Existem dois tipos de jogos, a meu ver, neste grande mercado que acompanhamos: aqueles que entregam exatamente o que suas premissas prometem e aqueles que destroem todas as suas expectativas. HOTEL BARCELONA é um exemplo excelente do segundo tipo. Criado pelas mentes de dois dos meus diretores favoritos, eu não sabia o que esperar desde o começo e admito que recebi muito mais do que aguardava.

Nascido da união criativa e bizarra de SUDA51 e Swery65, HOTEL BARCELONA é uma ode aos grandes clássicos de horror e aos jogos roguelite. Ambientado no hotel homônimo, a jovem Justine irá enfrentar inimigos que jamais imaginou, mesmo que sempre tenha tido a inusitada presença de alguém do outro lado. O HOTEL BARCELONA recebe o jogador de braços abertos para um mundo de absoluta violência.

Uma fusão exemplar

SUDA51 e Swery65 sempre me cativaram com suas obras, pois eles produzem o que eu gosto de chamar de “games com cara de videogame”. O que quero dizer com isso? São obras fictícias que parecem ter surgido dentro de outra obra fictícia, como um dos jogos que Mordecai e Rigby estariam jogando, sendo algo extremamente banal e exagerado. No More Heroes, Lollipop Chainsaw e Deadly Premonition se encaixam perfeitamente nesse quadro.

Hotel Barcelona

HOTEL BARCELONA se encaixa pois é tão absurdamente autorreferencial e referencial ao nosso mundo que corresponde exatamente ao que eu esperaria de um jogo criado por SUDA e Swery. Por um lado, você tem o visual e a ambientação aconchegante do hotel, que esconde inúmeros perigos, como a pacata cidade de Greenvale e seu hotel Great Deer Yard, escondendo as sombras sob tapetes empoeirados.

Por outro lado, você tem a doce Justine, amedrontada e acanhada, mas que se torna uma máquina mortífera quando permite que seu outro eu assuma o controle, banhando-se no sangue e nas tripas dos inimigos. O hotel, seus hóspedes, Justine e a região vão sendo moldados e deturpados com o passar do tempo, revelando a carne podre e fétida por debaixo da bela maquiagem que pinta o HOTEL BARCELONA como um destino dos sonhos.

Trazendo influências diversas de ambos os criadores e de inúmeros filmes de horror, HOTEL BARCELONA é uma pedida excelente para os fãs dos jogos citados e de grandes desafios, seja no modo normal ou no “bondage play”. Sem dúvida, é um ótimo lugar para se hospedar, especialmente para quem, como eu, passou anos de tortura e prazer habitando o TENGOKU da torre de Barbs em Let It Die.

Hotel Barcelona

Exatamente o que Doutor sugeriu

HOTEL BARCELONA abre com nossa heroína Justine e seu parceiro MAD FURY em viagem para o dito hotel. Ambos são agentes federais incumbidos da missão de capturar uma bruxa que habita a região. Um acidente ocorre por conta das “acompanhantes” de MAD FURY, que distraem Justine. Ela acaba desviando de um grupo de civis torturados, causando a morte de seu parceiro e das garotas.

No entanto, Justine sobrevive e acorda já no hotel, sem entender como. Logo somos apresentados ao seu espírito “caroneiro”: uma entidade que se considera um antigo Titã, uma força irrefreável de dor e prazer, chamado Dr. Carnival. Assim como Justine, ele também busca a queda da bruxa que controla o hotel e permite que psicopatas habitem suas dependências.

Ao explorar o hotel, Justine e Dr. Carnival encontrarão aliados, inimigos e obstáculos. Porém, o que realmente irá atrasá-los é a quantidade de mortes que esperam a heroína e, subsequentemente, o jogador. Essas mortes são extremamente necessárias para entender certas mecânicas, conhecer novos personagens e até mesmo gerar aliados com o retorno de uma mecânica vista em outro famoso indie.

Hotel Barcelona

Os segredos de HOTEL BARCELONA são muitos, mas, durante sua jornada por acampamentos, cozinhas e naves espaciais subterrâneas, Justine aprenderá mais sobre si mesma, sobre Dr. Carnival e sobre seu pai, que foi morto neste mesmo hotel. Tudo isso escrito com muito sangue, gravado a berros e congelado em pupilas estáticas.

