentado.
Entre eles, obviamente estão Link, Zelda, Mipha, Revali, Daruk, Urbosa que contam com uma lista de movimentos ainda mais rica do que vimos no título original. Além dos heróis, temos a possibilidade de controlar e ver todo o poder de Impa em seu máximo potencial. Uma representante hábil dos Sheikah, ela é uma ninja completa e cheia de artimanhas. Também há a possibilidade de obter mais membros para a sua equipe, dependendo das side quests que for realizando.
E falem o que for do gênero parecer repetitivo, que vão desde apertar os botões do combo, inimigos voando para todo o lado até as batalhas contra os chefões. Aqui o sistema implementado é tão prazeroso que isso não me incomodou nem por um mísero instante. Você pode alternar golpes, armas, personagens no meio da ação, combos e usar as habilidades especiais para destruir tudo em seu caminho de uma forma maravilhosa.
Existem tantas variações que chega a espantar o cuidado que a equipe da Koei Tecmo teve com Hyrule Warriors: Age of Calamity em suas mãos. Se quer dar uma pausa da história principal, você tem pequenas missões com modos diferentes de jogar. Desde a defesa de uma base, corridas contra o tempo, treinamento que te coloca contra um dos personagens jogáveis e até mesmo um boss rush com alguns dos inimigos mais conhecidos da franquia como o Lynel e o Hinox.
Ok, você é exigente e queria algo além disso? Não tem problema. Também dá para pilotar as Divine Beasts, as quatro feras mecânicas ancestrais que são verdadeiros tanques de guerra contra os vilões. Vah Rudania, Vah Naboris, Vah Medoh e Vah Ruta são jogáveis pela primeira vez e não fazem feio, contando com os movimentos que já foram utilizados contra Link em Breath of the Wild. Movendo-as em primeira pessoa, você inclusive pode usar o sensor giroscópico do console para dar ainda mais profundidade.
Essa diversidade de formas de jogar Hyrule Warriors: Age of Calamity permite que você não caia na repetição, o que é um grande alívio, já que era o meu maior medo quando peguei o jogo para esta crítica. O próprio Link tem um set inteiro de movimentos diferentes para cada arma obtida, por exemplo. Lança, espadas, armas de duas mãos, isso gera uma possibilidade muito maior de novos golpes e abre ainda mais o leque do gameplay que já é extenso.
Além disso, novas atividades pipocam aos montes pelo mapa de Hyrule, dando chances de você obter novos equipamentos, itens, habilidades, conseguir corações extras e até aumentar o seu nível. Às vezes as recompensas disso são ainda maiores do que as dos trechos principais, então se mantenha bem atento. Outro detalhe é que, com vários cenários por toda a extensão da região, você nem sente que está fora do ambiente de mundo aberto criado em Breath of the Wild. Ambos dividem essa atmosfera e isso é um diferencial gigantesco no título.
Como citei anteriormente, todos os elementos de The Legend of Zelda estão aqui. Ele só não acompanha o nome da franquia em seu título pela sua adaptação ao gênero musou e isso, sendo muito sincero, não é nada ruim. Diferente do primeiro título do spin-off, que era lotado de fanservice, esse está muito mais focado em trazer uma nova abordagem de tudo que amamos no Breath of the Wild. Não espero ver uma repetição disso tão cedo, mas é bom ver o quanto a Nintendo busca novos horizontes para as séries que tem em mãos.
Um Link ao passado
Hyrule Warriors: Age of Calamity traz o brilho e um pouco da vida nos tempos pacíficos da região antes da chegada do Calamity Ganon. Link está longe de ser o herói que conhecemos, vivendo como apenas um dos guardas reais que servem ao rei Rhoam e à princesa Zelda. Os campeões não passam de representantes de suas tribos, cada um ao seu jeito. Porém, um grande mal está à espreita e eles precisam preencher o seu papel na história.
Mas logo de cara, temos um grande impacto que é o pequeno Guardião. Na verdade, o simpático robôzinho viu todo o desastre e viajou no tempo, caindo diretamente nas mãos de Link e Zelda. Ou seja, nada é da forma como você espera e tudo que conhece pode mudar com esse novo personagem interagindo na história e tentando avisá-los das futuras consequências das suas escolhas. Essa camada inédita também traz um novo vilão para a história, que se une ao Clã Yiga para garantir o caos prometido.
E essa mudança de clima é mostrada logo de cara. Aqui não há espaço para meia história ou muitos mistérios. O destino deles já sabemos qual é. A sacada é compreender que isso pode ser alterado ou não conforme a história passa, com um balanceamento bem grande do que podemos encontrar. Durante uma enorme parcela do gameplay, você é levado a acreditar em ambas as hipóteses de vitória ou derrota e isso que move o grau de curiosidade dos fãs até o derradeiro final.
Permitindo uma profundidade ainda maior, é incrível ver como ainda tinha material a ser explorado e que nas mais de 100h de Breath of the Wild não cabiam. Interações inéditas entre os campeões, a participação ativa de Impa no crescimento da princesa Zelda como personagem, os dons de batalha adquiridos após anos de treinamento de Link e sua ascensão de guarda real para o herói da lenda. Tudo isso é incrível de se ver em Hyrule Warriors: Age of Calamity e guia toda a aventura.
