Review – Hirogami

Hirogami foi apresentado há pouco tempo, e é inegável que seu estilo artístico chama a atenção desde o primeiro momento. Ver personagens de origami se desdobrando em animais com diferentes habilidades, em um mundo que se assemelha a um diorama, é encantador e desperta a curiosidade sobre o que mais essa arte pode oferecer.

Produzido por uma pequena equipe dentro da Bandai Namco, este é um jogo de plataforma 3D que poderia passar despercebido em meio a tantos lançamentos, mas seria um grande erro ignorá-lo. Hirogami brinca com o visual inspirado na arte japonesa do origami para trazer mecânicas criativas e promover uma experiência charmosa, simples à primeira vista, mas digna de um bom jogo de plataformas.

Dobra e desdobra

As folhas que moldam este mundo de papel estão sofrendo uma ameaça tecnológica chamada Flagelo. As falhas e interferências criaram espinhos por todas as partes, bloquearam os santuários da Garça Celestial, corromperam os habitantes e ameaçam destruir este mundo artístico. É com Hiro, um artesão das dobraduras, que você viajará por diversos lugares para restaurar santuários e libertar todos desse mal.

Hiro, apesar de ser um artesão talentoso, está longe de ser um guerreiro. Inseguro, ele mesmo questiona se merece a confiança que recebeu. Mas a jornada vai mostrar justamente o contrário: a cada transformação e habilidade conquistada, descobrimos que ele é muito mais forte do que acredita.

Hirogami permite que você se transforme em quatro animais de origami, cada um com ataques e habilidades distintas. O tatu possibilita rolar rapidamente, destruindo objetos e inimigos ao redor. Com o tempo, novas habilidades são desbloqueadas para suas transformações, como salto rolando e até rolar em chamas. A rã pode cuspir uma gosma que desacelera inimigos e obstáculos, além de dar saltos mais altos e atacar inimigos ao pular sobre suas cabeças.

Já o gorila é capaz de destruir objetos resistentes, arrastar caixas, escalar e pular entre cipós. Não chega a ser uma experiência como em Donkey Kong Bananza, mas é realmente satisfatório ver os detalhes do origami e a facilidade em alternar entre transformações. Por fim, você também pode se tornar um pássaro, que ao acelerar o voo assume a forma de um aviãozinho de papel, somente este último animal aparece em momentos específicos. Ele introduz mecânicas simples de “navinha” 3D, com direito a tiros, desvios e coleta de itens.

Além disso, Hiro também pode se desdobrar em uma folha de papel para passar por brechas ou planar entre plataformas, aproveitando correntes de ar e vapores. É uma mecânica simples, mas extremamente funcional – em muitos momentos, enquanto planava, era inevitável apenas contemplar a arte e o cenário.

O vrap do Leque de Hirogami

Na forma original, Hiro também é versátil, podendo usar seu leque sagrado para atacar inimigos, criar rajadas de vento ou realizar uma dança sagrada que, associada aos papéis coletados, restaura estruturas e santuários. Com o tempo o Leque também ganha habilidades mais poderosas. – pode até ajudar nos próximos shows no Rio de Janeiro.

A alternância entre as transformações é ágil e foi pensada para testar sua criatividade e agilidade em puzzles. Muitos desafios exigem combinações rápidas de dobraduras para superar obstáculos, proporcionando momentos divertidos que mostram como as mecânicas se encaixam bem nas plataformas.

Embora Hirogami não seja um jogo difícil, há desafios e saltos que vão pedir uma certa atenção, em geral as fases são equilibradas e sempre muito divertidas. Com tantos upgrades, não vai faltar motivos para rejogar os níveis: você vai querer revisitar áreas assim que desbloquear novas habilidades, lembrando de locais onde poderia utilizá-las, por exemplo.

Cada fase apresenta seis objetivos diferentes que podem incluir coletar papéis, restaurar origamis corrompidos, concluir o nível sem receber danos ou dentro de um tempo limite. A recompensa são as garças douradas, além de itens que permitem desbloquear fases e forjar ornamentos para melhorar a saúde e a força de Hiro.

Além disso, há muitas passagens secretas com baús que guardam relíquias para diagramas de melhorias, artes e músicas na galeria do jogo. Mas não basta encontrá-los, você precisará coletar papéis especiais para liberá-los por completo, então não deixe de juntar todas as folhas e ficar atento as bifurcações.

Uma obra artesanal

Vale destacar que este projeto nasceu de uma iniciativa interna da Bandai Namco que permite que pequenas equipes desenvolvam seus próprios jogos. Assim, profissionais que antes trabalhavam em títulos como Tekken e Ace Combat se juntaram exclusivamente para criar Hirogami. O resultado é um jogo que, mesmo menor em escopo, se destaca pela criatividade e carinho em cada detalhe.

A direção de arte é um dos pontos altos: as animações em stop-motion são cheias de personalidade, e a trilha sonora, leve e relaxante, reforça a atmosfera inspirada na cultura japonesa. Em alguns momentos pode soar repetitivo, mas no geral sustenta bem a experiência e combina com a contemplação visual, quase como uma poesia em forma de jogo.

Apesar do capricho artístico, os inimigos não impressionam tanto já que em sua maioria são esferas com variações (espinhos, escudos, projéteis), além de habitantes corrompidos. Também notei pequenos travamentos e falhas de colisão, que às vezes até permitiam atalhos indesejados. Foram situações pontuais, mas vale mencionar.

Hirogami chama atenção pelo seu visual artesanal, suas transformações criativas e pelo charme de sua simplicidade. Talvez a história e a variedade de inimigos não sejam memoráveis, mas a jornada de Hiro é cheia de momentos encantadores. Ele pode não acreditar em si mesmo, mas sua aventura prova o contrário: Hirogami é uma obra de arte que ainda consegue oferecer desafios divertidos em suas plataformas de papel e por isso, merece ser apreciada.