Welcome to the HOTEL BARCELONA

Como o tom da descrição já deve ter deixado claro, não estamos falando de uma simples investigação, mas sim de uma missão de eliminação de alvos de alta periculosidade. Quando permite que seu alter ego assuma o controle, Justine se transforma em uma máquina de matar inabalável, eliminando qualquer tipo de obstáculo, independentemente de idade, estatura, planeta ou estado metafísico.

Sua jornada não será simples, e morrer é um quadro comum no jogo, o que torna cada tentativa um desafio. Por isso, manter um bom nível de sanguinolência é essencial. Dessa forma, Justine será capaz de coletar as quatro moedas do jogo: dinheiro, dentes, ossos e orelhas.

Hotel Barcelona

Com essas moedas de troca, Justine pode conversar com o espírito que habita o armário de seu quarto para expandir sua árvore de habilidades, tornando seus ataques mais dinâmicos e ganhando mais vida, esquivas e outros aprimoramentos. Também é possível melhorar suas armas brancas e de fogo com a guarda do hotel, podendo alternar entre facas, machados, revólveres, escopetas e lança-chamas.

No bar do hotel, é possível trocar orelhas por itens e outras moedas. Ali também se encontra um misterioso pinball e a opção de comprar tickets de reentrada, bilhetes especiais que permitem ao jogador enfrentar o chefe novamente após morrer, sem precisar percorrer todo o nível e arriscar chegar com a vida baixa.

Quem pode ser agora?

Citei anteriormente que HOTEL BARCELONA traz uma mecânica de outro indie marcante, sendo esta a de Super Meat Boy e seus fantasmas. Diferente do quadrado de carne, os fantasmas de Justine não são apenas reflexos de vidas passadas. Eles são forças de combate ativas que auxiliam o jogador pelo nível.

Hotel Barcelona

Quanto mais vezes você voltar a uma fase, mais fantasmas terá ao seu lado. Caso mude seu setup de itens a cada incursão, terá uma variedade ainda maior de aliados, o que facilita a navegação. Como o jogo é um roguelike, há diversos caminhos até o chefe, e sempre que se muda a rota escolhida, os fantasmas do caminho anterior são apagados. Pense e calcule os riscos.

Enquanto eles nos ajudam, há também os fantasmas que aparecem para nos atrasar: os doppelgangers. Estes são outros jogadores que invadem seu mundo em busca de moedas, bilhetes e do simples prazer de atormentar os mais fracos. Esteja sempre preparado para uma invasão, seja durante as fases ou até mesmo em lutas contra chefes.

Você pode dar sorte e encontrar um invasor fraco, mas o RNG de tempo e tamanho também influencia. Esse fator determina o clima e a altura de Justine no início de cada fase. Se ela estiver pequena, acredite, tudo será duas vezes mais difícil, enquanto uma Justine gigante torna as coisas muito mais fáceis.

Hotel Barcelona

Os prazeres do pecado

Justine e seu arsenal não possuem uma forma comum de aprimoramento de equipamento por assim dizer, afinal tudo muito fácil, não gera valor agregado. Apesar de comprar diferentes modelos de armas da guarda do hotel, é possível em certos níveis aleatórios, encontrar portas dimensionais que nos levarão ao cassino e nível bônus. O nível bônus é um desafio de movimentação brutal que garante prêmios únicos, enquanto o cassino permite que você aprimore sua arma.

O cassino é um local onde o jogador poderá abrir dois baús, um simples que pode dar tickets e dinheiro, enquanto o segundo, necessita de chaves que podem ser encontradas nos entalhos dos batentes das portas. Cada engaste possui um valor, com o verde recuperando 50% da vida do jogador, vermelho aumentando o banho de sangue e ataque, azul, aumentando a velocidade e os amarelos dando uma chave. Este baú com a chave pode dar muito mais dinheiro e tickets, além de skins raras.

Nele também é possível se encontrar o mestre das apostas, Frances o apostador. Ele sempre convida Justine para uma simples aposta de 13 dólares, onde o jogador deve escolher uma entre cinco cartas, caso acerte sua arma, seja ela de fogo ou branca, receberá um upgrade ou elemento aleatório. O que a torna mais poderosa e imprevisível, além de tornar cada run, como dito anteriormente algo totalmente inusitado.