E isso não serve apenas para benefício dos mocinhos não. Por exemplo, Revali em sua teimosia de não querer aceitar o convite de pilotar Vah Medoh para enfrentar Ganon, quase cria uma guerra entre os Ritos e os Hylians. Inclusive, ele é um dos chefões que você tem de enfrentar, com a ave reconhecendo as forças deles apenas perante sua própria derrota. E vou te contar, não é muito fácil enfrentar o campeão não.
Além disso, sendo sincero, muitas vezes você esquece que essa galera toda morreu ou foi desvalidada da batalha no suposto fim disso tudo. Como um belo anime shonen, a força da amizade entre eles, a jornada para vencerem cada obstáculo e os desafios faz com que torça bastante pelo sucesso de cada um naquilo, ainda mais vendo o quanto investem de corpo e alma para trazerem os sentimentos de cada personagem à tona.
Me pegando totalmente desprevenido nisso, que acreditava que Hyrule Warriors: Age of Calamity traria uma jornada rasa, confesso que tive de parar um minuto no meio dos combates insanos para admitir que ele será mais um jogo de sucesso da plataforma. Após pegar a Master Sword, eu fui para uma side quest bem nada a ver e veio uma onda gigantesca de inimigos. Eu fiz questão de me enfiar no meio de todos eles e deixar os inimigos chegarem bem perto.
Ali era o momento. Link respira fundo, a espada brilha, ele abre os olhos e tem um semblante sério, desferindo o golpe que abre um buraco de 5m entre eu e os inimigos que vinham atrás dos que estavam voando no meio do ar. A primeira vez que você faz isso, simplesmente pare por um segundo e observe a beleza da cena. Isso é arte no videogame. Isso é The Legend of Zelda, na sua forma mais pura e cheia de beleza. Podemos ter um PlayStation 5 e Xbox Series vindo aí com gráficos absurdamente insanos, mas isso que vi, meus amigos, é insubstituível.
Nenhum herói é perfeito
Arrepios à parte, a performance dele é muito importante de ser citada aqui. Ele possui o clássico problema do Switch de serrilhados quando o jogo está na dock e isso incomoda em alguns trechos, principalmente quando há uma queda de frames no momento que há muitos oponentes aparecendo ao mesmo tempo. Os dois, em conjuntos, mostram bastante o limite do Nintendo Switch e isso podia ter sido melhor trabalhado durante o desenvolvimento.
Uma atualização pode resolver isso? Acredito fielmente que sim, mas não podemos contar com o ovo na Cucco, não é? Por ser um erro frequente, recomendo que jogue no modo portátil que garantirá menos raiva durante estes momentos. Além disso, tanto os comandos do Joy-Con quanto o Pro Controller tiveram um bom retorno e mesmo que não goste muito dos pequenos controles, não deram dor de cabeça alguma enquanto testava e serviram muito bem à sua proposta.
Também temos os clássicos problemas com câmeras nos jogos 3D, que podem dificultar um pouco a vida do jogador. Algumas vezes parei atrás de inimigos e não conseguia ver nada do que estava acontecendo. Outras, o meu oponente simplesmente se tornava invisível e eu me perguntava como saberia o momento certo do ataque dele para a esquiva e contra-ataque. Sendo sincero, não sei qual das duas opções é a pior.
Como visto na demonstração que saiu no fim de outubro, Hyrule Warriors: Age of Calamity não é um jogo curto. A história principal não é tão longa quanto o original, mas se você investir seu tempo nas demais tarefas e obter o máximo que ele tem a oferecer, em um piscar de olhos vai estar completando dezenas de horas sem nem perceber.
A mixagem de som está nota 10, com a dublagem saindo num tom agradável, mesmo com a trilha-sonora rolando de fundo. As músicas, não preciso nem comentar, ainda são um show à parte e trazem versões reimaginadas dos clássicos e algumas aparecem até como uma bela referência. O pequeno Guardião, para mostrar à princesa Zelda que está ao lado deles, reproduz ao seu modo a Zelda’s Lullaby, de Ocarina of Time. Aquele pequeno momento representou a felicidade de um fã, parabéns para você Nintendo.
Há também uma galeria in-game que permite que veja todas as cutscenes, artes, toque as músicas e veja ainda mais elementos que estão inclusos em Hyrule Warriors: Age of Calamity. Esse recurso é bem legal para recapitular uma cena ou outra, que fazem mais sentido depois de ver após eventos que acontecem só mais para frente do jogo. Dá até para ver estatísticas gerais, como quanta grama cortou, quantos inimigos matou entre várias outras informações.
Vou ser sincero com vocês, você pode não dar bola para Breath of the Wild, o que seria um pecado, mas nesse spin-off temos uma verdadeira pérola no Nintendo Switch. Um jogo que, mesmo após o seu lançamento, representará um novo patamar para o gênero musou assim como o original representou para os games de mundo aberto que vemos por aí. A equipe da Koei Tecmo conseguiu unir esses dois mundos e criar uma versão completamente melhorada do que foi prometido inicialmente.
A cada diálogo, cena de combate, horda enfrentada e avanço que você realiza, dá para sentir o carinho e dedicação de todo o time de desenvolvimento com a franquia. Hyrule Warriors: Age of Calamity é um jogo obrigatório caso tenha se aventurado no game anterior ou se você curte guerras nesse estilo. Posso te garantir que não se arrependerá em momento algum e te deixará mais por dentro desse universo antes da tão esperada sequência, ainda sem data prevista para lançar.