Quando vi os primeiros trailers de Hidden Dragon Legend, a minha ansiedade e expectativa só aumentavam pelo lançamento de algo que poderia ser parecido com Assassin’s Creed China ou até mesmo uma versão 2D de Tenchu para a nova geração. Assim como no universo dos animês, em que as produções chinesas estão ganhando mais espaço nos últimos anos, os consoles não tardariam em seguir pelo mesmo caminho. A Oasis Games impressionou com os primeiros trailers do jogo e prometeu entregar uma experiência que nos levasse para a China Antiga em um jogo 2.5D e com elementos que lembram os antigos jogos side-scrolling. O que nós não esperávamos é que mesmo depois de já ter sido alavancada com um bom início de carreira, com jogos como Naruto Online e outros recentes para PS4 e PSVR, a jornada do jovem Lu não parece ser das mais fáceis, muito menos das mais agradáveis.
É inegável a qualidade do trabalho visual, porém a velha discussão sobre um game não se preocupar somente com os gráficos e, sim, se comprometer com uma entrega total, não foi muito bem balanceada pelo estúdio. A busca por algo que proporcione uma experiência gratificante, com história e jogabilidade agradáveis para prender o jogador do início ao fim, acaba se perdendo na ambição desse título indie. Por maior que seja o esforço e a competência, o trabalho da desenvolvedora chinesa acabou esbarrando em questões básicas que podem comprometer a sua diversão.
Kung Pow!
Sabe aqueles filmes trash dos anos 90, que satirizavam outras obras cinematográfica? Kung Pow foi um desses que fez sucesso entre os mais jovens por ser uma versão galhofa de filmes chineses de artes marciais. Hidden Dragon Legend segue esse mesmo caminho quando analisamos sua história e ambição em construir seu próprio caminho narrativo. Nossa jornada começa com Lu, um jovem que mesmo sofrendo de amnésia consegue escapar do cativeiro em que era mantido, junto de outros guerreiros, para experimentos realizados pela “misteriosa e sombria” Corporação. Sua fuga traz consigo morte e destruição por onde passa, já que você passa a ser perseguido pelos algozes das sombras sob o comando de Dark Raven. A trama principal se desenrola com poucas surpresas, com Lu se esforçando para recuperar a memória, descobrir o motivo de estar sendo perseguido e o que é o estranho poder que existe dentro dele.
Somente com esse plot inicial já dá pra notar o estilo de jogo dos anos 90, e é exatamente isso que você vai encontrar. Uma jogabilidade simples demais com fórmulas existentes desde a nossa infância. É quase que uma versão dos clássicos Double Dragon e Street of Rage, em que você anda um pouco, bate desenfreadamente nos inimigos e segue assim até o chefão. Mesmo com uma grande diversidade de inimigos, você ainda tem aquele estereótipo de malvadões que morrem apenas com poucos golpes ou até os tanques, que exigem mais habilidade para derrotá-los.
Praticamente como se voltássemos para o PS1, mas com os gráficos da nova geração, o jogo sofre com a física que parece não existir a cada pulo ou o hit box do seu personagem, que parece não estar devidamente calibrado; basta um pulo mais ousado para tentar escapar de um ataque ou objeto e com certeza você morrerá na primeira vez. Seus pulos não tem a trajetória correta e esperada, fazendo com que muitos desafios de plataforma se tornem insuportáveis. O level design em várias etapas sugerem um caminho, mas que não podem ser alcançados e levarão o seu personagem à morte até que você perceba que pode seguir em frente sem optar pelo elemento na tela que está brilhando ou mais próximo de você.
E já que estamos falando de um título que parece estar perdido no tempo, a história pode até se esforçar para agradar, realmente tendo seus pontos altos, mas a movimentação bizarra e quadrada dos personagens durante as sequências animadas com a dublagem americana, que consegue ser pior que a do primeiro Resident Evil, pioram ainda mais a percepção do possível potencial para um bom jogo. Até mesmo a escolha de nomes para outros personagens, como Corvo Sombrio e Fantasma Branco, de longe surge como mais uma das escolhas equivocadas para esse lançamento. Acho que nem um filme de baixo orçamento chinês, com seus vários cabos pelo cenário, conseguem frustrar quem tiver a oportunidade de acompanhar essa pérola.
Anda, bate e corta
Contrapondo o estranho estilo usado nas sequências animadas, a movimentação de Lu durante os combos e execução dos golpes é bem feita. Lembra um pouco jogos como Strider, que possui cuidado com o uso da espada em batalhas, além do cuidado com a movimentação que a Capcom teve nos mais recentes jogos da franquia Street Fighter, retratando muito bem os golpes de kung-fu. O único problema é que a movimentação bem feita deixa de existir quando a Inteligência Artificial dos inimigos é muito fraca e você pode simplesmente atacá-los sem parar, dependendo da sequência de golpes que escolher. Por exemplo: basta jogar o inimigo pra cima e terminar o combo com ataque contra o solo, repetindo essa sequência até ele morrer. Contra um chefe ou algum inimigo tanque, basta trocar essa estratégia para o uso da esquiva, assim você atacará com mínimas chances de sofrer um golpe.
Todas essas influências são tão fortes que até mesmo os estilos de cenários você reconhecerá. Fases no bambuzal de Shinobi, o elevador de Street of Rage, cidades genéricas como em Double Dragon e um chefão maior que tudo para ter suas mãos e cabeça golpeados, como na maioria dos jogos desse gênero. Você reconhecerá tudo facilmente, até mesmo por não ter uma trilha sonora marcante e que consiga criar o seu próprio universo. No fim, tudo segue uma fórmula genérica, como se um beat ‘em up possuísse uma “skin oriental” para aplicar as costumeiras características dos jogos orientais. Tem som de flauta de bambu, tambores e cordas, talvez sanxian, acompanhando o progresso de Lu, mas nada que vá te surpreender.
O visual dos heróis e inimigos são criativos e belos, resgatando elementos típicos e clássicos da cultura oriental. Óbvio que os estereótipos estão em todos os locais, com os personagens que atuam como figurantes de uma sequência com David Carradine ou como se fossem inspirados em Liu Kang. O que não combina com o visual é a velocidade como se movimentam ou atacam, retomando os problemas com a física do jogo. Outro detalhe que irrita são os combates desbalanceados contra os chefões, que podem frustrar bastante ao final de cada fase.
Sem tigre e nem dragão
Ao final de Hidden Dragon Legend, com certas revelações não tão inesperadas assim, a sensação é que tudo é muito genérico. Em um ano com Nioh, Aragami e Shadow Tactics: Blades of the Shogun, entre outros exemplos com temática oriental, esse é um dos lançamentos mais fracos.
Hidden Dragon Legend é quase como se estivéssemos esperando por um Tigre e o Dragão e recebêssemos uma adaptação ocidental que apresentasse soluções fracas para os principais elementos do filme. A diversão fica mesmo para a ação desenfreada, sem exigência de qualquer habilidade ou atenção com a narrativa. É um jogo completo dentro de sua simplicidade, mas longe de fazer a diferença neste gênero.