Hotel Barcelona

Cada arma branca também concede a Dr.Carnival uma habilidade secreta diferente. No meio da tela durante a gameplay fora do hotel e em combate, há um crânio do Dr. Carnival no meio da HUD, sempre que lutamos e matamos inimigos ele se enche, de 0% até 100%. A cada 20% Justine recebe um bônus de ataque, velocidade e quantidade de sangue derramado a cada ataque, caso não se molhe o que lava o sangue, diminuindo ou apagando completamente o marcador, é possível se usar uma habilidade devastadora de Dr. Carnival!

Um loop de violência

SUDA e Swery adoram trabalhar o conceito de repetição, e em HOTEL BARCELONA não poderia ser diferente. O jogo, mesmo após finalizado, fará com que você retorne várias vezes para ver os diferentes finais e se desafiar contra os Chefes X. Cada chefão, como dito, é baseado em um clichê ou personagem clássico, como o rebatedor assassino do Acampamento Diamante.

O jogo te deixa bem livre para explorar e descobrir como tirar vantagem de suas ferramentas. O modo bondage, por exemplo, amarra Justine com desafios como não poder usar certas armas ou não poder tocar na água. Isso aumenta a dificuldade, mas concede recompensas que, de outra forma, dependeriam da sorte ou de métodos mais trabalhosos.

Hotel Barcelona

Outro segredo que o jogador pode descobrir por acaso é o da máquina de pinball do bar. Quando a vi, sabia que havia algo ali, mas não esperava o resultado de vencer seu desafio. Foi um choque divertido e inesperado que recompensa a curiosidade do jogador.

Mesmo sendo uma obra tão especial, admito que o maior problema de HOTEL BARCELONA se encontra no ato de forçar esse loop de repetição sobre o jogador, algo que nem todos os fãs de roguelite abraçam tão bem. O combate, às vezes, também não conecta ou é tão prazeroso quanto nos outros jogos de SUDA, sendo, em minha opinião, menos polido que o de Travis Strikes Again: No More Heroes.

Uma estadia sem fim

O estilo único de arte e escrita de ambos casou perfeitamente nesta obra, trazendo visuais impactantes, uma narrativa que vai sendo expandida de acordo com a curiosidade do jogador, fazendo com que ele converse e se torne um “amigo” dos habitantes e hospedes do hotel infernal! Uma experiência divertida e que pelas fortes referências irá agradar os mais diversos tipos de jogadores e fãs de filmes.

Hotel Barcelona

A trilha sonora do jogo também é excelente, contando com um time de peso de compositores lendários para dar vida as áreas do Hotel e suas dependências, trazendo nomes como Junya Nakano (Final Fantasy X, Final Fantasy IV: The After Years), Takahiro Izutani (Yakuza 2, Bayonetta, Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots), Shota Nakama (Founder of the Video Game Orchestra), Takako Yumishima,dob a direção de TECHNOuchi (Dark Souls, Metal Gear 2: Solid Snake, Ace Combat X: Skies of Deception). Admito que estou com o bolso coçando para comprar a versão física da OST!

Hotel Barcelona é uma estadia bizarramente acolhedora e desafiadora para aqueles que estão em busca de um desafio realmente tortuoso. Trazendo o humor sádico e soturno de ambos os produtores e seus trejeitos bizarros, HOTEL BARCELONA é mais uma das excelentes joias que 2025 me trouxe, espero ver você também pelos corredores e saguões encharcados de sangue do HOTEL BARCELONA.

85 %


Prós:

🔺Excelente narrativa, que traz o melhor de cada diretor
🔺Gameplay desafiador e cativante, que influencia o alto valor de replay
🔺Direção de arte e trilha sonora de ponta!

Contras:

🔻Combate flutuante e mecânica de movimentação um tanto quanto travada em certas partes
🔻O loop pode acabar se tornando maçante caso o jogador não se arrisque em mudar

Ficha Técnica:

Lançamento: 26/09/2025
Desenvolvedora: White Owls Inc.
Distribuidora: CULT Games
Plataformas: PC, Playstation 5, Xbox Series
Testado no: PC

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